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Cap. 1441 – Viva a vagina – tudo o que você sempre quis saber – Nina Brochmann e Ellen Støkken Dahl

Ciao!


Confesso que levei um susto quando recebi este livro como cortesia da editora
Paralela. Do alto da minha mente acostumada a caçar resposta sobre tudo
(jornalista 24/7), pensei que escapava de tudo que eu costumo escolher para
ler.
Até cair a ficha de que tem
coisa que a gente não escolhe, precisa saber. Informação salva vida. E se tem
algo que ainda é uma dificuldade para muitas mulheres é entender o
funcionamento do próprio organismo.
Viva a vagina – tudo o
que você sempre quis saber – Nina Brochmann e Ellen
Støkken Dahl – Paralela
(Gleden med skjeden: Alt du trenger å vite om underlivet –
2017)



As duas autoras são estudantes norueguesas de Medicina.
Tiveram a ideia de criar um blog chamado Underlivet (Partes Íntimas) onde
pretendiam esclarecer dúvidas sobre o organismo feminino. Imaginaram que não
teriam tanto acesso ou quando muito as perguntas vindas de adolescentes
envergonhadas de conversar com mães, pais ou médicos.
Surpresa: não foi o que aconteceu. Pela forma clara como
tiravam as dúvidas, elas começaram a ter muitos acessos e a receber perguntas
de mulheres de todas as faixas etárias e origens.
Engraçado que isso não me surpreendeu. A minha surpresa foi
outra. Mas uma coisa de cada vez. Primeiro, por que não fiquei surpresa: ora,
um dos motivos mais comuns de chiadeira meu com alguns romances é autor(a) que
trata protagonista virgem como tapada. Não ter feito sexo não deixa a pessoa
desprovida de inteligência para aprender, pesquisar e se informar nem que seja
sobre o básico: sexo desprotegido não é “prova de amor”. Até ter certeza de que
o (a) parceiro (a) não tem nada, camisinha é essencial. Evita gravidez não
planejada e doenças sexualmente transmissíveis.
A minha surpresa foi que eu me senti uma burra diplomada (e
se quiser agravante, inclua o Mestrado no balaio). Faço parte do grupo de
mulheres com acesso à informação: sou jornalista, posso pesquisar e conversar
com a médica que me acompanha desde a adolescência. E lendo o livro percebi o
quanto não sei nada sobre meu organismo e, pior, acreditava em mitos. Um
exemplo:
 

Você com certeza se
lembra da heroica luta, ou corrida,
entre os valentes espermatozoides, que nadam bravamente para ser o primeiro a
fecundar o óvulo, passivo à sua espera. Primeiro ponto: o óvulo não está
parado. Ele não está matando o tempo no bar enquanto espera ansiosamente a
chegada dos espermatozoides. O óvulo é uma diva e, portanto, em geral, está
elegantemente atrasado para a festa. (…) Não são os espermatozoides que nadam
até o óvulo: é ele quem vai boiando em direção aos espermatozoides. Muitas
vezes, eles já aguardam a sua chegada há dias…
” (p.71-72)
 

E eu tive professores ótimos nos ensinos fundamental e médio,
o que significa que eles aprenderam errado! As autoras reclamam de coisas que
são perpetuadas nas salas de aula das escolas e universidades da Noruega e que
elas mesmas só descobriram que não era assim ao pesquisar para o livro. Agora
se isso ocorre na Europa, tida por nós que vivemos abaixo do Equador como a
referência a ser alcançada, imagine no Brasil.
Mas faz muito sentido: desde pequenas as meninas não são
incentivadas a perguntar sobre o próprio corpo. Há desde os momentos bobeira de
perguntas entre risinhos ou que te deixam vermelho-brilhante (sim, se você não
passou por esta fase, parabéns. Dependendo da pergunta, eu engasgo até hoje
para fazer). Claro que há famílias que conversam abertamente sobre as mais
diferentes questões relacionadas à sexualidade – mas pelo que percebemos por
aí, ainda não é a maioria, seja pelo fator cultural, por influências religiosas
ou por pressão social. Por isso quando garotas (independente da idade) encontram
uma chance de fazer isso sem sofrer recriminação ou se tornar alvo de algum
comentário debochado – como foi com o blog das autoras – aproveitam.
Amigas e amigos, é fato: o ser humano é um trem muito
complexo. Seja pelo aspecto físico, psicológico, mental… Visto do lado de
dentro, então, misericórdia. Não dá pra você cravar isso ou aquilo, porque logo
irá descobrir que existe muito mais do que supõe. E desinformação, informação
incompleta ou mitos não ajudam ninguém sobre
assunto nenhum. Só atrapalham. Imagina então quando envolvem
saúde.
As autoras elencaram os temas mais solicitados no blog e
elaboraram este livro para responder e analisar as principais dúvidas. Abordam
desde a composição do aparelho genital, sexo, gravidez, virgindade, doenças,
uso de contraceptivos, abortos. Tudo isso, equilibrando a parte técnica – elas
são estudantes de Medicina, afinal de contas – sem serem chatas ou pedantes. Ilustrações
ajudam a gente a entender do que estão falando. Não é um livro que grita “eu
sei e você não sabe”, mas um que te chama e diz o que está na capa “aqui tem o
que você precisa saber”, mesmo que nunca tenha se dado conta desta necessidade.
E se você quiser ter certeza do trabalho delas, o anexo tem mais de 32 páginas
de bibliografia que elas consultaram para elaborar o livro.
Em um meio onde tanta gente diz nada com coisa alguma, fico
feliz que Nina e Ellen souberam usar a internet de forma positiva e que criaram
uma fonte confiável sobre o assunto. Resultado: o livro que eu não esperava
ler, se ganhou uma cadeira cativa na estante.
Bacci!!!
Beta

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