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Cap. 1504 – Céu sem estrelas – Iris Figueiredo

Ciao!

Confesso que não esperava o que encontrei neste livro. Embora não tenha os mesmos problemas que Cecilia, consigo me identificar com algumas das razões da insatisfação dela.
E sim, ver sua vida ser medida – e determinada – pela régua alheia pode causar sérios danos a você mesma.
Ah, sim, depois vamos falar sobre Robertas?
 
*** Texto originalmente escrito para o Histórias Sem Fimque a Ana Carla gentilmente permitiu que fosse publicado também no Literatura de Mulherzinha! Obrigada, Ká! ***
Céu sem estrelas – Iris Figueiredo – Seguinte
(2018)
Personagens: Cecilia Souza e Bernardo Campanati
A vida de Cecília tinha chegado a um ponto onde nada funcionava: demitida, péssima relação com a mãe que priorizava o padrasto, insatisfeita e se sentindo totalmente deslocada no mundo. Abrigada na casa de amigos, começa a perceber que os sentimentos por Bernardo são além da amizade, mas quando até isso sai dos trilhos, ela sente que nada mais – além da dor – faz sentido. E que tipo de amanhã pode haver para quem não tem mais estrelas no céu?
Comentários:
Eu respondo a pergunta acima: não podemos desistir diante dos problemas, porque todos eles passam. E no caso de Cecília – e assim foi no meu – a orientação é buscar ajuda. Às vezes, não basta ter fé e esperar, precisamos agir e contar com a orientação e o apoio de especialistas que vão indicar as melhores formas de passar pela turbulência e sair mais forte dela. Não vai ser fácil. Mas vai te tornar mais forte. Pode crer.
Cecília era infeliz e tinha razões de sobra: nunca se sentiu verdadeiramente amada, o que a fez duvidar do sentimento de todas as outras, inclusive de quem gostava dela sem restrições. O mais cruel é que nem ela se amava. Como poderia, se não tinha o conhecimento deste sentimento sem alguma condicional “se eu fosse assim ou assado”. Sempre se sentiu deslocada por causa de tudo que sempre ouviu a respeito da própria vida. Como ouvi recentemente em uma palestra, a culpa – que a gente tem ou pensa ter – é a mãe de todos os problemas: ela não nos deixa ser livres, nos prende ao remorso, faz com que tenhamos uma visão correta de nós mesmos, nos deixa para baixo e alimenta outros sentimentos semelhantes. Quem vai ser feliz se sentindo indesejada, um incômodo, alvo da pena de todos e que só faz tudo errado?
Ah, ela era infeliz por ser gorda. Não. Ela era infeliz, isso fazia com quem não tivesse autoestima e aí vem o efeito dominó de se sentir desconfortável no próprio corpo. E sempre se comparar com os outros e sair perdendo na comparação. E ainda tem aquelas criaturas que, intencionalmente ou não, ajudam a cimentar este pensamento com frases “bobinhas” que vão onde mais doem (eu me vi dando kabongadas numa tia de Cecília em alguns trechos da história. Sério).
Não estou dizendo que é pra adotar a atitude oposta “eu me amo, me adoro, não consigo viver sem mim”. É apenas para ter uma visão mais realista de si mesma: não existe perfeição. O livro deixa isso bem claro ao mostrar que os personagens são mais por trás das aparências: amei Rachel não se deixar limitar por uma cadeira de rodas e amei ver que a família que Cecília julgava ser perfeita tinha rachaduras graves.
Você não precisa seguir padrões que são determinados pelo mercado, por uma visão da sociedade. O maior valor do mundo está nas diferenças: se todo mundo fosse igualzinho, que graça teria? Eu gosto do meu cabelo maluco, gosto de usar óculos, detesto usar saltos e ai de quem tenta sugerir o contrário. Nunca serei capa de revista, mas e daí? A gente tem que filtrar o que ouve por aí, para não acabar doente de verdade. E tem gente que se sacrifica de forma bárbara para atingir isso, sendo que nem era necessário.
Olhem os quadros do Renascimento Italiano e do Maneirismo: o modelo de beleza feminina dos artistas era totalmente diferente do atual. Ou seja, se a beleza está nos olhos de quem vê, façamos nossos olhos enxergar o que é realmente bonito – e como diz em O Pequeno Príncipe: o essencial é invisívelaos olhos -, não o que dizem ser.
Por não ter esta base emocional e sentimental, Cecília sofre. Por não encontrar apoio e se sentir sozinha, ela sofre. Por não conseguir se adaptar, ela sofre. Por tentar ignorar tudo isso e fazer de conta que vai passar magicamente, ela sofre. O livro vai mostrando o caminho que a leva a não conseguir mais fugir de si mesma e como ela (não) lida com isso.
A situação de Cecília gera consequências dolorosas, lidando com a vergonha ainda maior de si mesma, o fato de não conseguir se abrir nem com as pessoas em quem confiava e no fato de que temia que todo mundo a considerasse louca. (Ignora os sábios de plantão e os doutores formados em internet e procure alguém que ajude a entender as causas, tratar as consequências: psicólogo, psiquiatra, terapeuta. Sério. Faz muita diferença – para melhor)
Por mais que algumas pessoas queiram realmente ajudar, é a própria Cecília que precisará encontrar a forma de se dar um basta. Se nós somos nosso próprio veneno, somos também a cura. Ninguém será capaz de fazer com que a gente se sinta bem por mágica. Não existe bibidi babidi boo. É algo que precisamos construir em nós mesmos. Cecília vai perceber que todo dia é uma luta diferente, alguns são bons, outros são ruins, e tem aqueles que são melhores, mas um fusca azul pode ter tudo que ela mais ama e inspirá-la a seguir em frente.
Músicas fazem parte da minha terapia e já comentei a importância que o Il Volo tem na minha vida. Enquanto lia a trajetória de Cecília, ouvi várias vezes uma música que é da Natalia Jiménez com quem eles cantaram na apresentação do Latin Grammy em 2015. Recomendo conferir prestando atenção na letra.

Links: Goodreads livro e autora; site da editora; site da autora; Skoob.
Arrivederci!!!
Beta
ps.: Precisamos falar sobre Roberta: estou feliz por ver meu nome aparecendo nos livros – o que é raro pra caramba. No caso deste livro, fiquei meio ressabiada por um motivo sentimental (que até eu me surpreendi ao perceber as causas da indignação contra a personagem
que compartilha meu nome): Cecília era o nome da minha avó. Aliás, é por isso que #MadreHooligan quer ler este livro em breve. Então me perdoem, por desta vez, ter torcido para a Roberta ter outro nome e pensado que seria bom ter uma Roberta legal pra variar…

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