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*** Palavra de Mulherzinha: Bridgerton (2020, Netflix)

Ciao!

Há um bom tempo deixei de ser
uma pessoa que acompanha série. Vi ER religiosamente por várias temporadas,
depois acompanhei a primeira de The Newsroom. De vez em quando, acompanho alguns
episódios de S.W.A.T.

Pois bem, como muita gente,
passei o dia de Natal em casa à frente da TV assistindo os oito episódios de
Bridgerton na Netflix. Os motivos?

  • Primeiro: inspirada em uma série que li e
    gostei. 
  • Segundo: gosto de histórias românticas. 
  • Terceiro: queria um motivo para,
    por horas, esquecer tudo que está acontecendo no mundo. 
  • Quarto: não resisto ao
    sotaque britânico (na minha lista, perde apenas para o italiano).

Então, eis meus comentários
sobre a minha experiência, divididos em tópicos. Estou tomando o cuidado de
evitar spoilers tanto dos livros quanto da série da Netflix.
 

Controle suas expectativas

Outro aspecto que foi
importante para mim, e pode fazer diferença para você: não crie expectativas de
que a série vai ser igual ou melhor que os livros de Julia Quinn

Não vai. A razão é simples:
cada um imaginou aquele universo de uma forma ao ler. 

E a série é resultado das
decisões criativas de dona Shonda, de Chris van Dusen e da equipe reunida no
trabalho. Até onde sabemos, eles não têm como entrar na mente de cada leitora e
fazer do jeito que cada uma prefere. E mesmo se conseguissem, provavelmente, também
não haveria unanimidade.

Construí essa sabedoria após
duas grandes decepções: algumas adaptações de Os Três Mosqueteiros e os
dois primeiros filmes do Harry Potter. No primeiro exemplo, muitas vezes, houve
licenças “artísticas” que mudam partes importantes da trama ou colocam coisas
nada a ver (D’Artagnan pulando como um cabrito ninja por carruagens! Um barco-zepellin
na guerra entre França e Inglaterra!!). No segundo exemplo, as cenas dos livros
estavam na telona, mas o filme não tinha alma.

Eu não reli o livro antes de
ver a série – e estava com vontade. Considerei que seria mais fácil para
aceitar a versão da Netflix como um produto próprio. Portanto, minhas memórias
são basicamente de 2013 e de uma ou outra espiadinha. Isso funcionou comigo
outras vezes e me permitiu aproveitar melhor a experiência.
 

É difícil ser mulher no século
19…

O ponto de partida da série
televisiva é diferente do livro “O Duque e eu”. O que já inibe as cobranças de “não
está igual”.  Se não tem o mesmo começo, claro que terá várias adaptações. Personagens que não participam da
trama estão na primeira temporada. Outros que eram meramente citados ganharam espaço
e tramas próprias.

A série começa com a
apresentação das 200 debutantes da temporada à rainha Charlotte. Daphne se destaca,
ganha um elogio da soberana e se torna a Incomparável: ou seja, a jovem a ser conquistada. 

O sucesso dela no mercado dos casamentos pode render alianças para a família e perspectivas
favoráveis para quando for a vez das irmãs debutarem. E como se não bastasse
esse peso, ela sonha com uma união por amor, assim como os pais tiveram.

Temos a demonstração de como era alimentada a
competitividade feminina e das estratégias realizadas para se sobressaírem:
dos vestidos às estratégias de sedução que não comprometiam a honra. As intrigas, as farpas e também
de como um boato arrasava uma reputação, especialmente a de uma dama, cuja
palavra não tinha valor. Na Ton, elas eram meros produtos negociados pelas
famílias. Raramente ouvidas e valorizadas.

Outro ponto que a série deixa
bem claro é uma consequência do parágrafo anterior: as jovens eram mantidas em
completa ignorância sobre os detalhes íntimos de um relacionamento com um
homem. Como poderiam se proteger de investidas masculinas, especialmente dos
caça-dotes? É outra manifestação do controle masculino sobre os corpos e destinos
delas – que, para isso, ganham o apoio – intencional ou não – das próprias mães e guardiãs.
 

A polêmica

Permitam-me uma pausa para
falar, sem entrar em detalhes, sobre a polêmica do livro – e que foi adaptada
para a série – sobre uma decisão que envolve o relacionamento entre Simon e
Daphne. 

Devo dizer que estou chocada comigo mesma por não ter percebido o quanto a cena é problemática quando a li pela primeira vez. E precisei de anos e do debate sobre o tema acontecer nas redes sociais para compreender a extensão das atitudes tomadas na cena.

Intimidade envolve consentimento. Na TV, amenizaram essa parte, tiraram o peso de ser uma decisão deliberada e proposital da Daphne. Sem justificar ou defender, a ignorância dos dois levou à uma decisão equivocada. A ignorância de um
em desconsiderar totalmente o impacto da ignorância do outro sobre todas as
circunstâncias de um ponto de discórdia entre eles. 

E sabe o que é o pior? Isso
acontece na vida real. E de formas ainda piores que as citadas no livro e na série.
 

Os personagens

Não vou discutir a qualidade
da atuação por um motivo simples. A série me ganhou no trailer. Então, não
seria uma opinião isenta. O fato é que o universo da Shondaland e da Netflix
fez sentido para mim.

Sim, sei que houve várias imprecisões
históricas. Há pessoas muito mais gabaritadas que eu se manifestando de forma
detalhada sobre o que está certo e o que não ocorria na Regência.

Sim, muitos personagens foram desenvolvidos na série de forma diferente do livro. Creio que, por causa do ponto de partida e do universo da série permitir abranger momentos não citados no texto da Julia Quinn.

Gostei de ter mais do Benedict,
inclusive antecipando questionamentos que ele faz na própria trama (no 3º
livro). 

Gostei dos momentos das tiradas do Colin – embora não foram tão
frequentes, pela trama que deram a ele. 

Até simpatizei com a Eloise, porque tive
algumas ressalvas no livro dela. 

Foi por pouco, mas Francesca não foi esquecida
no churrasco da Regência. 

Gregory e Hyacint estão fofos e até participam mais que
eu esperava. Violet não começou como eu imaginava, mas melhor não subestimar a
força de uma matriarca.

E o Anthony… A versão do
rapaz pressionado pela responsabilidade que foi obrigado a assumir com a perda
precoce do pai faz muito sentido. 

Não me impediu, claro, de querer esfregar a distinta
fuça nobre dele no asfalto sob o sol de 12h em diversos momentos nos oito
episódios (nesta lista, ele teve a companhia constante de lorde Berbrooke, de Cressida
Cowper e do pai do Simon). 

Ele tomou várias decisões erradas, algumas
inconsequentes e percebeu que todas se voltaram contra ele. Portanto, teremos
um visconde Bridgerton mais cascudo na segunda temporada (anuncia esse trem
logo, Netflix!).

Na Casa Featherington, todo
destaque para a matriarca, Portia, que sonha em conseguir casamentos para as
filhas e se vê intimidada com uma concorrente inesperada, Marina Thompson, a
prima que veio de longe. A gente consegue perceber a humanidade por trás dos
atos dela, mesmo os que a gente desaprova. 


E, que Prudence e Philippa me perdoem,
mas Penelope é um dos meus xodós. A jornada dela foi uma das que mais
acompanhei com carinho – sabe como é, eu amo um “patinho feio” – e eu entendo
todas as atitudes que ela tomou, inclusive as mais extremas/polêmicas,
dependendo do seu ponto de vista.

Lady Danbury está poderosa,
influente e aterrorizante (nas palavras da própria). Não ficou a dever para a
sua origem literária. E ganha uma força à altura, na Rainha Charlotte, que não
está nos livros, mas é personagem relevante na trama.
 

O Duque e Eu

Sobre os protagonistas, não
tenho críticas – eu avisei, a série me ganhou, portanto, minha opinião é
totalmente tendenciosa.

A Daphne é a jovem que se
força a ser perfeita porque sabe a importância que terá para família se destacar
de forma positiva no mercado de casamento. Ao ver seus planos frustrados pelo
fogo-amigo (bem, fogo-irmão seria mais apropriado), busca formas de contornar
os obstáculos para não decepcionar a si mesma na missão que tem (que ganha um
peso maior que ela mesma se impôs).

Por conta da ignorância em que
as jovens eram mantidas até o casamento (e inclusive depois), ela não entende
os próprios sentimentos, a partir do acordo com Simon. Neste caso, caminho
aberto para o sofrimento. Com um pouco de sorte, levará ao amor.

Simon é o resultado do
sofrimento que passou na infância (e que muitos de nós ainda passamos hoje – a busca
forçada para atender um padrão de perfeição que não existe), portanto a
motivação dele é compreensível. Quem bate esquece, mas quem apanha sempre se
recorda porque fica com as cicatrizes. E se viu sem saber o que fazer para
manter à decisão que tomou mesmo após Daphne passar a fazer parte da vida dele.
 

Mesmo diferentes dos personagens do livro, eles funcionam. Eu torci por eles, lamentei os tropeços e amei as cenas lindas.

Imagem: Netflix

Para encerrar: comentários
aleatórios

– Meus parabéns a quem escalou
o elenco, por escolher o Regé-Jean Page. Ele não é o Simon que eu imaginava,
mas é absolutamente o Simon de que precisava. Ainda mais no dia de Natal. Foi o único aprovado por
#MadreHooligan, pra vocês terem uma ideia (ao contrário de mim, ela cobrou mais rigor aos livros).

– Uma curiosidade: o que será
que aconteceu com o colar que o Príncipe deu de presente à Daphne?

– Graças às abelhinhas muito
criativas não consigo mais ver uma determinada cena sem pensar numa trilha sonora muito específica.

– Aliás, que deslumbrantes os bailes da série. Lindos e românticos. Adorei! Os figurinos são maravilhosos  – especialmente quando esqueço que era necessário espartilho para usá-los.

– E os jacintos-uva na fachada da casa dos Bridgertons? Eu amei a referência!

– Confesso que queria uma
participação das Smythe-Smiths. Toda hora que falava que tinha um concerto, eu
ficava “É agora!”, mas não foi. O motivo: eu adoraria ver a 
cena da Lady D. usando a bengala
para se defender de um violino delas.

– Julie Andrews como a voz de Lady Whistledown é muito afetivo. É a voz que me traz o o conforto de “Do-Re-Mi”, de “Supercalifragilisticexpialidocious” e “A Spoonful of Sugar” que eu canto (obviamente não tão bem quanto ela) até hoje.

– Shonda tinha que matar alguém,
né? Pior que eu suspeito que haverá mais consequências disso na temporada 2.

– Fiquei surpresa com a
revelação no episódio final. Vamos ver o que vem por aí pra ver se faz sentido.

Ilustração: Amorettella

– E para o final, um apelo: temporada 2 tem que ter o
jogo de Pall Mall. Aceito se vier com a licença artística-bônus de uma cena onde a Kate use o Taco da Morte para “recalibrar
cognitivamente” o Anthony. E será ainda melhor se tiver montagens com narração do Everaldo
Marques ou do Rômulo Mendonça. Já pensou? “A abelha chegou e causou o caaaaaaaaaaaaaaaaooooooooooos!!!” ou “Kate Sheffield, você é ri-dí-cu-la!”

Arrivederci!!!

Beta 

2 Comentários

  1. Larissa Zimmermann

    Nao li os livros, mas curti muito a série. A ideia de usar músicas atuais em uma trama de anos e anos atrás trás uma familiaridade e atrai a atenção dos telespectadores. O casal realmente ficou perfeito, pois ha uma quebra de expectativa! Dificilmente uma adaptação de livro agrada 100% por conta, justamente, da nossa imaginação! Como vc bem disse. Mas, uma adaptação q eu amei e chorei tanto quanto o livro foi Marley e Eu! Muito fiel! Beijos, Beta!

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