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The Beatles: A única biografia autorizada – Hunter Davies – Cap. 1047

Ciao!!!
 
Disponível na Amazon
 
Como ler sobre uma banda sobre a qual tudo foi escrito?
Aposto que você esta se perguntando o que de novo tem esta biografia autorizada. 
Apenas o suprassumo do balacobaco: o autor foi autorizado a acompanhar a banda por 18 meses, justo quando a maré da Beatlemania estava “serenando” (do jeito que ele conta, faria tsunami parecer marola) e o grupo buscava se entender em novos conceitos artísticos. 

Em The Beatles: A única biografia autorizada, relançado agora pela Best Seller, mas publicado originalmente em 1968, Hunter Davies relata o que conseguiu ao ter um acesso único aos parentes dos Fab4, cavar histórias sobre a origem de cada um, como se uniram, antes de estourarem, o auge do sucesso.
Agora, 40 e tantos anos depois, com todo o acervo de imagens,
filmes, jornais e revistas, é mais fácil ter uma visão distanciada sobre o que foram aqueles cinco anos de explosão mundial, o que a banda dos rapazes de Liverpool representou para a cultura popular, para a música britânica se firmar (já que tudo era importado dos EUA), para a cultura mundial e para a percepção dos adolescentes como mercado consumidor. Há um momento em que cita que Brian Epson, então empresário da banda, afirma que eles até estavam preparados para o
sucesso, mas nunca para o que aconteceu. 

Eis o valor deste livro: ele é a narrativa do período no olho do furacão, quando as coisas ainda eram extremamente recentes ou estavam em andamento para serem analisadas com frieza e distanciamento. 
Por isso, ele é a base de qualquer outro livro, trabalho, estudo, texto que pretenda falar sobre a banda.
O relançamento aproveita uma parte acrescentada na versão de 2009, quando o autor preparou trechos no início e no final com informações não só dos bastidores e atualizando o que houve com vários dos
personagens principais do livro. Um apêndice também detalha o destino de pessoas famosas ou não entrevistadas por ele.
 
Hunter Davies ainda destaca que, ao reler a obra, sentiu
vontade de “polir” o texto diante da experiência adquirida desde
então. Mas optou por não alterar por considerar que é o relato de uma época, que se mantém interessante diante de toda a mitologia que foi criada (e em
alguns casos o livro contribuiu para isso) em torno dos Beatles.

E não pense que é um livro confete e serpentina.
O autor relata aspectos bons e ruins dos caráter dos integrantes, embora tenha amenizado o relato sobre a fase de uso de drogas. Você percebe que, imersos  em ego e arrogância, mesmo antes da fama, eles decepcionaram algumas pessoas, foram debochados e cruéis com quem não gostavam e traíram quem achavam que tinha que sair do caminho. 
Apesar da imagem “boazinha” da fase inicial, eles não eram santos. O que é óbvio, porque são os Beatles, mas também são seres humanos, passíveis de acertos e de erros. 

Particularmente sempre gostei do George, descrito como o mais
discreto e, já maduro, menos interessado em ser um Beatle por suas convicções religiosas. Aqui me senti mais próxima do Ringo, descrito como o cara que trazia sentimento às composições da banda e que se sentia ainda atordoado diante da velocidade com que as coisas aconteceram (afinal de contas, ele foi o ultimo a ser unir ao grupo, que pouco depois estourou. Então em comparação com o trio John, Paul e George, realmente para ele foi rápido demais).
Paul é apontado como inteligente e simpático por saber convencer as pessoas a entrarem no jogo dele, ao mesmo tempo, as pessoas
desconfiam de tanta simpatia e acham que ele é manipulador. Foi apontado como o vilão causador do fim do grupo, ao lado de Yoko Ono.
Já John é o gênio incompreendido vindo de uma família desestruturada que adotava a postura eu x mundo, com características violentas, dispostas a magoar, mas que encontrou um
alma gêmea em Yoko. Após os Beatles havia uma visão de “ex-artista ainda famoso” na Inglaterra e “artista visionário pela paz mundial” nos EUA (para ser muito simplista). Diante do relato aqui, não sei se ele seria uma pessoa com quem eu conviveria bem. Mas isso  é uma daquelas conjecturas que não leva ninguém a lugar nenhum, então, vida que segue…

O livro rememora, pelos relatos dos entrevistados, como eles eram almas incompreendidas pelo sistema educacional que tentava moldar e conformar as pessoas a um padrão de futuro onde o máximo a
ser alcançado era um emprego normal. Os rapazes que começaram como “teddies boys“, mal vestidos e sem muita noção do que era ser músicos, evoluíram, se decepcionaram, causaram decepções e não se limitaram pelo que o mundo lhes impunha como opção. Ao seu modo construíram um caminho em Liverpool, em Hamburgo, depois Grã-Bretanha e mundo afora, até que foram arrastados por ele.
 
 
O livro mostra um detalhe muito curioso que, confesso, nunca tinha pensado: como que os pais deles reagiram ao ver os filhos
transformados em fenômeno mundial. Há quem detestou, quem aproveitou a vida propiciada por isso, quem ainda não tinha conseguido absorver e quem amou ser mãe de Beatle (sim, há uma mãe “fã das fãs”, que incentivou, vibrou e apoiou tudo. E detalhe: foi quem eu menos esperava).


Ah, as fãs… O capítulo da Beatlemania, que relata a explosão na Inglaterra e mundo afora, é o mais divertido de ler. Ainda mais
porque atire a primeira pedra quem nunca foi fã apaixonado por alguma banda, cantor, cantora. Pois é, tudo que você pensar em fazer provavelmente as Beatlemaníacas fizeram em dose de fazer exagerado achar excessivo.
E detalhe: numa proporção que nunca antes na história foi vista – afinal de contas, os adolescentes não eram vistos como público consumidor até esta época. Fechar ruas, cercar hotéis, teatros, onde quer que eles estivessem, gritar até não ter cordas vocais, desmaiar por estar no mesmo local (mesmo que seja um estadio lotado), tentar invadir o palco, passar por cima da polícia, brigar pra conseguir mechas de cabelo, pedaços de roupa, ter sonhos (inclusive e
especialmente os eróticos), ficar possuída por um ódio infinito ao considerar a hipótese de um deles estar comprometido (tanto que Lennon escondeu o primeiro casamento e as namoradas de Ringo e George passaram sufoco com a ira de muitas fãs), querer qualquer coisa que tivesse a ver com eles, colecionar qualquer coisa sobre eles, descobrir um suposto telefone das casas deles e ligar (mesmo
se morasse em outro país), mandar presentes de aniversário, amar algum mais que os outros e só ver virtudes nele, detestar algum deles e se perguntar porque ele estava na banda. 

E detalhe: tudo isso numa era onde as redes sociais e os celulares nem eram cogitados. As pessoas se correspondiam por cartas escritas à mão ou datilografadas, faziam ligações urgentes de orelhões (duas importantes ligações que definiram o futuro da banda foram feitas em orelhões) e dependiam de LPs e compactos, programas ao vivo que não tinham como gravar na exibição, os filmes (e os clipes musicais) e as revistas e jornais para saber o que ocorria. Se houvesse Facebook, Twitter, Pinterest, Tumblr, YouTube e qualquer outra rede social atual acho que a humanidade não teria resistido à Beatlemania…

Eles viveram episódios como as emissoras dando boletins médicos de HORA EM HORA primeiro quando Paul estava levemente GRIPADO e um show foi cancelado ou quando Ringo fez uma cirurgia para extração da amígdalas. E também quando bastava falar dos Beatles, bem ou mal, pouco importava para ser noticia. Ou ainda quando abismados pelo comportamento ensandecido e incontrolável dos fãs os jornais passaram a buscar especialistas para tentar explicar o que estava acontecendo e surgiram todo tipo de análise. E as pessoas
tentarem atribuir significados ocultos às canções, discutindo palavras, frases, bla bla bla. Algumas delas, eles disseram ao Hunter Davies que eram aquilo mesmo, sem nenhuma mensagem cifrada.
Não. Isso não é 2015. É 1963-1966. 

O livro tem quase 600 páginas e você não vê passar, especialmente quando chega a parte que relata o sucesso até porque temos imagens mentais de fatos relatados aqui graças ao culto imortal da imagem da banda e dos integrantes. A hard day’s night, os ternos sem gola, os cabelos compridos e cortados com franja escovada pra
frente, imagens do programa do Ed Sullivan, show no Shea Stadium, condecoração pela rainha, os filmes. Se não sabe do que estou falando, a dica é ver o Anthology, que narra em imagens e músicas e depoimentos a jornada até a separação.
A terceira parte do livro é extremamente curiosa, por tratar de como eles estavam em 1968. As famílias após o sucesso da banda, a dimensão do “império Beatles”, o método de composição das músicas em que Hunter os acompanhou trabalhando e também porque ele dedica um capítulo a cada integrante. Narra onde viviam, como viviam, com quem viviam (como era a situação familiar de cada um), como analisavam a Beatlemania (em 1968, o pior havia passado, embora eles nunca pudessem agir nas ruas como “pessoas normais”), a situação de momento e o que esperavam para o futuro. E como o autor mesmo aponta no texto acrescentado nas edições seguintes: ele não percebeu, mas apontou as causas da futura separação da banda. Os quatro sempre foram unidos e se viam como diferentes aspectos de uma mesma pessoa (algo que comprometia as relações deles com outras pessoas).
No entanto, neste capítulo pessoal, cada um revela uma prioridade, o que tornaria a banda inviável. Daí para a cisão criativa, depois administrativa e que terminou na Justiça foi um pulinho.
Ah para os fãs mais preocupados: Yoko Ono é citada uma vez, em um episódio envolvendo o autor, no livro original. Ela só é mencionada no
epílogo acrescentado na edição de 1985, que complementa o destino dos integrantes da banda após o encerramento da história: a separação, as brigas entre eles, Yoko & John, a morte de John (a morte de George está na parte de abertura do livro).
E para as próximas edições, há um “sedo” na pagina 350 que pode ser corrigido, por favor.

Meus pais gostavam de Beatles, tinham LPs e depois CDs. Eu
estudei Inglês ouvindo músicas deles para aperfeiçoar vocabulário e tradução (tanto que algumas canto – maaaaal- de ponta a ponta). Ganhei DVD do show em Budokan no Japão e o CD com todas as músicas #1 deles – que, aliás, foi a trilha óbvia durante boa parte da
leitura. Deixo tocar uma vez direto e depois coloco as que gosto mais, o que varia conforme meu humor. 
Provavelmente são maiores as chances de vocês ouvirem Eleanor Rigby (já prestaram atenção nos instrumentos de corda? Não entendo, mas acho que tem violino e violoncelo porque tem sons mais graves e agudos e isso sempre me fez sentir a solidão da jovem que pegava o arroz após o casamento e que se o padre Mackenzie foi ao velório) e Paperback Writer que as outras.

Por isso eu entendo quando o autor diz que colecionou varias
lembranças do período, ainda mais das sessões na Abby Road, onde ele catava os papéis com os rascunhos das letras das músicas e que se arrepende de não ter pego mais coisas.

E entendo que ele vigie todos e qualquer leilão de memorabilia dos Beatles desde que a casa dele foi roubada em 1975 e os ladrões levaram vários objetos, inclusive um álbum Sergeant Pepper’s Lonely Heart Club Band autografado pelos quatro Beatles.
(sim, pode parar um momento pra sentir a dor por ele. Eu espero)Ótima leitura para não fãs que querem conhecer, para os que querem saber mais, para os que ainda não tem e para quem gosta de ver uma histórias incrível e ainda sim real. Ah e para jornalistas curiosas sobre o método de trabalho dos colegas diante de uma pauta imperdível. Afinal de contas, quem não gostaria de ter passado 18 meses com John, Paul, George e Ringo quando eles ainda estavam juntos nos Beatles?

Arrivederci!!!
Beta 

2 Comentários

  1. Sil de Polaris

    Rufando tambores para uma declaração perigosa: eu não tenho qualquer simpatia pelos Beatles. Eu nunca fui pega pela histeria sentida pelo ícone artístico, fosse quem fosse, incluindo esses quatro inglesinhos. Aliás eu creio amar às canções e não aos cantores, com exceções raríssimas. Beatles não é uma dessas exceções, mesmo com "Imagine". Não abalam-me nadinha, não fazendo-me cantar ou dançar mesmo.

  2. renanthesecond2

    Gosto de algumas músicas deles, especialmente as que foram usadas no filme "Across the universe", além de "Yesterday (minha preferida)" e "Ticket to ride", e os considero muito melhores que os Rolling Stones (embora na verdade sejam os Beach Boys que realmente gosto). Mas poderia viver sem eles, e não gosto praticamente nada de John – não só nunca engoli a frase "Somos mais famosos que Jesus Cristo" ou a letra anti-religiosa de "Imagine", como acho lamentável o jeito como ele tratou a primeira esposa, Cynthia, e o filho deles, Julian, e o jeito como ele se deixou dominar por Yoko, uma falsa brilhante egocêntrica que o afastou de todos que se importavam com ele, só mostra que ele podia ser muito cego.

    Renan.

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