Minha irmã comprou este livro e me emprestou (prometi devolver antes da Semana Santa). Pelo que já olhei, parece bastante interessante… ^^
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Fonte: Estado de Minas
Na linha de frente
Livros de Robert Capa lançados no Brasil recuperam a contribuição de um dos mais importantes fotojornalistas do século 20. Acervo está preservado no ICP, em Nova York
Mariana Peixoto
Robert Capa nasceu duas vezes. A primeira, em 1913, na Hungria, foi a oficial. Mas foi a segunda, duas décadas mais tarde, a definitiva. Em 1934, Endre Ernõ Friedmann, que assinava Andre Friedman, já longe da Budapeste natal, conheceu a refugiada judia alemã Gerda Taro. Juntos, em Paris, os dois criaram Robert Capa, famoso fotógrafo norte-americano. A lente de Capa era certeira, o que só veio a ser comprovado a partir de sua mais célebre imagem (em setembro de 1936), do momento exato em que um soldado espanhol recebeu o tiro fatal durante a Guerra Civil Espanhola. A imagem (conhecida pelo nome de Falling soldier) teve sua autenticidade contestada na década passada, em caso mais tarde decidido a favor de Capa. Tanto por isso, sua biografia é cheia de momentos dúbios.
É isso que torna a leitura de Ligeiramente fora de foco ainda mais interessante. Livro de memórias do fotojornalista que sempre quis ser escritor, foi publicado originalmente em 1947. Retrata o período de 1942 e 1945, quando atuou como correspondente da Segunda Guerra Mundial para a revista Life e outras publicações. Somente agora ganha edição brasileira, pela Cosac Naify, com introdução de Richard Whelan, biógrafo do fotógrafo, e prefácio de Cornell, irmão caçula de Capa. Aproveitando a edição, a Cosac ainda traz, com novo projeto gráfico, Um diário russo (que havia publicado anteriormente em 2003), com texto de John Steinbeck e fotografias de Capa, sobre as andanças da dupla de amigos pela União Soviética em 1947. Capa viveu pouco. Foi morto aos 40 anos depois de pisar numa mina na Indochina. No entanto, como suas memórias revelam, viveu muito intensamente.
Grande fotógrafo, era também um grande contador de histórias. Para as memórias, permite-se várias liberdades, que acabam romantizando a narrativa. “Capa não via nenhuma razão de proibir alguns enfeites para tornar uma boa história ainda melhor, o que quer dizer mais divertida, geralmente à custa de si mesmo”, escreve Whelan. Essa autoironia é posta em destaque por mais de uma vez em Ligeiramente fora de foco. Em Argel, em 1943, ele acabou se tornando o fotografado já que, se recusando a ir a algum banheiro, foi para o meio de cactos africanos. Não leu uma placa que, em alemão, anunciava: “Atenção! Minas!” Teve que ser retirado do local com as calças arriadas. “Horas depois, meu motorista voltou com um esquadrão antiminas e um fotógrafo da Life… Ele contou que nosso ataque havia sido suspenso e que aquela ia ser, sem dúvida, a foto mais interessante do dia”, relembra, sem medo de se expor.
Bebedeira e sorte
Capa também admite as várias mentiras contadas durante a guerra. Conseguiu embarcar dos Estados Unidos para a Europa depois de uma série de invenções, que incluiu uma bebedeira e um golpe de sorte, que envolveram sua documentação. No navio que fez o percurso, foi tratado com todas as honras pelo comandante que o chamava de Frank Capra. “Não tive coragem de dizer que ele pronunciava errado meu nome, que eu não era o famoso diretor de cinema”, admite. Ainda que o conflito na Europa seja o pano de fundo (o volume é ilustrado com várias fotos da guerra), a narrativa ganha ares folhetinescos com a descrição da paixão vivida pelo fotógrafo e a jovem Elaine, que por causa de uma cabeleira ruiva ele logo apelidou de Pinky. Em dado momento, o correspondente só pensa numa maneira de aportar na Inglaterra para ver a namorada. Esse tipo de passagem dá leveza à narrativa, cor num universo tomado, na época, pelo preto e branco.
LIGEIRAMENTE FORA DE FOCO
De Robert Capa, Cosac Naify, 296 páginas, R$ 60.
UM DIÁRIO RUSSO
De Robert Capa e John Steinbeck, Cosac Naify, 328 páginas, R$ 70.
Entrevista/Cynthia Young
“Capa é fonte de inspiração”
Em 1974, Cornell Capa (1918-2008), também fotógrafo da Life e da agência Magnum (criada por Robert e Henri Cartier-Bresson), fundou o International Center of Photography, em Nova York. A intenção inicial era guardar o acervo do irmão mais velho, que hoje conta com 10 mil imagens, entre fotografias, negativos, slides, manuscritos etc. Lá ainda estão reunidos trabalhos de outros nomes fundamentais da fotografia, como Cartier-Bresson e Robert Frank. Curadora-assistente do Arquivo Robert Capa, Cynthia Young fala em entrevista ao Estado de Minas sobre o trabalho desenvolvido pelo ICP.
Entre tantos momentos importantes, qual você considera o mais importante da carreira de Capa?
A Guerra Civil Espanhola foi certamente o período mais formativo da carreira dele. Foi a época em que conseguiu colocar seu nome como o fotógrafo que podia trazer a primeira gama de fotos de histórias realmente quentes. Além disso, os editores internacionais o saudaram como o grande fotojornalista daquele tempo.
Há novidades sobre o acervo de Robert Capa no International Center of Photography?
Recentemente, recebemos negativos da Guerra Civil Espanhola, perdidos desde 1939, que foram encontrados na Cidade do México. O material também inclui negativos da companheira de Capa, Gerda Taro, e do amigo Chim (David Seymour). A Pasta Mexicana é o nome deste material. As imagens mais conhecidas dele foram reproduzidas em vários livros e fizeram parte de muitas exposições, mas existem também algumas pequenas fotografias. O ICP está trabalhando para digitalizar todo o material, que ficará disponível on-line.
Você poderia apontar as diferenças entre dois conflitos que se tornaram clássicos de Capa: a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial?
O que é mais impressionante entre as duas séries não são as fotografias especificamente, mas os soldados. As duas guerras foram travadas por exércitos muito diferentes, e tiveram resultados também diferentes. Capa foi um fotógrafo oficial das forças aliadas e da revista Life, mais velho e mais estabelecido do que era na Espanha. Diante disso, você pode notar que há um outro nível de confiança na maneira com que ele se aproximou dos temas das fotos da Segunda Guerra.
Qual é a importância de um clássico da fotografia como Robert Capa na era em que todo mundo usa Flickr, Photoshop etc? Aliás, você acredita que se ele vivesse hoje em dia teria se adaptado à fotografia digital?
Mais de 50 anos depois da morte de Robert Capa, continua existindo um grande interesse e fascinação tanto pela obra quanto por sua vida. Como um dos grandes fotojornalistas da era moderna, é fonte de inspiração para jovens fotógrafos, além de historiadores e pesquisadores de áreas afins. E muitas dessas ferramentas digitais, usadas pelos jovens, são análogas às da fotografia tradicional. Então, hipoteticamente, tenho certeza de que Capa teria abraçado o meio digital para se adaptar aos tempos.
Olá 🙂
Passei para desejar um feliz Ano Novo, com tudo de bom.
Bj, Aris.