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As letras dos Beatles – Hunter Davies – Cap. 1256

Ciao!!!

 
Mais um capítulo no meu estudo sobre os Beatles. Pode ser vista como sequência direta do livro do mesmo autor, a única biografia escrita enquanto o grupo ainda existia. E acrescenta muitas curiosidades, afirmações e uma certeza: quanto mais leio sobre Beatles, descubro que ainda falta muito a aprender!

*** Texto originalmente escrito pro Livrólogos, que a Rosana gentilmente permitiu que fosse publicado no Literatura de Mulherzinha. Obrigada, Rô! ***
As letras dos Beatles: a história por trás das canções – Hunter Davies – Planeta
(The Beatles Lyrics – 2014)
Pausa para a inveja obrigatória: a ideia deste livro surgiu porque o autor, durante o período que acompanhou o Beatles (entre 1967-1968), recolheu (porque eram rascunhos que iriam para o lixo) ou foi presenteado com NOVE manuscritos originais de músicas do grupo.
Sim, pode fazer uma pausa para processar a ideia. Eu fiz e olha que ainda estou dando passinhos na beatlemania. E ao longo da leitura (vários post-its comprovam isso), fui anotando quais eram os manuscritos dele. Não vou estragar a surpresa, você vai ter que ler para descobrir e aprender a entender que algumas pessoas realmente são abençoadas e competentes em estar no lugar e na hora certos.
Ter este acervo precioso fez o autor correr atrás de outras pessoas que tiveram a mesma sorte (ou dinheiro para comprar em leilões) e solicitar a permissão para analisar cada letra de cada música gravadas pelos Beatles em sua carreira como grupo. Muitos autorizaram sob a condição do anonimato (sabem quanto vale um pedaço de papel rabiscado por eles? Agora imagina um que tenha a letra de uma música? Pois é, quem comprou quer sossego). Outros sete fazem parte do acervo da Northwestern University. “Estão entre os itens mais valiosos que temos. Elas são a expressão inicial de uma ideia inicial”, disse ao autor D.J. Hock, diretor da Biblioteca de Música da universidade. E não tinha ritual de composição: eles anotavam ideias, rabiscos, conceitos em qualquer pedaço de papel: contratos, envelopes, documentos, cartões postais… Atualmente, não custa lembrar, todos os direitos das músicas não pertencem aos Beatles, mas à Sony, que os comprou de Michael Jackson.
Mais que letras de músicas, se tornaram documentos de um processo de criação, composição, porque em algumas é possível ver as mudanças da ideia inicial para a música que foi gravada pelo grupo. Até mesmo a caligrafia permite lampejos da personalidade de cada um (fiquei apaixonada pela letra do George e é plenamente compreensível o caos da escrita de John Lennon, que se revela insuficiente para
registrar o fluxo de pensamentos constantes da mente dele). O autor explica que o objetivo era tentar desvendar o quanto pudesse o processo e os significados. Embora ele mesmo admita que, muitas vezes, John e Paul escolhiam propositalmente palavras e frases sem sentido só pra desconcertar, confundir e divertir (eles, óbvio).
Hunter Davies reparou que os principais compositores – Lennon-McCartney – tinham processos, pontos de partidas e, na maioria das vezes, visões distintas, mesmo quando abordavam os mesmos temas. Os dois tinham química juntos e era um caso raro de quem compunha e também se apresentava. E que do jeito deles (sem conhecimento de leitura de partitura, por exemplo) faziam parecer para os outros que compor era algo fácil. George, que começou compor mais tarde, encontrou mais dificuldade em algumas canções, mas, com o tempo, entregou pérolas como “Something”. E não pense que Ringo era enfeite. Muitas frases e expressões que ele usava serviram de inspiração e título para canções do grupo. Um exemplo disso? “A hard day’s night”. Yep.
No início, a cena pop da Grã-Bretanha copiava os EUA, centralizando as referências em Londres. Para quem saía de outras cidades, tipo Liverpool, ao norte do país, tinha poucas chances de vingar porque a sensação era de que “nada digno de nota viria de lá”.
O autor traça a trajetória desde as primeiras composições quando seguiam o molde do pop vigente, inspirada em acordes ou ideias de outros músicos somados aos pontos de partidas próprios: sejam lembranças, deboches, com tempero do humor dos moradores do condado de Merseyside e toques de sarcasmo. Os Beatles ganhavam fama de bons moços porque as letras que cantavam não se tratavam abertamente de sexo, embora atualmente há quem encontre interpretações sexuais em várias músicas da fase inicial. Mas se eram “inocentes” no palco, fora deles não havia nada inocente. Traições conjugais, drogas, disputas internas agravadas pelos temperamentos de cada um.
Com a explosão da Beatlemania, o autor observa que houve um atraso na evolução do trabalho de composição, sobrecarga de shows e concertos, falta de energia criativa, porque pressionados por novos sucessos e discos, não tinham tempo para se dedicar de forma adequada. No entanto permitiu, por exemplo, que eles conheçam pessoas como Bob Dylan e tenham a percepção de que as palavras são tão importantes quanto a melodia e por isso John e Paul passam a se esforçar mais. John chegou a dizer que considera poucas músicas do tempo de Beatle, porque a maioria era lixo ou digna de nota. O que diferenciava era se ele conseguiu expressar seus verdadeiros sentimentos ou apenas fez algo pra constar ou completar álbum. Além disso, criticava mais as letras que as melodias dele, para o autor, um sinal de que ele tinha noção que poderia ter se dedicado mais.
Ao longo da avaliação, sempre deixando em aberto quando são significados que ouviu dos autores ou suposições, porque muitas vezes não queriam dizer nada ou nada demais ou nada do que a gente pensa que entendeu, podemos perceber a dinâmica existente no grupo, a alteração das forças que conduzem o grupo, a ampliação da participação de George e de Ringo. A influência dos humores de cada um. John talvez seja o que mais chame a atenção neste aspecto – de temperamento volátil, variando entre extremos e a indiferença. E claro, quando Yoko entrou em cena, como a presença dela interferiu, alterou e até mesmo agravou as tensões já existentes – por diversas outras razões – entre eles, que levaram ao rompimento e ao fim da jornada enquanto grupo.
– Rende ao leitor mais conhecimento, mais curiosidade, mais elementos para ter um olhar sobre estes quatro rapazes que unidos fizeram mágica juntos. Além disso, você não vai resistir à curiosidade de descobrir como surgiu a(s) sua(s) música(s) favorita(s). E perceber que enquanto algumas pessoas vão dormir e mal se lembram do que sonharam, Paul acordou com a melodia de Yesterday ou com o primeiro verso de Let it be em mente. Que um dia George foi olhar o horizonte no jardim da casa de Eric Clapton, de quem pegou o violão emprestado e criou Here come the Sun. E, especificamente no meu caso, só ressaltou que ainda tenho – graças a Deus – muita música para ouvir e aprender mais sobre os rapazes de Liverpool.
Quando, daqui a uma geração ou algo assim, uma criança com um charuto radioativo, fazendo um piquenique em Saturno, lhe perguntar que história era essa de Beatles ‘Você conhecia mesmo eles?’ – não tente explicar aquilo tudo dos cabelos compridos e das gritarias. Simplesmente toque algumas faixas deste álbum e ela provavelmente vai entender o que era. As crianças de 2.000 d.C vão sentir com a música o mesmo bem-estar e entusiasmo que nós hoje. Porque a magia dos Beatles é, eu desconfio, atemporal e não tem idade. Ela rompeu todas as fronteiras  e barreiras. Transcendeu raças, idades e classes. É adorada pelo mundo
(Derek Taylor, em texto publicado no álbum Beatles for Sale, 1964)
Arrivederci!!!
Beta

8 Comentários

  1. Daniele Vieira

    Olá
    Não sou uma fã de Beatles, mas tem tantas músicas que de uma forma ou de outra meche conosco, achei bem interessante o trabalho de pesquisa do autor, e é bem interessante ver como algumas anotações meio nada a ver de repente vira uma música, fiquei curiosa com o livro.

  2. Gabrielly Marques

    Oiee, tudo bem?? Amei sua resenha, super completa como sempre. Eu gosto dos Beatles, mas não me considero uma fã do grupo. Ainda assim tenho curiosidade sobre as letras, então acho que leria sim a obra. Eu comprei recentemente o "John Lennon, Yoko Ono e Eu" você já leu?

    beijos!

  3. Salvattore Mairton

    Olá, tudo bem com você Beta?
    Sua resenha é um show para quem deseja conhecer mais desse livro sobre Beatles. Percebi que foi feita uma intensa pesquisa sobre as músicas da banda. Amo algumas, mas não sou fã ao ponto de ler o livro.
    Sua resenha, como sempre bem escrita, me deixa uma análise bem positiva do livro, quem sabe em 2017 ele não caia em minhas mãos?

  4. Talita Correia

    Oi Beta,
    eu nunca fui muito fã dos Beatles, conheço, gosto mais do trabalho solo do Paul, mas nunca fui daquelas que conhecem as letras, cade detalhe, analisaram tudo. Sua resenha já mostra que você adora eles e isso transpareceu em cada linha! Ficou ótima só por passar tão bem o seu sentimento em relação a obra.

    Talita – Viciados Em Leitura

  5. Sil de Polaris

    Uma banda musical que fez muito sucesso quando eu sequer era nascida, não havendo mulher alguma em minha família que fosse louca por esses rapazes que tivesse poder de influenciar-me, portanto eu não compartilho de seu amor e de seu entusiasmo por eles, mas eu saboreei sua postagem mesmo. Porém eu surpreendi-me em saber que duas ou três canções de que eu gosto foram compostas por eles, mas eu não sabia disso !!!

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