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*** #LdMEntrevista: Luiz Ruffato

Ciao!



Primeiro
eu preciso pedir desculpa ao Luiz Ruffato. Ele veio à Juiz de Fora em março para lançar
o livro de contosA cidade dorme.
Nesta
vinda, eu tive um bate-papo bem legal com ele e pretendia publicar quase em
seguida. Só que passei por alguns perrengues poucos dias depois – inclusive uma
semana no “departamento médico” (não recomendo, ninguém merece) – e até achei
que tinha perdido a entrevista, cortesia do “onde foi que salvei?”.
Finalmente
consegui recuperar o arquivo (obrigada São Longuinho) e eis a entrevista.
Divirtam-se!


A cidade dorme 

Luiz Ruffato adentra o
labirinto das formas breves neste A cidade dorme. O volume reúne vinte
narrativas escritas nos últimos quinze anos pelo autor. Juntas, compõem um
painel poderoso sobre a passagem do tempo e as dinâmicas da família e da
memória. 
A partir de um ponto de vista pouco presente na literatura brasileira,
o do trabalhador urbano, Ruffato tece uma reflexão contundente sobre o Brasil
dos grandes centros e periferias. O percurso é claro: da infância à idade
adulta, da margem ao miolo nervoso das metrópoles e da linguagem. 
A meninice
nos anos 1960; histórias sobre futebol e a ditadura; questões ligadas à
violência urbana; o universo das drogas, tudo vai se mesclando neste livro, que
confirma o lugar único de Luiz Ruffato na literatura contemporânea brasileira.



#LdMEntrevista: Luiz Ruffato


LdM: Fale um pouco sobre o trabalho que levou à “A cidade dorme” porque a gente
sabe que não é da noite pro dia que nasce, né?

Luiz Ruffato: Inclusive
este livro na verdade reúne 20 contos que foram publicados entre 2001 e o ano
passado, 2017. São 16 anos de produção. Foram escritos entre os intervalos dos
romances. Em geral, eram contos que eram encomenda. E eu não tenho problema com
contos por encomenda, faço com o maior prazer desde que esteja dentro do meu
universo de interesse. Então, assim, boa parte deles foi publicado no exterior
antes ou concomitantemente. 

quando eu publiquei meu último livro na Companhia das Letras em 2014, inédito,
porque depois porque publiquei mais dois, mas eram foram reedições, aí havia um
intervalo muito grande entre meu último livro e o ano passado. Comecei a dar
uma olhada nos contos que estavam na gaveta, que tinham sido publicados, mas
não em livros e falei ‘Poxa, isso dá um livro’. Falei na Companhia “Tem um
livro de contos, vocês estão interessados?” e eles “Claro, vamos fazer”.

Então, eu revi todos eles, organizei de uma forma que não é cronológica, não
está na ordem nem de escrita nem de publicação. Ele tem, digamos assim, um
conceito: ele nasce, espacialmente, em Cataguases e caminha em direção a São
Paulo e, depois, para um lugar que não sei que lugar é. Temporalmente também,
ele caminha da década de 1960, em direção ao contemporâneo e chega a um lugar
sem tempo.

LdM: Existe algum fio da meada que costura
estes contos?

Luiz Ruffato: Além
deste conceito de espaço e tempo, eu acho que, de alguma maneira, uns mais
outros menos, estão discutindo questões ligadas primeiro ao universo da classe
média baixa, do trabalhador, desse ser invisível na sociedade e, portanto, na
literatura também. De alguma maneira eu acho que, aí já é o leitor falando, já
não é o escritor, eu acho que de alguma maneira há um fio da tentativa da
atualização de temas. Eu acredito que literatura é linguagem, literatura é
transcendência e, portanto, aquela literatura que está presa ou ancorada em um
momento específico não é literatura no meu ponto de vista. Porque pra mim a
literatura busca a transcendência, ser atemporal. Os temas que estão sendo
discutidos ali, embora estejam ancorados em um ou outro ponto, na verdade, são
temas bastante atuais: violência urbana, a questão dos impasses políticos e
sociais, eu acho que mais ou menos ele tenta pelo menos costurar a partir
destes pontos.


LdM: Como é ser um escritor em um país
onde lamentavelmente o gosto pela leitura esbarra em pessoas que não gostam de
ler, que leem obrigadas e muitas que não sabem interpretar o texto? Como lidar com a angústia que eu imagino o escritor sente diante disso!


Luiz Ruffato
: Tem a ver com a educação. No ato de criação isso não deve ser
um problema, se não você não escreve. Como cidadão evidentemente um cidadão que
é escritor, isso é lamentável porque eu vivo de literatura faz 15 anos, agora
em abril faz 15 anos que eu vivo exclusivamente de literatura. Viver de
literatura em um país que ninguém lê e ainda não fazendo concessões ao mercado é
quase insano. E para mim evidentemente cada vez mais fica claro que não há
outra saída para o Brasil, antigamente tinha uma pauta de reivindicações, eu
tenho uma só: a questão da educação. A gente não consegue dar um passo sequer em
lugar nenhum se não resolvido, ou começado, a questão da educação. E eu não
vejo uma perspectiva de alguém estar interessado em resolver e aí é muito
complicado. Se não fosse essa certa visibilidade que eu tenho no exterior, eu
acho que não sobreviveria como escritor no Brasil, fazendo outras o que eu faço.
Poderia sim, mas fazendo outras coisas, não fazendo o que eu faço.

LdM: Sobre estar de volta a Juiz de Fora (ele participou da Bienal do Livro de 2016),
para lançar este livro, que é uma cidade querida para você, próxima à sua
cidade natal (Cataguases).


Luiz Ruffato:
Na verdade, Juiz de Fora é uma cidade que foi
muito importante para mim em um período importante da vida da gente que é aquele
final da adolescência… Hoje não, porque a adolescência termina lá pelos 30,
40 anos (risos). Mas na época não era assim. É um momento que você está
descobrindo o mundo, fazendo o seu rol de amizades, amizades que tenho hoje são
daquela época. Entao Juiz de Fora é é, afetivamente, muito importante para mim.
Meu imaginário literário é muito ligado a Rodeiro e Cataguases, minha infância,
mas o afeto e a vida afetiva mesmo foi construída aqui. Então é muito bacana
estar lançando aqui.

LdM: Projetos? Já tem mais livro vindo?
Pesquisa?


Luiz Ruffato:
Tem que ter! Tem que ter.

LdM: A cabeça não sossega, né?

Luiz Ruffato: Tem
que estar sempre trabalhando. O problema é esse: quando você está lançando um
livro já está na verdade em tese escrevendo outro, né? Então às vezes fica até meio
confuso: “mas do que estou falando?”

LdM: E provavelmente tendo a ideia de mais
outro!


Luiz Ruffato:
Exatamente, tem que mais ou menos estar
arriscando. No momento, estou escrevendo outro livro, um romance bastante
complexo de escrever, bem difícil de escrever que está me dando uma dor de
cabeça danada! Eu acho que neste ano talvez eu ainda lance outro livro, que vai
ser um livro de crônicas, que são algumas crônicas literárias que eu publiquei no
“El Pais”, onde tenho uma coluna semanal e umas outras crônicas que foram
escritas para outros lugares. Talvez eu lance no final do ano, mas não pela
Companhia das Letras, será pela editora do Sesi, a gente está praticamente fechado
com a edição deste livro. Além de estar trabalhando nesse livro, em divulgação,
escrevendo outro livro, talvez eu tenha que pensar em outro livro no final do
ano.

Gostaria de agradecer ao Luiz Ruffato pelo
tempo e paciência – reforçar as minhas desculpas pela demora em colocar o texto
no Literatura de Mulherzinha.
###
Confira as próximas cidades onde Ruffato estará para o lançamento de “A cidade
dorme”.
Maringá
(PR) – 20 de abril
Porto
Alegre (RS) – 27 de abril
Ribeirão
Preto (SP) – 26 de maio
São
Paulo (SP) – 29 de maio
Araxá
(MG) – 27 a 30 de junho
Brasília
(DF) – 20 de julho
Para
outras informações sobre ele, confiram a página oficial de Luiz Ruffato no Facebook
Bacci!

Beta


ps.: Quer ver e ouvir Ruffato falar mais mais sobre “A cidade dorme”? Confira no G1 Zona da Mata a entrevista que o escritor concedeu ao MGTV 1ª edição em março deste ano.  

1 Comentário

  1. Sil de Polaris

    Oh, eu estou imaginando que carga de trabalho detalhista deveria ser revisar contos antigos sobre um tema único para organizá-los e prepará-los para formar um livro de contos. Esse autor pareceu ter uma forma muito particular de ver seu trabalho literário e todo trabalho literário de uma forma geral. Um ponto de vista interessante, mas com que eu concordaria em parte apenas. Oh, haveria tanta discussão !!!

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