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Vitória! – a força, a garra e a emoção do vôlei de ouro brasileiro – Nicolau Radamés Creti e Cida Santos – Cap. 594

Ciao!!!

Onde você estava no dia 9 de agosto de 1992? Sim, há exatos 20 anos? *caramba, o tempo VOA!*

Eu estava acordando cedo, grogue, para ver a decisão do vôlei masculino nos Jogos Olímpicos de Barcelona. Na véspera, tinha ido a um casamento. Estava com tanto medo de perder a hora (sim, desde sempre eu não me entendo com o tal do fuso horário) que acordei ANTES da hora e ainda vi parte da decisão do terceiro lugar entre Cuba e Estados Unidos (vitória de Cuba). Tomei café, sentei na minha cama cercada de todos os recortes de jornal que tinha feito sobre o time do Brasil e esperei a partida.

Já falei sobre Vitória – a força, a garra e a emoção do vôlei de ouro brasileiro, escrito pelos jornalistas Nicolau Radamés Creti e Cida Santos (Editora Globo, 1993) em um post no meu aniversário. O livro narra os bastidores do trabalho que resultou na conquista da medalha de ouro do vôlei masculino na Olimpíada de 1992, em Barcelona. Detalhe: foi o PRIMEIRO Ouro Olímpico em esportes coletivos para o Brasil (o futebol ganhou Prata e Bronze, mas nunca o Ouro). É impossível eu falar sobre este livro sem falar sobre como este time e este esporte mudaram a minha vida.

Desde pequena, gosto de esportes. Comecei a prestar atenção no vôlei no Campeonato Mundial de 1990, que o Brasil perdeu na semifinal e ficou em 4o. (se não me engano, deu Itália). Aí vieram os Jogos Olímpicos de 1992. Finalmente em um horário que eu poderia assistir – porque as Olimpíadas de Seul foram impossíveis de ver (lembro vagamente da cerimônia de abertura e olhe lá!). Os jogos de vôlei se infiltraram na minha rotina: os dois mais curiosos foram as vitórias contra Cuba (que fiz minha mãe me trazer de volta pra casa voando após o catecismo pra poder ver) e a semifinal contra os carecas dos EUA (eu estava no dentista, ouvindo o jogo na sala ao lado – duplamente nervosa).

Eu não sabia – só descobri 1 ano depois, quando comprei o livro – toda a jornada que tinha contribuído para montar a equipe: desde a prata em Los Angeles em 1984, o fracasso em Seul e no Campeonato Mundial. O fato de ser um time em que ninguém acreditava, com jogadores desanimados. E um técnico – abençoado seja – José Roberto Guimarães, que reconstruiu a moral e encontrou uma forma de jogar que, na época, entonteceu o mundo: tinha um falso meio – que era o Carlão – e abusava de um ritmo acelerado. Seguido por uma torcida barulhenta, que tinha uma coreografia fácil “Ai ai ai ai ai ai ai ai ai, em cima, embaixo, puxa e vai ai ai ai”. Todos sabiam a coreografia, todos entravam na bagunça – o Pedro Bial achou o cineasta norte-americano Spike Lee no meio da torcida brasileira, na maior animação! Ao ser perguntado do motivo de ter virado a casaca, Spike Lee respondeu “Quando vi a animação, pensei: ‘estou na torcida errada!’”. De repente, o time começou a ganhar e todos queriam ser Maurício, Tande, Giovane… De acordo com o livro, o maior mérito da conquista foi que todos se comprometeram, não havia vaidade, era um grupo que ralou muito para chegar aonde chegou, disposto a exorcizar todos os fantasmas do passado. E Cuba, Estados Unidos – times que sempre foram ossos duros de roer e sempre venciam – ficaram pelo caminho. Além disso, nesta época, as regras eram diferentes. Nada de ponto direto, as equipes tinham que conseguir a vantagem e confirmá-la para ter pontos – por isso, as partidas demoravam HORAS. (Anos depois, para que as TVs pudessem transmitir mais jogos, fizeram a mudança pra tentar fazer os jogos durarem cerca de 2h).

Como disse lá no post do meu aniversário é uma história que se adequa no nosso dia-a-dia, como superar as adversidades, a expectativa negativa e vencer jogando limpo e bonito. E a receita não é complicada, basta trabalhar – o técnico Zé Roberto Guimarães repetia sempre para os jogadores: “Quando você faz as coisas pensando em fama e sucesso, Papai do Céu trabalha contra!”. Tem histórias ótimas de bastidores – a “marreca”, Tande e Maurício procurando Magic Johnson na arquibancada, na semifinal contra os EUA (Tande o tinha visto no telão, contou para o amigo e os dois DURANTE a partida, entre uma jogada e outra, ficaram caçando o astro do basquete e só sossegaram ao localizá-lo), as tentativas de espionar as jogadoras da CEI (Confederações dos Estados Independentes – nome atribuído à antiga URSS no torneio, já que o país em fase de dissolução), que ficavam no prédio em frente.

Este time, este ouro olímpico fez com que vários adolescentes – eu inclusive – fossem jogar vôlei. Treinei por cerca de 3 anos, em uma escolinha. Me ajudou a sair da minha concha de pessoas reservadas e falsamente sociáveis (como boa escorpiana, aprendi a disfarçar minha antissociabilidade), comecei a conviver com gente diferente do meu círculo escola-família-igreja. Não me tornei uma jogadora oficial, mas aprendi que, para fazer o que a gente gosta, também tem que fazer o que não gosta (eu odiava os treinos físicos, mas me divertia nos treinos de defesa *sim, ser que se arrebentava toda apenas pelo prazer de não deixar a bola cair*), aprendi a ter disciplina (quando vi uma garota bloqueando, cismei que queria aprender. Fui treinar. Os auges da minha carreira de bloqueadora: quando parei um rapaz mais alto e mais forte que eu – ele ficou envergonhado e eu fui parar pra lá da linha de saque por causa do impacto. E a outra foi em um jogo-treino quando eu fui bloqueada por uma colega mais baixa que eu, que ficou curtindo com a minha cara. No ataque seguinte delas, eu fiz TRÊS bloqueios: na saída, no meio e na entrada e fiquei com o ponto pra minha equipe ha ha ha #evilbeta) e entendi o conceito de trabalhar em equipe – não adianta ser o maioral, se você não tem uma equipe tão boa quanto. No vôlei, é quase impossível carregar um time sozinho. Coisas que, mais tarde, em algum momento da minha vida pessoal ou profissional, acabei utilizando.

Para encerrar, algumas histórias rapidinhas: em 2001, no meu primeiro emprego, tive a chance de entrevistar Maurício no passeio de um supermercado aqui na cidade, quando ele veio jogar aqui pelo Minas. (Não há evidências fotográficas porque a minha irmã estava tão embasbacada que se esqueceu de tirar!). Já peguei autógrafos de outros jogadores da equipe – agora já técnicos – como o Douglas e o Talmo. E acompanhei várias entrevistas do Giovane (de quem tenho a camisa de 1992). E uma outra vez, depois de uma entrevista com o líbero Serginho, do Minas, na rádio, ele me falou que nunca tinha sido entrevistado por alguém que sabia tão bem o que perguntar. Aí tive que confessar o pulo do gato: “Eu joguei vôlei.” E ele: “Ah!”

Maurício correndo pra comemorar com a família. Foto do site Hiper Esportes.

Pra quem acha que eu sofro com o futebol, fiquem sabendo que não consigo assistir a jogos de vôlei. A saudade é tão grande que me dá vontade de sair correndo para a quadra mais próxima. Mesmo sabendo que meus joelhos não aguentam mais e que o combo miopia/astigmatismo me complicaria pra caramba (porque eu não consigo colocar lentes). No fim das contas, este livro é uma história de amor, entre um grupo e um país, um sonho a ser realizado. E de uma menina e vários futuros possíveis que sorri como boba 20 anos depois. Por isso, me emocionei quando vi esse comercial do Banco do Brasil chamado Inspiração. É muito bom ter lembranças assim para contar. 😀

Arrivederci!!!

Beta

7 Comentários

  1. Sweet-Lemmon

    Adorei o post! Ah, eu também me lembro desse dia. Ainda me lembro do Marcelo Negrão fazendo o último ponto e dps o time inteiro "escorregando de peixinho" na quadra. E depois eles foram pra Brasilia e tiraram foto com o Collor 😛

    Ai, já estou com saudades das Olimpíadas…

    bjos!

  2. Beta

    Sweet-Lemon

    Também lembro disso kkk Foi uma febre, todo mundo queria jogar vôlei, queria ser o próximo a poder entrar na quadra e fazer o que eles fizeram. No meu caso, entrei na quadra só pra contar o que eles fazem kkk Mas entrei 😀

    Bacci!!!

    Beta

  3. Beta

    Ciao, Ewerton Ricardo

    Obrigada pela sua visita ao blog e por compartilhar sua lembrança deste dia. É, já dizia Cazuza, o tempo não para…

    Bacci!!!

    Beta

  4. Beta

    Sil

    Eu me lembro de uma partida da Liga Mundial, de 1993, contra a Rússia que o Brasil perdia de 9-0 ainda no sistema antigo de contagem e virou! O Carlão bloqueou um ataque russo e deu meia volta olímpica atiçando a torcida a entrar no jogo. Foi uma loucura.
    As Olimpíadas me ajudam a tirar lembranças como esta da memória ^^

    Bacci!!!

    Beta

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