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A vida secreta de Mona Lisa – Pierre la Mure – Cap. 871

Ciao!!! 
  
Este livro é uma biografia dramatizada. Foi a primeira que eu li.
Sabe onde comprei (digo, #madrehooligan comprou)? Na banca de jornal do bairro!
Comprou por causa da minha curiosidade.
E nem eu nem ela poderíamos prever o resultado deste livro na minha vida.
A vida secreta de Mona Lisa – Pierre la Mure – Nova Cultural
(The private life of Mona Lista – 1976)
“Pertence a Roberta. 10 de fevereiro de 1992”

Sim, está escrito na contracapa com minha letrinha de ensino fundamental (muito maior e redonda que atualmente)
Este livro é parte de uma trajetória que ainda não foi concluída. Começou com um desenho animado e vai ter o clímax quando eu realizar o sonho que ele ajudou a desencadear. É, esse é um daqueles posts “senta que lá vem história”. Tentarei não ser prolixa, ok. 

O ponto de partida foi o desenho das Tartarugas Ninjas que se tornou uma febre quando eu era criança. No primeiro episódio conta que o Mestre Splinter batizou as tartarugas com nome de quatro artistas do Renascimento Italiano. Crianças normais não prestam atenção nisso.
Mas pelo visto, eu não sou normal até hoje, por que seria quando criança?

Comecei a pesquisar em livros (sim, geração pós-internet, existe esta forma de aprendizado: caçar e ler coisas em prateleiras de bibilioteca) sobre o que era Renascimento e quem era cada um das referências para os personagens, especialmente o do meu preferido, Leonardo, o líder do grupo, que usava faixas na cor azul.

 
Exatamente, em 1992, eu já lia sobre Leonardo da Vinci, a propósito, nascido em 15 de abril há 562 anos. E o que me inspirou a pedir esse livro para #madrehooligan quando o vi na banca.  

O autor explica logo no início que fez as pesquisas históricas sobre quem teria sido a mulher retratada em Mona Lisa e, para isso, conta também a vida de Leonardo da Vinci. E mais que isso: pinta um retrato de uma Florença fervilhante na virada dos séculos XV para XVI, referência artística, cultural e religiosa, e que atravessou um período de instabilidade política, em uma época de rivalidade intensa entre as cidades-estados que séculos depois formariam a Itália como nós a conhecemos. 

Ele escolheu a forma de “biografia dramatizada”, destacando que considera a história como a ressurreição do povo como também dos acontecimentos de uma era passada e que seria o melhor caminho para contar a vida de uma dona de casa florentina no início do século XVI.
Sei que outras pessoas podem achar chato, longo, mas eu adoro esse livro. Eu o devorei encarar mais de 400 páginas em 4 dias, algo enorme para uma garota que, na época, tinha acesso às obras da Coleção Vaga-Lume. Ele foi o pioneiro dos livros enormes com letras miúdas na minha vida. 

De acordo com as pesquisas do autor, Lisa de ’Gherardini era filha do casamento entre integrantes de duas famílias da nobreza florentina: os ’Gherardini e os Rucellai. Ficou órfã ainda pequena (a mãe morreu de “coração partido” após a perda precoce do marido por causa de uma doença, se me lembro bem, gripe ou pneumonia após pegar chuva durante uma viagem – sim, 1500 e alguma coisa, nada de carros muito menos vacinas e antibióticos), criada pelos avós. 

As duas famílias eram muito próximas dos Medici, na época, liderados por Lorenzo, Il Magnifico, o mecenas e homem mais importante de Florença. Se tudo corresse como o planejado, Lisa poderia ter entrado para a família Medici. Só que os planos da vida, do destino ou de seja lá o nome que você queira dar foram outros. Uma mudança política e a chegada ao poder de um fanático religioso mergulhou Florença em um período de trevas. E a partir daí o caminho de Lisa a levou para outro destino e fez com que ela encontrasse um homem com idade para ser avô e que imortalizou o mistério em torno dela.
Leonardo era filho bastardo do herdeiro do homem mais rico com uma camponesa da aldeia de Vinci. Apesar de todos saberem disso, era um assunto tratado com “luvas de pelica”. Ainda pequeno foi entregue ao pai pela mãe, que se casou novamente e o segundo marido não queria a prova de indiscrição de Caterina (sim, exatamente). Encontrou em uma madrasta uma das poucas pessoas que o estimavam.

E por essa vida sem raízes e uma inteligência sem par o levaram para fora da aldeia natal, que seguiu com ele como sobrenome. 

Tão genial quanto genioso, competitivo… O episódio da disputa com Michelangelo pelo afresco mais bonito na Signoria é o melhor exemplo disso. Algum maluco achou que seria prudente colocar duas criaturas de temperamentos explosivos – Leonardo e Michelangelo – na mesma sala pra ver o que aconteceria. (Prova que tem gente que gosta do malfeito feito desde a transição da idade Média para a Moderna *aquele momento em que as minhas professoras de História choram por eu ainda me lembrar disso. Bem, História era minha matéria favorita junto com Português, então…*). Como e muito à frente do tempo, Leonardo se imortalizou pelo que conseguiu fazer, pelo que conseguiu antever e até pelo que fracassou (desviar o leito do rio? Nem atualmente funciona, imagina no Renascimento). 

Vivia sem parada, adulando nobres, prometendo obras que não conseguiria cumprir e entregando genialidades como a Última Ceia, em Milão (e quando li uma nota de que os monges abriram uma PORTA na parede onde foi pintada tive vontade de chorar), quadros religiosos e transgredindo as normas vigentes para fazer estudos de anatomia (o livro menciona que, apesar de algumas falhas, para a época, ele estava além do senso comum e perto de muitas coisas que foram confirmadas algum tempo depois), até retornar à Florença, onde foi a primeira parada após Vinci.

Depois de gastar boa parte do livro apresentando as jornadas de Lisa e Leonardo, o autor conta sobre a realização do quadro, as dificuldades que eles enfrentaram, o respeito que ele desenvolveu por ela. 

E a reta final se dedica a explicar porque o quadro por encomenda não ficou com o comprador, mas com o artista, indo com ele para o
exílio na França onde ele morreu e foi enterrado em Amboise, um dos castelos às margens do Vale do Loire.

É um relato muito vivo, muito intenso, que alimentou a minha sede de curiosidade sobre este personagem, a mulher que ele retratou e a cidade em que isso aconteceu. E cimentou a certeza de minha alma que eu sou obrigada a explicar como sonho, a de um dia ir à Florença, conhecer Santa Maria Novella, andar pela Ponte Vecchio, ir ao Estadio Artemio Franchi.

Não havia realmente fim para a sabedoria ou a graça divina. Vejam como fizera bem ao colocar Florença exatamente no centro da Itália, cercada como uma rainha por suas criadas, pelos catorze Estados da península, e bem no centro do lindo vale do Arno que se estendia desde os Apeninos cobertos de neve até o mar (…)
Invejosos, era o que eram. Invejosos, como os romanos e suas ruínas desmoronantes, os venezianos e sua cidade flutuante que poderia afundar a qualquer momento, os napolitanos e sua montanha fumegante, os milaneses com seu campo amplo e monótono – todos aqueles estrangeiros que desejavam ter nascido ali na Cidade das Flores, onde tudo era melhor do que em qualquer outra parte.
Tal como uma gárgula amorosa, ele contemplava a cidade adormecida lá embaixo.
Fiorenza! – murmurou.
Lá estava ela, a capital da República do Lírio Vermelho, com sua rede de cidades vassalas espalhadas por toda a Toscana, com sua imensa catedral, seus bancos, seus moinhos, suas igrejas incontáveis e cento e dez mosteiros e conventos. (…) Mas, agora, ela dormia tranquilamente por trás de sua muralha de quinze metros de altura. Ninguém, a não ser ele, jamais a vira assim, e todas as manhãs, por alguns momentos, ela lhe pertencia.
(relato de um monge encarregado de tocar os sinos ao amanhecer em Florença, páginas 16 e 17)
Muito antes de Código da Vinci, de Inferno, ou mesmo de vários romances que se passam na cidade. Um livro comprado na banca, que já está maltratado pelo tempo, deu corpo a um sentimento que começou assistindo a um desenho animado. Moral da história (tirando o fato de que sou uma pessoa extremamente obsessiva a longo prazo?) nunca perca uma chance, por mais improvável que seja, de aprender alguma coisa. A gente nunca sabe onde pode parar…
Não sabia, mas durante a pesquisa, descobri que o autor nasceu em 1899 e morreu em 1976 e tem romances sobre a vida de Toulouse-Lautrec e Mendelssohn. Ai, se eu achar, juro que compro na hora! Este foi o último livro, lançado no mesmo ano da morte dele.
– Links: Goodreads autor  e livro; sobre o autor na Wikipedia, no South Bay History e uma matéria de 1976 do Ottawa Citizen.
Arrivederci!!!

Beta

2 Comentários

  1. Lilian Silva

    Menina, esse é um dos meus livros favoritos também! Nunca encontrei outra pessoa que o tivesse lido! A minha edição estava em casa, com as primeiras páginas arrancadas, era de capa dura e do Círculo do Livro (meu pai adorava comprar pra ostentar mas nunca leu livro algum). Um dia eu catei o livro por pura curiosidade, comecei a folhear e… me apaixonei. Também devorei em poucos dias e o reli inúmeras vezes. Se perdeu numa das mudanças da vida…

    Não sabia que o autor já tinha morrido. Que pena! Se achar os outros dois romances dele, compro na hora também!

    Bacci!

  2. Sil de Polaris

    Ora, eu nunca sequer simpatizei com esse desenho animado tão querido para você por eu julgar um absurdo uma tartaruga posta como um ninja !!! ^^ Mas amei sua postagem sobre esse livro sobre Florença, Leonardo da Vinci, Mona Lisa !!! Sua segunda capa é magnífica, muitíssimo adequada para um livro sobre tal cidade histórica lindíssima !!! Que seu sonho torne-se realidade em breve um dia, querida !!!

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