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Cap. 511 – Crônicas de Repórter – Pedro Bial

Ciao!!!

Imagem retirada deste site

Não é a primeira vez que este livro é mencionado no Literatura de Mulherzinha. E agora, fui mexer no baú, onde o reencontrei – eu o comprei no meu primeiro ano da Faculdade de Comunicação. Como ele ainda não tinha resenha no LdM, coloquei na votação da “Quinta do Baú”. Foi um longo percurso, mas agora está aqui.

Crônicas de Repórter – Pedro Bial – Objetiva Reportagem
(1996 – Editora Objetiva)

Em 50 crônicas (se contei direito), o jornalista Pedro Bial relata experiências de oito anos trabalhando como correspondente internacional, baseado em Londres, para a TV Globo. E não foi durante um período qualquer: teve a queda do Muro de Berlim, a queda do regime Comunista nos países do Leste Europeu e conseguiu ser uma das poucas equipes na Rússia quando um golpe de estado derrubou o regime soviético. Foi uma época de jogar fora o Geoatlas e o livro de História e o capítulo sobre Geografia Política. Ah, teve também furacão no Japão, morte de Ayrton Senna e, pra descontrair, Olimpíadas e Copa do Mundo.

Já imaginou estar no olho do furacão – ver a história acontecer? É o sonho para qualquer um que tenha passado aquele tempinho de 4 anos numa faculdade (e mais algum tempinho para entrar nela) para ter aquele pedacinho de papel vegetal impresso “Bacharel em Jornalismo” em letrinhas rebuscadas (sim, tipo eu!)

Para quem só conhece o Bial dos BBBs, o livro mostra a veia cronista dele, compartilhando histórias de bastidores das reportagens ou detalhes que não caberiam em uma matéria jornalística para TV. Espero que vocês não se incomodem, mas vou fazer duas listinhas para falar mais um pouco do livro.

* Trechos Favoritos:

“O que você quer ser quando crescer?
‘Salva-vidas” respondia invariavelmente o menino. Mentia. No íntimo, sonhava em ser Tintin, aventureiro solto no mundo, repórter, herói, resolvendo crises internacionais, desbaratando quadrinhas, divertindo-se um bocado. E Tintin ainda conseguia ser jornalista, sem escrever uma linha sequer. Em nenhuma das inúmeras aventuras pelo planeta, o repórter Tintin enviou uma matéria que fosse. Não precisava: ele era sempre a notícia.
No desejo de ser Tintin, o menino quase ficou tantã.!
(Adiós muchachos, p. 20)

* Ok, na faculdade a gente aprende que o jornalista nunca deve ser a notícia – mas com esta onda de pseudorepórteres-celebridades… enfim. O que interessa aqui é que eu não fui a única criatura influenciada por quadrinhos e desenhos animados a seguir a profissão.

“Quando precisam de algo, repórteres engolem qualquer resquício de orgulho e suplicam, imploram, se humilham com gosto. Hoje parece engraçado. Na época era só patético.”
(A Guerra do Golfo Aconteceu? p.46)

* Ok, isso é algo inerente a qualquer ser humano. Mas se coloque no lugar de um jornalista que precisa entrar no Iraque a todo custo para cobrir a invasão ao Kuwait e depende do humor de um funcionário de embaixada para liberar o visto? Ou nem tanto: precisa da informação ou da gravação de algo específico com determinado entrevistado e não consegue falar fácil (ou tem gente demais ou de menos sem interesse em ajudar no caminho). E ainda será cobrado por isso, se não conseguir. Enfim, continua engraçado e patético…

“Nada ofende mais o intolerante do que a inteligência.” (De Brasil em Brasil, p.143)
Dispensa comentários, né?

“Aliás, Deus gosta de qualquer história. Tá na Bíblia: a cada coisa que criava, ‘e Ele achou bom…’ Até mesmo depois de criar o homem, Deus achou bom.
O homem, perseguido pela culpa de ter feito Deus descansar no sétimo dia, é que inventou a neurose de nunca achar nada bom. Divino, não é?”
(…)
“Todo mundo fala em fato, mas só conhece versão.
Você tenta falar do que interessa mas o que vende jornal é fofoca…”
(TV Falada, p.146)
Dispensa comentários 2, o retorno!

“Eu, por mim, virava samambaia durante todos os Jogos Olímpicos. Contanto que o vaso fosse colocado diante da televisão.”
(Esporte, o show da dor. p.179)

* Sim, tem outros trechos melhores nesta crônica, mas a frase de abertura é tão EU que não poderia ficar de fora desta seleção.

* As melhores crônicas (na minha opinião):

7. Francamente, ética, o que vem a ser isso? (p.128-131) – a partir de um dilema enfrentado por jornalistas, serve para qualquer pessoa.

5 e 6. Bósnias (p.81-84) e O cão do mundo (p.132-135) – empatadas, porque tratam do mesmo tema: olhares sobre a miséria humana e o pior do ser humano, aqui e lá fora.

4. Bom, ruim, assim, assim… (p.214-218) – para quem tem o CD Filtro Solar esta não é desconhecida. É um resumo de todas as experiências, de idas e vindas, fechando um ciclo para abrir outro.

3. Uma mulher chamada Domingo (p.196-199) – bastidores de uma reportagem na Alemanha com uma ajudinha do “destino” ou “superstição” se você preferir.

2. Ao encalço da poesia (p.175-178) – para matar de inveja. Não digo mais. Para saber o motivo, só lendo.

1. Natal Revolucionário (p.77-80) – um relato absolutamente lindo sobre o Natal na Romênia quando o Comunismo perdia forças e poder.

Para a menina que, quando criança, viajava nas páginas de National Geography e de enciclopédias e queria se tornar uma aventureira globe trotter para acabar se tornando santa dos milagres impossíveis e do estresse diário sob as bênçãos de N.S. do Maracujá Docinho, o livro é uma baita viagem, aos sonhos que tive e que outros tiveram a competência que nunca teria em realizá-los. Como bem me disse um profundo conhecedor a meu respeito: é impossível me imaginar numa savana africana retratando a vida selvagem… Nada que seja um limite, óbvio, apenas uma chance de procurar novos desafios

“Sempre sonhei com viagens e aventuras. Ir, para voltar. Partir, retornar e contar. Uma vida contém muitas vidas e muitas mortes. Contei os mortos e conto aos vivos.”
(Bial, apresentação do livro, p.13)

Bacci!!!

Beta

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