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Cap. 741 – Marilyn – Norman Mailer

Ciao!


Capa original – Goodreads
Quem acompanha o Literatura
de Mulherzinha sabe que eu tenho um radar, né? Brinco que é parecido com o “sensor
aranha” que avisa ao Peter Parker sobre o perigo iminente. No meu caso, o radar
avisa sobre séries e sobre livros que vão me tirar do prumo, para mal e para
bem.
Pois é, o radar se manifestou
sobre esta biografia…
Marilyn
– Norman Mailer – Editora Record
(Marilyn – 1973)
Não é uma biografia comum.
Neste caso, acompanhamos o relato da vida de Norma Jean Baker, que se tornaria Marilyn
Monroe, pela ótica de Norman Mailer. O livro foi lançado, originalmente,em 1973,
11 anos após a perda precoce da estrela de cinema, encontrada morta no quarto na casa onde morava, aos 36
anos.
Permitam-me uma rápida
divagação: adoro filmes antigos, ainda mais se for comédia romântica. Já fiz
maratonas de musicais e pra me recuperar de cirurgia dentária (que me
traumatizou) recorri a uma sessão de Doris Day com Rock Hudson (e potes de
sorvete napolitano – já que é para afundar na autopiedade, vou com tudo).
Minhas atrizes favoritas são Audrey Hepburn (de quem tenho vários filmes), Cyd
Charisse (entrava nos musicais com Fred Astaire e Gene Kelly, arrasava, roubava
a cena e saía diva) e Rita Hayworth (Bonita como nunca me deixou cativada na
frente da TV).
Isso me leva a por onde
quero começar: eu achei o livro difícil de ler – de fato, passei mais de uma semana com ele e não por falta de tempo. Porque não conhecia muita coisa
sobre Marilyn Monroe: no meu imaginário, ela está associada à beleza, à
sedução, ao “ser loiro”, à confusão, às grandes divas. Mas nunca me interessei
em saber mais, mesmo ela estando em um filme que eu considero perfeito: Quanto
mais quente melhor
(se não viu, veja. Aliás veja qualquer filme que tenha Jack
Lemmon, Tony Curtis e o diretor Billy Wilder). Marilyn do Norman Mailer não é
livro para iniciantes. Porque ele
mistura os relatos biográficos com as opiniões dele sobre ela. E como a
biografia de Marilyn é confusa, repleta de vácuos ou histórias que se
contradizem pelas várias versões criadas por ela mesma (em vários pontos, ele
afirma que ela era capaz de torcer a verdade sobre si mesma e sobre quem
conviveu com ela de acordo com a conveniência do momento. Então nem tudo é
mentira, nem tudo é verdade, mas é difícil separar o joio do trigo).
Outra coisa que me incomodou
e, ainda bem, aparece mais no início do livro: a indecisão do biógrafo em
decidir se conta a vida de Marilyn, se deixa ainda mais claro o que ele pensa
dela (e é uma visão extremamente sexual e um tanto sexista, que me fez pensar
em uma tara adolescente não resolvida) ou se solta farpas afiadas contra
Richard Nixon. História americana não é o meu forte, mas acho que havia coisa
demais nesta parte. Ainda bem que ele deixa o presidente do Watergate pra lá e
se dedica as outras duas missões: contar a versão dele, com suposições,
especulações e julgamentos, da vida de Marilyn Monroe.

Não vou me ater as opiniões
de Mailer – ainda mais porque não tenho base para questioná-las. Quando ler
mais sobre a atriz, talvez volte ao tema, nem que seja para contestá-las ou dar
o braço a torcer e afirmar que ele estava certo (embora meu radar apite que não
é bem esse caso).

Outra coisa: Marilyn teria
sido mais uma daquelas estrelas fabricadas em uma Hollywood que produz filmes
em caráter industrial, criando, modelando e destruindo pessoas no processo. Só
que ela tinha um algo a mais que fazia com que todos os homens a quisessem na
cama e as mulheres, mesmo as recatadas, queriam ser um pouco como Marilyn. Em uma
pessoa com personalidade forte, isso já poderia causar confusão. Agora imagine o
que este canto da sereia causa em alguém instável – porque o livro deixa claro
que a instabilidade sempre a acompanhou e reforça o fator genético (tanto a mãe
quanto a avó sofreram com problemas mentais e forte depressão) e o fato de ela se
tornar aquilo que as pessoas ao redor queriam. Em especial, os homens com quem
se relacionou. Mas como a fantasia não se sustentava por muito tempo, logo
viriam as crises, as insatisfações e os rompimentos – alguns traumáticos para
ela, outros mais traumáticos para os companheiros.
Eu me peguei com muita pena
dela em vários momentos: por buscar nos outros aquilo que fazia falta a ela:
uma segurança, um sentir-se amada e querida. E não ter encontrado uma forma de
entender que a gente nunca encontra isso fora se não construí-lo internamente
(posso ouvir a minha ex-terapeuta aplaudindo e falando “Ahá, então você finalmente
entendeu essa parte da sessão!!!”). E ela não conseguiu preencher esse vazio,
seja com os amantes, com os maridos, com as pessoas que realmente gostavam
dela, com as que tentaram utilizá-la em proveito próprio, com as luzes do cinema
e o amor do público. Sempre faltava algo e esta busca a deixou isolada (afinal
de contas, ela era um pesadelo nos sets de filmagens e o livro relata os
problemas de alguns bastidores) e acabou por consumi-la.
O livro lança de forma breve
na parte final a hipótese de que ela foi assassinada pelo FBI/CIA, como parte
de um complô contra os Kennedys. Aliás, para Norman Mailer, Marilyn não teve um
caso com John Kennedy (associação causada a várias pessoas por causa do HappyBirthday, Mr. President
),
mas com o irmão dele, Robert. Esta parte é a causa da polêmica relacionada ao
livro. Só que tem um detalhe que me deixou estressada com o jornalista Norman
Mailer (que ganhou um Pulitzer! – não com esse livro): na faculdade, a gente aprende que jornalismo é relato de fatos, de
preferência, comprovados. Da forma como ele escreveu, especialmente esta parte, são conjecturas repletas
de “talvez” e “e se”, que me fez desejar por algo mais concreto. Ok, 51 anos
depois, a morte dela após uma suposta overdose de barbitúricos permanece
cercada de mistérios. Foi suicídio? Foi acidental? Foi forjada? Meu “eu leitora
e jornalista” queria um pouco mais que “vamos imaginar que o FBI a tenha matado
para incriminar os Kennedys”, só que esta parte se encerra nisso e é muito rápida.
No mais, o meu radar
preveniu e eu confirmei: não é um livro que vai te deixar indiferente, pela
forma como o autor escolheu escrevê-lo e muito pela personagem biografada. Marilyn
era uma força da natureza, te seduz e te prende que o fascínio sobre ela vai
persistir por muito tempo. Lendo este texto aposto que você pensou na cena do
vestido branco esvoaçante (O pecado mora ao lado) ou mesmo na canção “Diamonds are a girl’s best friends” (Os homens preferem as loiras).
Serviu de inspiração para as gerações seguintes – várias quiseram ser como ela,
mas apenas ela conheceu os benefícios e o peso de tamanho poder de excitação e comoção do
imaginário. E ser arrastado por esta força da natureza não será tão simples:
terminei o livro mentalmente exausta (e com dor no pescoço, mas isso é culpa de começar a ler de forma normal e minutos depois parecer que
está fazendo contorcionismo enquanto lê). Está entre as minhas metas ler outros
livros sobre Marilyn, até mesmo para poder entender melhor as afirmações do trabalho
de Norman Mailer.
Bacci!!!
Beta
ps: Gostei das partes que
falam sobre os bastidores dos filmes, ainda mais os que me interessam – Quanto mais quente melhor (meu xodó)
e Os Desajustados, que eu ainda não vi – foi o último filme de Clark Gable (sofreu
um infarto logo após a conclusão das filmagens em novembro de 1961 e morreu
dias depois) e de Marilyn (que morreria em 5 de agosto de 1962) e ainda tinha no
elenco Montgomery Clift (outro ator morto precocemente, aos 45 anos, em 1966 e que,
não consigo explicar o por quê, mas me fascina).

ps.: Amei a foto da capa – não
consegui comprovar, mas meu radar afirma que foi feita nos bastidores de Os
Desajustados
– uma Marilyn suave, inocente, etérea, diva e feliz. Talvez o fotógrafo
tenha captado o que ela queria ser. Ou talvez seja apenas algum truque que a
minha mente me pregou após ler sobre ela.

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