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*** Para não dizer que não falei de vinagre…

Ciao!!!


Pensei muito antes de escrever este texto. Porque Política não é meu assunto favorito. Por causa de uma combinação explosiva de falta de paciência com falta de esperança e um ceticismo ampliado pelo meu cotidiano de lidar com as consequências dos políticos institucionalizados em cargos pelo voto. Sou escorpiana, reza o conto, com talento para ver o melhor e o pior do ser humano.

Fiquei cismada quando vi as acusações de que a Copa do Mundo estava destruindo o Brasil. Disso eu discordo. Porque o país sediou uma Copa em 1950 e foi escolhido para a do ano que vem. Então quer dizer que, neste espaço de 64 anos, o Brasil virou uma potência mundial que foi detonada agora por este cruel, vil e desalmado evento? Não, né? Nem sombra. Não tínhamos – nem temos – escolas públicas de qualidade; os professores não são valorizados (estudei em escola pública durante toda a minha vida e passei para uma faculdade federal porque tive bons professores e sempre me dediquei. Detalhe: justamente no ensino médio, vários deles saíram da escola onde eu estudava em busca de empregos melhores. Me senti abandonada, mas quem era eu para criticar?); para a grande maioria sobra muito mês ao final do salário; os ônibus demoram (“um passinho para o lado por favor!”) e nem pense em adoecer. Não importa se é no SUS ou plano de saúde, você sofre mais do que a moléstia que te aflige.

Então, a culpa não é da Copa. A culpa é destas criaturas que usam o voto para se cristalizar em cargos públicos e usam qualquer coisa – Copa do Mundo, Olimpíadas, reajustes de tarifas, licitações de merendas etc, etc, etc – para lucrar. A culpa – ou pelo menos a co-autoria – vem da omissão de grande número de pessoas, que repetem alegre e orgulhosamente por aí: “Ele rouba, mas faz!” Não, está errado, ele tem que fazer – é a obrigação inerente à responsabilidade que assumiu. Roubar é errado, me ensinou minha mãe. Roubar é pecado, me ensinaram os 10 Mandamentos. “Rouba mas faz” não atenua, só piora. Porque poderia fazer muito mais se fosse honesto.

Sempre tive fobia de multidão. Por isso, dá para contar as vezes em que voluntariamente estive no meio de alguma. E por incrível que pareça, o único lugar onde me sentia bem nesta condição era o campo de futebol, porque eu sabia onde ir e o que fazer. E por isso, toda manifestação me dava medo – porque eu temia aquela meia dúzia que poderia desvirtuar a ideia original e fazer oprimido virar agressor. Sim, já vi o filme antes e sempre reclamava no final: “Ai, meu Deus, de novo, o mesmo erro!” Para minha tristeza, isso aconteceu hoje em várias cidades. Não sei a solução, queria ter, para não ver acontecer. Vandalismo e depredação não ajudam ninguém e só prejudicam a todos – quer um exemplo? Dá outra desculpa para gastos emergenciais de dinheiro para consertar…

Outro medo – mais específico sobre este movimento mais recente – era virar modinha. O “ir à passeata” virar o novo “fui ao shopping”, “dar um rolé por aí”. Se for, pelo menos, saiba o motivo. Quem foi – e quem torce por eles – quer a mesma coisa: um Brasil melhor, independente de político, partido, bandeira.

Cismas escorpianas – vi várias vezes o “slogan” #ogiganteacordou para se referir ao movimento. E me deu um aperto: é o mesmo lema de uma campanha de uma marca de bebidas. Pra quem gosta – e entende mais do que eu – talvez seja só um sintoma da vida em uma sociedade capitalista. Enfim, delírios à parte, continua me incomodando. Outra cisma foi a sensação de que a mobilização chegou, em relação à Copa, com 7 anos de atraso (devia ter instituído o “estamos de olho” quando a sede foi escolhida, não depois que a casa foi arrombada e o prejuízo está aí) e, em relação à política, com mais ou menos, 20 anos. A geração cara-pintada achou que todos os problemas estavam resolvidos tirando o então governante. Não estavam. Em vários momentos, faltou postura mais crítica. Mas deram frangos, geladeiras, IPIs e etc.

Todavia, antes tarde que nunca, parece que a postura crítica apareceu. Vinda do arrogante e suprassumo mundo das redes sociais. Agora espero que continue: que as pessoas saibam o que os vereadores, deputados, etc que elegeram estão fazendo pelo bem de suas comunidades. Que se mobilizem para cobrar no dia a dia. E que sejam críticos para sempre: porque não vão faltar oportunistas de terno e gravata (ou imagem repaginada) tentando lucrar em cima deste movimento. Que busquem ser sempre o melhor na parte que lhe cabe deste quadrado. Que sejam críticos no ano que vem, porque em outubro temos eleições. Um voto nas coxas em 2014 vai ser um tapa na cara da esperança por um Brasil melhor que eu quero para mim, para minha família, para meu/minha filho (a) que só faz parte dos meus sonhos. Quero argumentos, embates de ideias, propostas de soluções, quero gente que faça a hora, não deixe acontecer para depois lamentar com várias #### esperando RTs por aí.

Ah, não demonizem o futebol. Porque, ao atribuir a culpa à Copa e com o estopim dos R$0,20 mais caros da história, as pessoas foram buscar uma forma de ser ouvidas. E enquanto vários estavam nas ruas, o lance mais emocionante da Copa das Confederações aconteceu no Mineirão: um time de amadores (pedreiros, office-boy, operador de telefonia, um jogador profissional etc e quatro – se não me engano – desempregados) acostumados a jogar para, no máximo, 100 pessoas deu um grande exemplo. Distribuiu colares de acolhida aos adversários, chorou ao ouvir o hino e ter a certeza de que era real, lutou sabendo que não tinha chance. Quem estava acompanhando o jogo, pela TV ou internet, queria um gol do Taiti, pouco importasse o placar. E foi lindo, porque ao marcar o gol de honra, os jogadores homenagearam a canoa polinésia, um dos esportes favoritos do país, ao lado do surfe. Um sentimento de pertença: “nós somos vocês aqui”. O azarão me fez sonhar, porque no milionário e marqueteiro futebol moderno (onde nascem deuses dourados com chuteiras de barro a todo instante em todos os cantos), ainda há espaço para quem quer apenas viver a emoção de um gol marcado – como esse, feito por um entregador de comida atual jogador amador em torneio profissional.

Lembrando que aqui não tem nenhuma verdade universal.
Apenas considerações aqui e ali de uma pessoa que quer acreditar.

Bacci!!!

Beta

3 Comentários

  1. Carla Blackhawk

    Oi Betinha. Temos mais ou menos a mesma opinião.
    Mais ou menos. kkkkkkkkkkk.

    Com relação a Copa do Mundo, não era o momento de sediar por aki. No meu ponto de vista, se temos 1 bilhão pra investir num estádio que será usado somente pra copa, temos 1 bilhão pra tirar o povo dos corredores de hospitais e construir salas de aula pra alunos instalados precariamente debaixo de sombras de árvores. Bem, posso estar sendo sonhadora, mas pelo menos o que acredito tem coerência.
    Ainda no mesmo assunto, o que mais me deixa pasma é que as mesmas pessoas que vibraram e aclamaram a vinda da Copa pra cá são as mesmas que criticam agora. Oi? Eu fui contra, pq o Brasil, apesar das mudanças econômicas, não estava ainda em condições pra tal evento. A coisa ia correr solta ($) e realmente é o que está acontecendo.
    Utopia geminiana.

    E sinceramente? Manifestações como as do Collor e os "cara pintada" e 20 anos depois o mesmo sendo eleito Senador…
    Espero que o povo manifestante use sua resolução política nas URNAS. A mudança começa lá, como vc mesma disse no texto. Pq o mesmos vão e voltam como formigas buscando alimento, levando pro ninho tudo o que podem sem se importarem a quem prejudicam.
    Odeio política.

    E pra finalizar, em tantos anos de corrupção ativa nesse país, o Brasil vai acordar só agora? O poder está em nossas mãos quase todos os anos… Que tal nos manifestarmos conscientemente nos votos?

    Não estou dizendo com isso que as manifestações PACÍFICAS não são válidas. Só que infelizmente no Brasil as pessoas não sabem fazer manifestações e a polícia não sabe conter os baderneiros e deixar somente aqueles que querem, pelo menos, melhorar esse país.

    Eu amo futebol, apesar de algumas falcatruas que ocorrem no meio… Pois até nisso eles tiram proveito.

    E viva a democracia!

    Bjs!

  2. Alessandra Ramos

    Foi sem dúvida o melhor texto que li sobre o assunto!

    Sou muito cética sobre tudo isso que esta acontecendo agora, sobretudo por duvidar que isso mude algo, colhemos bons frutos do "cara-pintada" mas não mudamos os políticos, estagnamos mais uma vez; Espero que dessa vez seja diferente…

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