*** Jornal O Globo, Segundo Caderno, dia 23/07/2009 pag.10
Especialista em jovens e, agora, em vampiros
Em meio ao lançamento do DVD de ‘Crepúsculo’, Catherine Hardwicke fala do sucesso da série e de seus planos
André Miranda
Em 2008, três mulheres formaram a santíssima trindade para os fãs do vampiro Edward e da humana BeIla, o casal mais famoso da cultura pop contemporânea. A “mãe” foi a escritora Stephenie Meyer, a americana mórmon que criou a envolvente trama da série de livros “Crepúsculo”, cujo quarto e último volume, “Amanhecer”, acaba de ser lançado no Brasil pela editora Intrínseca e já ocupa o primeiro lugar na lista dos mais vendidos. A “filha” foi a jovem Kristen Stewart, a atriz que deu vida à BeIla no filme “Crepúsculo”, um sucesso de bilheteria que chega agora ao formato de DVD, via Paris Filmes, e cuja continuação, “Lua nova”, está programada para estrear em novembro. Já o “espírito santo” foi justamente aquela responsável por fazer com que as outras duas se encontrassem com harmonia: a cineasta Catherine Hardwicke.
– Quando a gente começou a preparar o projeto, “Crepúsculo” ainda não era um estouro. Nem sabíamos se o filme iria dar certo – contou Catherine, por telefone, ao GLOBO.
“Esse jogo de paquera é muito excitante”
O filme não apenas deu certo, como ajudou a espalhar pelo mundo a fama dos livros de Stephenie. A franquia “Crepúsculo” se tornou uma sensação ao estilo de Harry Potter, em que personagens comuns se veem inseridos num ambiente de fantasia. Provavelmente todo mundo já conhece o mote da trama, mas não custa explicar de novo: uma estudante e um vampiro se apaixonam e ficam naquele reme-reme típico de adolescentes para saber se uma telação tão perigosa pode ir adiante.
Mas isso foi apenas no primeiro livro da série. Depois, Edward disputou o amor de Bella com um lobisomem, eles enfrentaram um bando de vampiros malvados (parecidos com aqueles dos filmes do John Carpenter), as sociedades humanas e vampíricas foram se acostumando com a ideia da união de dois de seus filhos, até chegar ao desfecho da série, nas quase 600 páginas de “Amanhecer”.
– O livro tem aquele tipo de rapaz perfeito por quem todas as garotas se apaixonam. E ele acaba se apaixonando por uma garota normal. As meninas terminam de ler e dizem: “Poderia ser eu”. É a fantasia de se envolver com o cara mais bonito do mundo. E a história é construída em cima de sugestões. Em vez de haver sexo, a dúvida é saber se eles vão se beijar ou não. Esse jogo de paquera é muito excitante. E tudo isso ocorre dentro de um ambiente de perigo – diz Catherine.
A cineasta começou a ter contato com o universo de “Crepúsculo” em janeiro de 2007, quando recebeu um roteiro baseado no primeiro livro de Stephenie, publicado um ano e meio antes. Catherine odiou o scripl, mas acabou se animando para ler o livro. A história de Bella e Edward a conquistou de tal forma que ela procurou o Summit, estúdio que havia comprado os direitos de filmagem da série, para sugerir que o roteiro fosse reescrito.
– Aquele primeiro roteiro que eles estavam desenvolvendo se parecia mais com “As panteras”. Havia fel skies, viagens para vários lugares, agentes do FBl . BeIla era uma aspirante a estrela do colégio, em vez de uma garota normal. Era muito diferente do livro – diz.
Catherine sabia bem do que estava falando. A faixa etária da maioria dos personagens de “Crepúsculo” é a especialidade de uma cineasta que se destacou por fazer filmes com um toque autoral visando um público que Hollywood normalmente considera acéfalo: adolescentes e jovens adultos. São dela, por exemplo, os bem-sucedidos “Aos treze” (2003) e “Os reis de Dogtown” (2005).
– Quando eu faço filmes sobre jovens, eu quero que eles sejam autênticos e reais. É preciso ouvi-l os, para entender suas vidas, saber o que eles gostam e como se sentem explica ela. – Eu amo os anos da adolescência. É a época em que ocorrem as mudanças mais loucas e radicais da vida de alguém. De repente você ganha uma barba, ganha seios, você beija uma garota, beija um cara, você pode dirigir um carro, pode ficar bêbado. São muitas possibilidades.
Outra diferença no trabalho de Catherine é seu envolvimento com os projetos. Isso fica claro no DVD de “Crepúsculo” que, entre os extras, traz videoclipes dirigidos por ela com os atores. A diretora também usou as informações que ela própria juntava num diário durante a produção para lançar um lindíssimo livro, em que a elaboração do filme é analisada – a obra será publicada no Brasil ainda este ano, novamente pela editora Intrínseca.
Ainda por conta de seu envolvimento com o trabalho é que Catherine não seguiu em frente como diretora do segundo filme da série. Ela própria explica o que motivou o estúdio a chamar Chris Weitz para assumir “Lua nova”:- Eu tive quase um ano e meio para fazer o “Crepúsculo”. Mas o pessoal do estúdio me disse que o lançamento em 21 de novembro de 2008 havia sido tão bom que eles queriam repetir a mesma data em 2009. Só que assim eu teria menos tempo, seriam apenas dez semanas do fim da turnê de lançamento de um até o início das filmagens do outro. Para topar fazer um segundo filme, eu queria que o resultado fosse superior ao primeiro, não queria fazer de qualquer maneira. Então achei melhor deixar outra pessoa tentar – diz ela, antes de revelar que assistiu ao trailer de “Lua nova”, que já circula na internet. – O que eu achei dele? Hum… Sem comentários.
Próximo trabalho será adaptação de “HamIet”
Ter deixado “Crepúsculo” para trás, porém, não significa que Catherine não quer mais saber de obras literárias com elementos fantásticos. Evitando uma comparação de qualidade que seria ingrata para Stephenie Meyer, a diretora se prepara para dirigir uma adaptação contemporânea de “Hamlet”, de WiIliam Shakespeare, com o jovem Emile Hirsch no papel título.- Teremos os diálogos originais de Shakespeare, mas reduzidos. Vai funcionar assim: quatro dias depois que o pai de Hamlet morre, oito pessoas estarão mortas. Na original, oito pessoas também morrem. É um thriller psicológico: o pai morre, aí aparece um fantasma que assombra Hamlet para que ele assassine o tio. E assustador. Vamos usar também muitas músicas – diz ela.
O GLOBO NA INTERNET – video – Assista ao trailer de “Lua nova”: oglobo.com.br/cultura
Os melhores filmes de Catherine Hardwicke são "Aos Treze" e "Os Reis de Dogtown".
"Hamlet" é bom, mas a última versão de filme adaptado de Shakespeare que eu vi foi capenga: "Dez Coisas que eu Odeio em Você". Veremos se esse presta.
aw, bem, eu gosto de "Dez coisas que eu odeio em você" – é razoável para um filme destinado para uma turma de adolescentes que NUNCA ouviu falar em Shakespeare e muito menos em A Megera Domada. E tem o Heath Ledger cantando "Can't take my eyes of you". Não é tão ruim assim. Existe coisa pior… Muito pior…