Ciao!!!
Confesso que achei que já havia postado isso, mas, para variar, não tinha… Então, aqui está um artigo bem legal que encontrei no mês passado. (Sim, este é outro que disparou o meu radar “compra, compra, compra”).
Boa leitura!
Bacci!!!
Beta
ps.: Aproveitando o feriado prolongado para os abençoados (desta vez, faço parte da lista), teremos post novo na sexta-feira também, além dos habituais do fim de semana! Espero que se divirtam e deixem muitos comentários! ;D
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Fonte: Estado de Minas, 09/05/10
LITERATURA
Para gente grande
Em seu novo romance, Juliet, nua e crua, o escritor Nick Hornby mantém sua fixação na cultura pop, mas coloca em cena personagens que sofrem com problemas adultos
João Paulo
Nick Hornby é um craque. Escreve com tanta leveza e graça que mesmo seus livros mais superficiais têm charme suficiente para conquistar milhões de leitores mundo afora. Foi assim com Alta fidelidade e Um grande garoto, livros que chegaram ao cinema em filmes com astros como John Cusack e Hugh Grant. Além do talento para fluidez e bom humor, as narrativas de Hornby carregam identidade siamesa com a chamada cultura pop. Seus personagens gostam de canções, filmes, futebol e listas dos melhores e piores. São, na maioria das vezes, trintões ou quarentões que insistem em parecer adolescentes. Nessa dissonância existencial está parte da graça e da crítica velada do autor: o mundo é mesmo um parque de diversões de adultos emocionalmente retardados.
O novo romance de Nick Hornby, Juliet, nua e crua, tem todas as marcas da literatura do romancista e uma qualidade a mais: seus personagens são maduros. O que não significa que sejam profundos ou felizes. Como num romance de Jane Austen, os motivos continuam os mesmos. A autora de Orgulho e Preconceito escrevia sempre a mesma história, de mocinhas loucas para se casar e que se deparavam com a barreira social. Hornby também retoma suas tramas: conta histórias de gente seduzida pelo sucesso e por estilo de vida, mas que amarga o anonimato, o fracasso ou a incapacidade de criar e amadurecer. Juliet, nua e crua dá sequência a esse enredo.
A trama é simples. Um ídolo do rock, Tucker Crowe, mistura de Bob Dylan, Bruce Springsteen e Leonard Cohen, decide parar de cantar. Tudo acontece no banheiro de um bar, em 1986. Ninguém sabe o que houve lá dentro e as especulações são iluminação profana, dor de corno ou consequências de uma overdose. Fora da cena, 20 anos depois, Tucker se tornou uma lenda. O pouco que se sabe dele é objeto de discussão entre uma legião de admiradores siderados em torno de um site de especialistas que parecem não ter nada melhor para fazer. De sua vida afetiva ao destino de pretensas gravações inéditas, tudo é objeto de especulação.
Entre esses aficionados em Tucker Crowe está Duncan, um professor que vive na cinzenta e sem graça Goolleness, no litoral inglês. Mais sem graça ainda é a vida amorosa do cara, que divide as sobras de tudo que chamam lar com Annie. O casamento vai mal, sem filhos e sem expectativas. Para se ter uma ideia do que Duncan considera divertido, o livro começa com uma viagem do casal aos EUA para percorrer os pontos turísticos de sua paixão pelo compositor: eles vão ao banheiro onde Crowe desistiu da vida de popstar, fazem campana na casa de uma ex-namorada do artista e por aí vai.
Um belo dia, assim que voltam para a vidinha na Inglaterra, chega às mãos de Duncan um CD com a versão acústica do disco mais famoso do ídolo (Juliet, na versão naked, daí o título do livro). Ele adora, Annie detesta. Para mostrar independência, ela posta um ensaio no website frequentado assiduamente pelo namorado. Tudo começa a mudar quando o próprio Tucker Crowe lê o que Annie escreve. E gosta. Já separada de Duncan em razão de uma infidelidade (mas mais por enfado), a mulher passa a manter contato com o músico. Descobrem que são iguais num quesito: vidas desperdiçadas. O que vem em seguida é uma história amarga e divertida.
Sem moralismo
Se o tempero pop é dado pelas referências à música, a entrada em cena da internet com sua tietagem virtual aponta para uma atualização desse destino. Tucker só teria a sobrevida que teve na memória do público num tempo em que a solidão evasiva de muitos marcam encontro na ágora eletrônica da web. Mais que abertura ao encontro, trata-se da criação de uma second life que diz respeito mais aos jogadores da vida vicária que aos próprios personagens retratados. A celebridade vazia não precisa de mais que um empurrãozinho para ganhar importância na vida de pessoas de existência absolutamente vazia.
Ao dissecar, ao lado do casal Annie e Duncan (mais próximos dos personagens habituais de Hornby) a vida íntima de Tucker, o romancista parece pular a linha que o separava das celebridades até então apenas citadas nas narrativas. Agora, o popstar não é uma construção ideal, mas uma pessoa como outra qualquer. E é assim que o roqueiro deixa entrever sua incapacidade de levar adiante um relacionamento maduro com suas ex-mulheres e, principalmente, com os vários filhos que espalhou pelo mundo, alguns dos quais mal conhece. Ao descer do pedestal, ele precisa conversar olho no olho. É esse movimento em direção ao chão que marca o realismo da narrativa. A vida ao vivo, sem pro-tools.
Juliet, nua e crua é um romance de adultos, mesmo a contragosto. Na verdade, o triângulo no centro da história é marcado por uma infantilidade de origem. Mas o sofrimento fez com que desejassem de alguma forma dar a volta por cima. Amadurecer exige, entre outras coisas, dar conta do passado e não repetir os mesmos erros ou acreditar na mesma lenga-lenga autojustificadora. Nick Hornby sempre teve a seu favor a capacidade narrativa, bem estruturada e com humor na medida. Além disso, sabe entrar em conflitos humanos sem ficar ditando regras e separando os legais dos caretas. Em Juliet, nua e crua, ele conquistou personagens que cansaram de ser adolescentes. Jane Austen do pop é um título de nobreza que lhe cai bem.
Rede de intrigas
Há uma astúcia na criação de Tucker Crowe, o popstar demissionário da fama. No tempo da celebridade, nada mais chamativo que a vontade de não ser célebre. É o pântano onde afundou, por exemplo, o escritor J.D. Salinger, que achava o mundo uma droga e se escondeu numa cidadezinha para não conviver com os mortais. No caso do roqueiro de Nick Hornby, sua crise de Greta Garbo não se dá por excesso criativo ou recusa do mundo, mas pela absoluta carência de ideias. Assim, para ser famoso, nada melhor que tentar não ser famoso. O perfil que circula entre seus admiradores é retirado da wikipédia: todo mundo acha que sabe de tudo, mas todo mundo só sabe o que está na internet, mesmo que se julgue portador de um segredo. A wikipédia é o grau zero da informação. Se sites de relacionamento e Nick Hornby pareciam ter nascido um para o outro, Juliet, nua e crua desfaz essa fantasia com ironia que beira o sarcasmo.
Todas as mídias
Os romances de Nick Hornby, lançados no Brasil pela Editora Rocco, tiveram boa repercussão nas telas. Alta fidelidade ganhou produção dirigida por Stephen Frears, com John Cusack no papel de Rob Gordon (Rob Fleming no romance). O livro, que popularizou a mania de fazer listas, também a base do espetáculo teatral A vida é cheia de som e fúria, com Guilherme Weber, dirigido por Felipe Hirsch. Um grande garoto chegou às telas pelas mãos de Chris e Paul Weitz, com Hugh Grant na pele de Will Freeman. O livro Febre de bola também virou filme com Drew Barrymore e Jimmy Fallon. Mais recentemente, o escritor experimentou ir direto para as telas como autor do roteiro do filme Educação (baseado no livro autobiográfico de Lynn Barber), que concorreu ao Oscar de melhor filme este ano. Nick Hornby tem ainda lançados no Brasil o romance Como ser legal e os ensaios (quase confessionais) 31 canções e Frenesi polissilábico.