Ciao!!!
Para minha alegria, estava lendo o jornal no domingo quando achei este texto. Nem preciso dizer que mal terminei a leitura já sabia que iria postá-lo aqui. Só demorou por conta da combinação “pc mau humorado + chuva + péssima conexão”. Por isso, só está entrando hoje! E vale visitar o link, porque tem fotos que eu não consegui colocar junto com o texto!
Bacci!!!
Beta
***
Fonte: Segundo Caderno, Jornal O Globo, 26/12/10
Filmes, vídeos, livros e HQs inspirados em Jane Austen mobilizam fãs, quase 200 anos após sua morte
Publicada em 26/12/2010 às 08h35m
André Miranda
RIO – A frase vem sendo repetida à exaustão: “É verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro em posse de boa fortuna deve estar necessitado de esposa.” A afirmação, que abre o romance “Orgulho e preconceito”, o segundo de Jane Austen, publicado em 1813, é uma espécie de mantra que resume bem o realismo, o contexto histórico, a classe social abordada e também a ironia que vêm garantindo à autora inglesa o posto de uma das mais populares entre os leitores ao redor do mundo – os mais ardorosos fãs são chamados de Janeites. Quase 200 anos após sua morte, em 1817, Jane Austen ainda é lida, discutida, filmada, adaptada e reinventada por aí, tanto na vida real quanto na internet. Exemplos não faltam. Da Índia aos EUA, novos filmes baseados em seus livros estão sendo preparados ou recém-chegaram aos cinemas. Em 2010, um romance e uma graphic novel misturaram seus personagens mais famosos com zumbis. E um dos vídeos mais bacanas da internet em 2010, “O clube da luta de Jane Austen”, que faz graça com o universo da autora, bateu a marca de um milhão de acessos.
Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, na Inglaterra. Sétima criança de uma família de oito filhos, ela foi criada num ambiente rico que lhe permitiu ter acesso a peças de teatro e livros. Foi daí que surgiu seu interesse pela literatura e também foi daí que vieram muitas das inspirações para sua obra. O primeiro de seus seis romances publicados, “Razão e sensibilidade”, de 1811, mostra como as Irmãs Dashwood precisam se virar após a morte do pai. “Orgulho e preconceito”, o mais famoso, é simplesmente a história de uma jovem em meio a limitações morais, tradições e amores no século XIX. Já o póstumo “Persuasão”, de 1818, acompanha o amor de uma moça por um militar pobre, o que desagrada sua família.
– O que fisga os jovens é o método infalível da típica história de amor. E isso é sempre mais forte entre as meninas – explica a professora mineira Adriana Zardini, de 37 anos, presidente da Jane Austen Sociedade do Brasil (Jasbra) e tradutora dos romances “Mansfield Park” e “Razão e sensibilidade” para a editora Landmark.
Popular no Facebook
A Jasbra surgiu há quatro anos, a partir de uma comunidade do Orkut. O grupo já fez dois encontros nacionais, sendo que o último, no Rio de Janeiro, em julho, teve 60 Janeites – todas mulheres, exceto por um marido corajoso e um filho sem opção. A sociedade tem cerca de 160 participantes em seu fórum de discussão, um número ainda tímido perto dos quatro mil da Jasna, a associação que atende aos fãs de Estados Unidos e Canadá.
– A grande maioria dos participantes é de mulheres com idades entre 21 e 25 anos. Eu mesma adoto os livros da Jane Austen entre meus alunos dos ensinos médio e universitários – explica Adriana.
Uma prova da popularidade de Jane Austen está em sua penetração na internet. No Facebook, a principal página sobre a autora tinha sido “curtida” (“curtir” é a maneira com que os usuários do Facebook declaram seu apreço por algum tema) por 251.581 pessoas até a última quinta-feira. Outros escritores do século XIX, como Charles Dickens (99.986 pessoas), George Eliot (5.967) ou as Irmãs Brontë (3.732), não chegam nem perto de tanta curtição.
Curioso é a forma com que os fãs interagem com sua obra. Alguns alunos de Adriana Zardini já criaram uma esquete em que a protagonista de “Orgulho e preconceito”, Elizabeth Bennet, era uma ogra verde como Shrek. O mesmo romance deu origem a “Orgulho e preconceito e zumbis” (lançado no Brasil este ano pela editora Intrínseca), de Seth Grahame-Smith, em que os personagens da autora precisam conviver com mortos-vivos em pleno século XIX. O texto de abertura da versão de Grahame-Smith faz uma paródia da frase famosa do livro: “É uma verdade universalmente aceita que um zumbi, uma vez de posse de um cérebro, necessita de mais cérebros.” “Orgulho e preconceito e zumbis” também virou uma graphic novel, lançada em maio nos EUA, e teve seus direitos vendidos para o cinema – especula-se que Natalie Portman pode viver Elizabeth.
O cinema, aliás, foi fundamental para o crescimento da paixão por Jane Austen, e um ano-chave para se compreender esse sentimento é 1995, quando, de uma só vez, foram lançados dois filmes e ainda uma série de TV baseados em obras da autora. Esta foi produzida pela emissora inglesa BBC a partir de “Orgulho e preconceito”, com Colin Firth interpretando Fitzwilliam Darcy, o popular Mr. Darcy, a paixão de Elizabeth Bennet e o personagem pelo qual as Janeites suspiram em seus sonhos. O mesmo Darcy já havia sido interpretado por Laurence Olivier na versão para o cinema de “Orgulho e preconceito” de 1940, e depois foi vivido por Matthew Macfadyen na versão de 2005. Não por acaso, o nome do galã de Firth em “O diário de Bridget Jones” (2001) é Mark Darcy.
– Eu só conheci a Jane Austen pelo filme “Orgulho e preconceito” de 2005. Dali fui atrás dos livros – conta a historiadora Ana Maria Almeida, de 31 anos, cofundadora da Jasbra e organizadora de um encontro na última semana, na Confeitaria Colombo, no Rio, para homenagear o aniversário de nascimento da autora. – Nós nos reunimos para estudar a obra, trocar experiências e falar dos personagens. As meninas trazem camisas, DVDs, livros e canecas.
Ainda em 1995, o diretor Ang Lee lançou “Razão e sensibilidade”, baseado no livro homônimo. O filme acabou indicado a sete Oscars, vencendo o de roteiro adaptado. “Razão e sensibilidade” deu origem ainda a duas séries de repercussão da BBC (uma de 1981, outra de 2008) e ao livro “Razão e sensibilidade e monstros marinhos”, da mesma editora americana que criou a obra dos zumbis e ainda inédito no Brasil. Para o ano que vem, está prevista a comédia “From Prada to Nada”, com Camilla Belle no elenco, em que “Razão e sensibilidade” é transposto para uma comunidade latina de uma Los Angeles atual.