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Cap. 1575 – Correspondentes – Memória Globo

Ciao!

Eu sou
jornalista. E tenho bacharelado e mestrado em Comunicação Social.
E
tenho muito ainda a aprender. Este livro comprova isso.
*** Texto originalmente escrito pro Livrólogos, que a Rosana
gentilmente permitiu que fosse publicado no Literatura de Mulherzinha.
Obrigada, Rô! ***
Correspondentes – Memória
Globo – GloboLivros
(2018)
Era uma vez… uma garota que, de tanto ler National Geography quando era criança, cismou
que um dia escreveria e veria uma matéria naquelas páginas.
(Engraçado que eu sempre pensei em escrever, nunca em tirar fotos – uma marca
registrada da revista, graças ao trabalho de fotógrafos excepcionais)
Até que, na faculdade, meu melhor amigo (que é o bom senso
em pessoa) me disse que nunca me imaginaria em um lugar inóspito atrás de uma
matéria.
E ele tinha razão: acabei descobrindo e me estabelecendo em
novos sonhos – onde faço o possível para ser tão útil quando se tivesse me tornado
a aventureira da National Geography.
Isso veio à minha mente enquanto eu lia as memórias dos 20 correspondentes
nos escritórios da Rede Globo no exterior, desde a criação até 2018. Não é
a primeira vez que este assunto aparece no Literatura de Mulherzinha: já escrevi aqui
sobre o livro
Crônicas de Repórter, do
Pedro Bial, onde ele transformou em crônicas momentos da carreira jornalística.
Depois de ler as experiências de Sandra Passarinho, Lucas
Mendes, Roberto Feith, Luís Fernando Silva Pinto, Ricardo Pereira, Sérgio Motta
Mello, Sílio Boccanera, Renato Machado, Ernesto Paglia, Pedro Bial, Ilze
Scamparini, Caco Barcellos, Sônia Bridi, César Tralli, Marcos Uchôa, Edney
Silvestre, Jorge Pontual, Marcos Losekann, Roberto Kovalick, Rodrigo Alvarez,
tive uma certeza de que nenhuma pessoa normal faz jornalismo.
Quem faz jornalismo sabe que vai ser criticado não importa o
que faça. Ainda mais agora, em tempos tão polarizados, as pessoas querem que
você concorde com elas, porque não querem diálogo, querem ter razão – volta e meia
vejo nas redes sociais “só a minha opinião importa, nada mais”.
O probleminha é que vivemos em sociedade, um monte de
opiniões conflitantes e de situações que precisam ser mostradas e refletidas. “Ah,
mas o que uma guerra lá longe tem a ver com o Brasil?” Muita coisa. Neste mundo,
se um país entra em crise, outros podem se ver afetados – de diferentes formas –
antes do sol nascer.
Por isso é importante ouvir, saber e conhecer realidades
diferentes das nossas. Todos os correspondentes citaram isso: que buscam
mostrar o país onde estão pelo viés do impacto na rotina do brasileiro. Seja um
avanço tecnológico, um caso raro, como eles celebram o Natal, a rotina do
Vaticano, a família Real da Inglaterra, as notícias do presidente dos Estados
Unidos, terrorismo, as tragédias naturais e as guerras.
Ah, as guerras. Muitos deles estiveram em países da América
Central e do Oriente Médio para cobrir conflitos. Os relatos destacam os riscos
para a população, para as equipes de reportagem (em locais tensos, as pessoas
atiram, não importa em quem), os limites para ir atrás da notícia. E também mostrar
as consequências, como a imigração em massa dos locais em guerra para a Europa –
onde as pessoas não hesitam em colocar a vida em risco para fugir de uma
situação pior.

Todos os correspondentes relataram as dificuldades de viver
fora do Brasil, desde se estabelecer, a se comunicar (pensa em todos que foram
para a China e para Tóquio, linguagem e realidade bem diferentes da nossa). Também
mostraram como se viraram quando a vida era menos tecnológica ou mesmo quando os
avanços não facilitaram o trabalho. Ou quando foram sozinhos para determinado
país e contaram com apoio de equipes locais. Parece aventura, mas desgasta.
Aliás, vários contaram o desgaste emocional da profissão. De ver,
ouvir e sentir as dores, mazelas, sofrimentos dos outros. Nenhum repórter pode
se deixar levar, mas também não pode se impedir de ter empatia – e isso causa
traumas em quem conta a história. Algumas imagens nem chegaram a ir ao ar, mas
não saíram da cabeça de quem as viu.
Também destacaram quais características um jornalista que
quer ser correspondente precisa ter: saber falar mais de um idioma é
fundamental; ser curioso; observador; ler muito; entender em que lugar está e
qual a melhor forma de mostrá-lo para o Brasil; aguentar trabalhar sob pressão;
ter ideias rápidas; saber trabalhar em equipe; ter limites; ser corajoso, mas
não ser imprudente; como agir diante de uma informação em primeira mão ou como
contar – com um diferencial melhor – aquilo que já foi contado antes.
Reparou que eu não citei especificamente nenhum episodio que
foi narrado, né? E tem histórias maravilhosas e doídas. Que graça teria eu
contar? Você tem que ler para saber como todos eles lidaram com isso e o
trabalho que deu desde a descoberta até o material ir ao ar. Não se faz TV –
nem jornalismo – em passe de mágica. É muito trabalho, mesmo. Posso garantir.
Pessoas normais correm deste tipo de encrenca – por que é uma
baita encrenca. Outros – como eu – correram e correm todo santo dia de braços
abertos em direção a ela. Eu ajudo a contar as histórias da minha cidade e
região. Eles viajam e trazem para a gente momentos do mundo. E a gente percebe
que muitas coisas – boas e ruins – não tem fronteiras.
Nem todos os correspondentes de que me lembro participam do
livro. Senti falta do Márcio Gomes (que foi depois do Kovalick para o escritório
em Tóquio e voltou ao Brasil neste ano, sendo substituído por Carlos Gil); da
Déliz Ortiz (correspondente em Buenos Aires); Renata Ceribelli e Hélter Duarte
(correspondentes nos Estados Unidos); do André Luiz Azevedo (correspondente em
Portugal); Pedro Bassan (
China, antes da Olimpíada de 2008) e Renato Ribeiro (na Alemanha, antes da Copa de 2006 e África do Sul, antes da Copa de 2010). Ou seja, é possível fazer
um Correspondentes 3 tranquilo.
Mas Correspondentes 3? Não está errado. É que minha outra sugestão
para o Memória Globo é fazer um Correspondentes 2 com os repórteres cinematográficos.
Gostei muito das histórias que eles contam neste livro, mas o foco está nos
repórteres. Seria legal ter um livro apenas para os cinegrafistas porque muitas
pessoas se interessam por estar nos bastidores e querem ouvir a experiência de
quem viu e registrou o mundo por trás da lente da câmera.

Links: Goodreads livro e autorsite da editora;
site do Memória Globo;
matéria do G1; Skoob; programa Conversa com o Bial de 3 de setembro (com a presença da Sônia Bridi, do Luís Fernando Silva e do Ernesto Paglia).
Arrivederci!!!
Beta

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