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*** Deu no site: Isabel Allende e a memória feminina

Ciao!!!

Ministério da Saúde adverte: férias causam aumento de posts no LdM! (Ainda mais depois de frustrações esportivas causadas pela Argentina… Acho que vou colocar o Basquete na lista onde está o Vôlei Feminino “melhor não assistir aos jogos. Evita sofrimentos.”…)

Indo ao que interessa: vi o link do texto Isabel Allendre e a Memória Feminina – aqui –  no twitter da Editora Bertrand.  Irei reproduzir o texto aqui (mas vale visitar o link porque tem um video no final)

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Isabel Allende e a memória feminina

Por Bruno Dorigatti

Bem humorada e espirituosa, a escritora chilena Isabel Allende participou de uma das mesas mais procuradas na última Festa Literária Internacional deParaty (Flip). Entrevistada pela jornalista Humberto Werneck, a escritora que se tornou amplamente conhecida com A casa de espíritos (Bertrand Brasil), publicada em 1982 e que evoca as memórias da família através das cartas para seu avô no Chile de Pinochet, Allende falou que, apesar de sempre ser uma alegria quando escreve, mesmo coisas pesadas, nunca é fácil. “Não me sinto segura, é um trabalho solitário, inseguro, cheio de dúvidas. E fica cada vez mais difícil”.

Jornalista na juventude, Allende disse que a profissão lhe ajudou muito e ainda ajuda a usar a linguagem de forma concisa, eficaz e eficiente. “Os escritores esquecem os leitores, escrevem para si, os amigos, críticos. Eu não, talvez por isso seja tão lida”, cutuca os colegas. E é verdade. Livros como Paula (Bertrand Brasil, 1994), inspirado em sua filha já falecida, e a estréia acima mencionada, que ganhou adaptação de Hollywood, ajudaram a autora a vender 56 milhões de exemplares em 30 idiomas. Em Paraty, ela lançou seu décimo-oitavo livro, A ilha sob o mar (Bertrand Brasil), que continua a história do anterior, A soma dos dias, lançado em 2007 e conta a história da escrava Zarifé, haitiana que migra para Nova Orleans. Livro mais vendido durante o evento e que tomou quatro anos entre a pesquisa e a escrita, A ilha sob o mar já galga as listas dos mais vendidos em todo o país.

Péssima jornalista, Isabel Allende mentia em seus textos o tempo todo, ela diz. “Na literatura isso não é um defeito, ela é feita de mentira atrás de mentira”. Foi Pablo Neruda quem lhe sugeriu a literatura. Um mês antes de morrer, o poeta chileno recebeu a jornalista Allende, mas não lhe concedeu a entrevista. Enrolou, mostrou sua coleção de garrafas vazias, entre outros entulhos que guardava em casa, e se negava a começar a entrevista. Quando Allende o questionou, ele disse que não concederia uma entrevista a pior jornalista chilena. E sugeriu: “Isabel, por que não passas à literatura?” O poeta chileno morreria um mês depois deste encontro, 12 dias após o golpe militar que tirou Salvador Allende da presidência do Chile, no fatídico 11 de setembro de 1973.

Allende aceitou a sugestão de Neruda e, refugiada na Venezuela, em 1975 começou a escrever A casa dos espíritos, que seria lançada somente em 1981. “Foi uma busca de recuperar as memórias, minhas e da família. Se não tivesse saído do Chile em 1975 talvez não tivesse virado escritora.” Como exemplo de escritoras, Allende disse ter como referência as inglesas. “As mortas, que haviam se suicidado, feias”, explicou, evocando nomes como Virginia Woolf.

Sobre sua família, Isabel falou das cartas que troca com a mãe desde os 15 anos de idade. Hoje com 90 anos, a matriarca Francisca, além das cartas, que não são mais diárias, dialoga com a filha através do Skype, programa que permite videoconferências através da internet. “Tenho um acordo com minha mãe, de que ninguém nunca lerá estas cartas. Ele escreve a mão, em um espanhol literário, umas três, quatro páginas antes de me enviar. Antes, me escrevia todos os dias. E ela só escreve porque sabe que ninguém lerá, são coisas privadas, falamos muito mal dos outros”, fala, não sem ironia.

O parentesco com Salvador Allende – o presidente socialista que se suicidou quando o Palácio de La Moneda foi bombardeado e invado no golpe militar perpetrado por Pinochet, em 1973 – vem do lado paterno. Seu pai, Tomás Allende, era primo do presidente. Atuava como embaixador no Peru quando Isabel nasceu, em 1942. E logo depois, abandou a família, de maneira um tanto misteriosa. Isabel acredita que ele tenha cometido algo que o envergonhou profundamente. A mãe voltou ao Chile em 1953, com seus três filhos, casou-se novamente e se mudou para a Bolívia. Começava aí o périplo de Isabel, que, além do país andino, morou também no Líbano, antes de retornar ao Chile. O pai, ela só iria conhecer morto, quando foi chamada para reconhecer o corpo de um parente que tinha o mesmo nome. Foi seu padrasto quem lhe revelou que se tratava de Tomás, seu pai. Com histórias tão singulares em casa, a escritora acabou por transbordá-las para sua literatura, permeada pela memória e pela autobiografia, além da força e do caráter de suas personagens femininas. Tudo isso está presente em A ilha sob o mar.

No enredo, ambientado no final do século XVIII na ilha de Santo Domingo – hoje dividida entre o Haiti e a República Dominicana –, a escrava Zarité é comprada para servir a Eugene, convalescente esposa do senhor de engenho Valmorain, com quem acaba se envolvendo. Ela passa a chefiar os empregados e escravos domésticos, em um momento em que as tensões aumentam com o número cada vez maior de escravos fugidios que se organizam para tentar desestruturar as oligarquias produtoras e exportadoras de cana-de-açúcar. O livro intercala capítulos memorialísticos onde Zarité recorda de sua juventude como escrava com outros onde o narrador relata os acontecimentos e conflitos no momento quando eclode a tensão que acabou por tornar a ilha o primeiro local onde a revolução escrava vingou na América Latina. Allende fala do passado, mas procura refletir o presente. Segundo a escritora, em entrevista à revista Época, existem atualmente no planeta 27 milhões de pessoas escravas e é preciso denunciar, abordar isso. “O que me fascinou nesse livro foi a relação do poder com a impunidade. O amo tinha um poder absoluto, de vida ou morte. Podia violar as mulheres, porque a violência contra uma mulher de cor, escrava ou livre, não era considerada estupro. A lei só defendia as mulheres brancas. Essa relação de poder absoluto não ocorre só na escravidão. Também existe entre os militares. […] Nas ditaduras, a polícia pode prender, matar e torturar alguém, como ocorreu no Chile”, disse Allende à revista, voltando ao tema sempre recorrente em suas obras. Morando na Califórnia há mais de 20 anos, a escritora não esquece o seu Chile natal e o passado tenebroso durante a ditadura de Pinochet. Pelo contrário, usa sua literatura para discutir esse legado obscuro e defender um feminismo que não abdica dos homens, mas se pretende sobretudo um “feminismo como solidariedade feminina”, para ficarmos com a definição da própria Isabel Allende.

4 Comentários

  1. Beta

    Ciao, Sheyla!

    Menina, vivendo e aprendendo. Pode procurar o "A Casa dos Espíritos" porque se você gostou do filme, o livro é disparado melhor!!!

    Bacci!!!

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