Menu fechado

Cap. 437 – Domingo com Clássico: Senhora, José de Alencar

Quando imaginei as votações para esta semana especial do Abril Imperdível, sabia que teria que separar um dia apenas para os clássicos – e o domingo se tornou o dia perfeito porque, futebolisticamente, costuma ser o dia de jogão 😀

E para justificar a minha escolha, esta foi a votação mais emocionante da semana. Resumindo: das três sugestões, uma logo disparou na frente (Emma, de Jane Austen), mas, em um trabalho de formiguinha, na quinta-feira, outra (Senhora, de José de Alencar) encostou. Nos dois últimos dias, foi disputa voto a voto.

Ao ponto que, às 23h de sábado, faltando 59 minutos para encerrar a votação, ambas estavam rigorosamente empatadas.

Fui pro Twitter pedir ajuda (porque confesso que não imaginei que haveria um empate em nenhuma das votações) e foi assim, na reta final, que a votação foi definida!!!

Senhora (Retrato de Mulher) – José de Alencar – Coleção Prestígio/ Ediouro
(Senhora – 1875 – B. L. Garnier)
Personagens: Aurélia Camargo e Fernando Seixas

A órfã Aurélia era a grande sensação da temporada na sociedade do Rio de Janeiro. Todos estavam cativados por sua beleza, comentários inteligentes e inesperados, além de seus modos excêntricos. Os pretendentes disputavam sua atenção, apesar de serem, um após outro, destroçados. No entanto, ela surpreende e termina subindo ao altar, em um casamento arranjado com Fernando Seixas. Ele pensou que os dois poderiam construir um relacionamento e serem felizes, mas uma revelação bombástica na noite de núpcias mudará tudo. Aurélia não seria sua esposa, mas sua Senhora e ele teria que lidar com isso!

Comentários:

– Está escrito na capa interna da edição: “Beta, 22/05/95”. Situando: estava no ensino médio e era um daqueles livros que tinha que ler para as aulas de Português e Literatura que gostei basante da história de amor, orgulho e vingança.

– Em quatro partes – O Preço, Quitação, Posse e Resgate – narradas de forma não-cronológica para contar a história de Aurélia e Fernando. Eles se conheceram e se apaixonaram, quando eram ambos pobres. No entanto, um dote de 30 contos de reis o leva a romper com Aurélia e assumir compromisso com Adelaide.

– Só que Aurélia recebe uma herança, fica muito rica e deslumbra a sociedade. E o dinheiro dá a ela o poder de acertar contas com quem a ajudou e com quem a humilhou no passado, desde os parentes da mãe (que as abandonaram na pobreza e as “reencontraram” na riqueza) e com o homem que a abandonou.

– Por isso, trama uma vingança impecável: compra o marido e desmascara a mesquinhez dele numa cena eletrizante na noite de núpcias. A partir daí, temos o confronto entre o marido comprado e sua “Senhóra” (como ele a chama).

– Como a vingança de Aurélia e o orgulho ferido e humilhado de Fernando se refletem na relação deles: o mundo olha e vê um casal jovem e extremamente apaixonado, que na verdade não se suporta e não perde uma chance de se provocar em diálogos sarcásticos de duplo sentido.

– Ao leitor, já posto em antecedentes, sabe enxergar as farpas e os motivos que levam um a dizer e o outro a responder daquela forma.

– Uma das minhas histórias favoritas a respeito deste livro diz respeito a um programa chamado “Vestibulando” que era exibido pela TVE na década de 90, que passava teleaulas de várias disciplinas.

– Em uma das de Literatura Brasileira, com um professor muito simpático e que se expressava muito bem (infelizmente não lembro o nome dele) ao comentar este livro, ele falou algo do gênero:

“Para se livrar da armadilha, Fernandinho percebeu que teria que ganhar dinheiro. E ele descobriu um método revolucionário para ganhar dinheiro: foi t-r-a-b-a-l-h-a-r, algo que não gostava de fazer antes!” 

Lembro que rolei de rir na época, pela forma descontraída como ele explicava a história. XD

– Pelas informações que constam na edição que tenho, este foi o último livro publicado (em duas edições) com José de Alencar ainda vivo (Encarnação, escrito em 1877, quando ele morreu, só foi publicado depois).

– Como já comentei antes, gosto mais dos livros urbanos e românticos, como Cinco Minutos que os livros que falam sobre os temas indígenas (ele que me perdoe, mas Iracema me matou de sono ou tédio). Confesso que não me lembro se li A Viuvinha, mas talvez fique para o próximo Abril Imperdível.

– E Senhora é um dos livros que li e não esqueci – já disse aqui diversas vezes que adoro histórias de vingança – neste caso, bônus por ser a protagonista a vingadora que arma um plano inteligente, até onde é possível prever.

– Aliás, no fim, fica claro que Aurélia esteve no controle em boa parte da trama – algo impensável para as mulheres da época, que tinham que ser submissas aos homens (algo que é mencionado na história) e aceitar o casamento mais vantajoso para a família. Nem todas poderiam se dar ao luxo de casar por amor. As noivas e noivos sem dotes não conseguiam bons “arranjos matrimoniais”.

– Temos os eventos sociais onde matronas e invejosas maliciosas agem para causar intrigas e desconfortos. Se uma desavisada ler este livro, pode muito bem situá-lo no período de Regência da Inglaterra.

– Portanto, se já vimos esta história antes, por que não ler uma opção muito bem criada e construída (apesar dos diversos ajustes que foram feitos ao texto – pelo menos na minha edição são listados vários) por um autor nacional que se passa nos bairros do Rio de Janeiro?

– Sei que sou suspeita para falar, mas recomendo este livro!

– E para os vestibulandos e estudantes sugiro encarar a leitura e, para complementar, aqui há um resumo mais sério para quem precisar de mais detalhes e na Wikipedia falam sobre o livro e o autor.

– E um momento “profético” do autor (no meu livro, está na página 93):

“Seixas, ao apartar-se a moça, tomara de cima da mesa um álbum de fotografias, e entretinha-se em ver as figuras:– Está vendo celebridades? perguntou a moça, que viera de novo sentar-se ao sofá.Fernando compreendeu que a pergunta não era senão malha para travar a conversa, e dispôs-se a satisfazer o desejo da mulher.– É verdade, celebridades européias, pois ainda não a temos brasileiras; isto é, em fotografias, que no mais sobram. Admira que nesta terra tão propensa à especulação e ao charlatanismo, ainda ninguém se lembrasse de arranjar uns álbuns de celebridades nacionais. Pois havia de ganhar muito dinheiro; não só na venda de álbuns, mas sobretudo na admissão dos pretendentes à lista de celebridades.”

E no século 21, 136 anos depois… *medo!*

Arrivederci!!!

Beta

ps.: A trama deste livro foi uma das três histórias da novela Essas Mulheres, da Rede Record. No link da Wikipedia, constam duas adaptações anteriores para novelas de TV: “O preço de um homem”, na TV Tupi e “Senhora”, em 1975, na Rede Globo.

6 Comentários

  1. renanthesecond2

    "Senhora" é realmente o melhor livro urbano de Alencar, e além das três novelas mencionadas (e uma versão homônima em 1962, na Tupi) também inspirou dois filmes, um de 1976 e o outro de 1952, e uma das subtramas da novela "Caras e bocas (a história de Nick e Milena, vividos po Sérgio Marone e Sheron Menezes. Mas Roberta, penso que em relação aos livros indianistas você deveria abrir uma exceção para "O Guarani", que começa chato mas se revela bem empolgante à medida que a história avança. Mas por favor, faça uma resenha de "Emma" depois: o livro merece!

    Renan

  2. Karol (Blog Miss Carbono)

    Nunca li Emma por isso estava torcendo para Senhora ganhar xD

    É um dos mues livros favoritos já li muuitas vezes.

    Também assistia a novela "Essas Mulheres" e até gostava, apesar do final eles terem enrolado, criando umas coisas qe não tinham nada a ver.

    Outro livro que gosto bastante é "Diva" do José de ALencar.
    "Luciola" nunca tive coragem de ler (já sei o final hauahuahuaha) e também não tenho paciencia com essas histórias de indios que ele começou a fazer depois rs

    Mas adorei a resenha. Me deu vontade de ler o livro de novo xD

    teh mais

  3. Ili

    Oi, foi o melhor livro que li no período quando estava na escola, li ele e adorei, a história foi muito boa, já li Lucíola e não foi legal, mas Senhora ganha como uma das melhores. Também nunca tive coragem de ler os livros indianistas, smepre achei que seriam muito chatos, além de serem muti superficiais.
    Estou adorando acompanhar o Abril imperdível.

  4. Aline

    AMO Senhora, li pela rimeira vez na 6ª série XD
    Adorei a novela, pena não fazerem outra versão. Em 2009 a BBC fez uma nova versão de Emma( que eu tbm adoro), enquanto a gente tem que se contentar com Big Brother Brasil e coisas do gênero…

  5. Sil de Polaris

    Três Mosqueteiros foi minha opção. Senhora viria em segundo lugar. Um desses livros melhores de José de Alencar realmente. Aurélia era admirável. Mas não vi essa novela porque não senti vontade alguma.

    Tanta salada de histórias não chamou minha atenção para essa novela. Eu tinha certeza de que iriam fazer uma maldade com aquelas três obras literárias, alterando tudo o que pudessem !

    Uma pergunta: o que é um meme ?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *