Ciao!!!
Eu sou muito suspeita quando se trata de Leonardo da Vinci, o aniversariante do dia (são 567 anos do nascimento dele na aldeia toscana que se tornou o sobrenome dele), tanto que ele já apareceu aqui várias vezes – e voltará outras, com certeza.
Adoro saber sempre mais sobre um dos grandes (para mim, o maior, mas não sou especialista) nomes do Renascimento Italiano. Pouco importa se você prestou atenção em da Vinci por causa das Tartarugas Ninjas ou do Dan Brown: cada livro sobre ele me traz novos aprendizados para a vida.
Disponível na Amazon
Leonardo e a Última Ceia: uma biografia da obra-prima de Da Vinci – Ross King – Record
(Leonardo and the last supper – 2012)
O livro, como bem entrega o título, foca nos anos em que Leonardo da Vinci passou em Milão quando recebeu e executou a encomenda de fazer o mural da Última Ceia. Mas para isso precisa situar quem era Leonardo da Vinci, o barril de pólvora político que eram os estados que compõem atualmente a Itália como a conhecemos, por que ele estava em Milão e o que levou a ser escolhido para realizar a pintura.
“Ah, ele era um gênio, chegou lá, olhou a parede, desenhou e pronto: obra-prima”.
Não.
Não é pegar o pincel e rabiscar a partir de uma inspiração. Longe disso.
Que Leonardo era um gênio é fato. No entanto, ele não era o artista disciplinado, como outros da época, que trabalhavam de forma organizada e conforme limitada por contratos.
“A história é, não obstante, extremamente poderosa e sugestiva. Treze homens sentados à mesa participando de um banquete: um líder carismático e seu grupo de irmãos, cuidadosamente selecionados e dotados de poderes especiais. Encontram-se reunidos numa cidade ocupada, cujas autoridades estão conspirando contra eles, esperando o momento de atacar. E, no
meio deles, repartindo o pão com eles, há um traidor.
Não se tratava de cena à qual tapeçarias e janelas de vitrais fariam jus, nem destinada a provocar silenciosa e serena
contemplação. Exigia algo mais”.
Ao que tudo indica, como relatado neste e em outros livros que li: Leonardo não fazia nada aleatoriamente. O maior desejo ao longo de toda a vida dele era adquirir conhecimento – praticamente sobre tudo que gerava alguma curiosidade ou dúvida. Por isso, ele deixou registros de áreas tão variadas e de coisas que só foram se concretizar séculos depois, com o avanço da tecnologia.
A “Última Ceia” é um mural pintado com a técnica do afresco no refeitório da igreja e convento de Santa Maria dela Grazie em Milão.
“Pozzo descreveu o processo de modo sucinto. ‘Chama-se afresco’, escreveu, ‘porque a pintura deve ser feita enquanto a argamassa ainda estiver fresca; e, por essa razão, não se pode espalhar a argamassa numa porção maior do que se pode pintar num dia’. Portanto, criava-se o afresco seção por seção, dia após dia, com o pintor trabalhando rápido em pequenas porções de argamassa úmida. Como salientou Pozzo, era preciso executar o afresco ‘com muito mais celeridade’ que qualquer outro tipo de pintura”.
Foi a primeira vez que ele usou a técnica do afresco e tratou de fazer isso à maneira dele. As decisões – afinal de contas, Leonardo era conhecido por ser um procrastinador nato – e quais as misturas necessárias para conseguir que a tinta afixasse na parede e para conseguir as cores que ele pretendia. Isso trouxe impactos para a preservação da obra que chegou até a nossa geração (o que teve a ajuda dos monges que ABRIRAM UMA PORTA na parede. Sim, isso mesmo que você leu – olha a foto abaixo)
Para criar a imagem, Leonardo leu os Evangelhos e pesquisou diferentes textos para entender o momento da Última Ceia – o que terminou tornando a escolha pela representação não do momento da instituição da Eucaristia. Leonardo decidiu retratar as reações após o instante em que Jesus anuncia que um dos apóstolos iria trai-lo.
Gente, foi o mesmo homem que fez um sorriso – o da Mona Lisa – fascinar o mundo até hoje, vocês acham que ele faria alguma coisa de forma simplória? Lógico que não. Ele usou e abusou de todo conhecimento que tinha adquirido até então – e ainda foi atrás de mais informações. Por isso, quem se dedica a analisar o mural encontra sempre alguma novidade. Seja no uso da perspectiva, nas cores, na forma como Leonardo pintou um afresco, na representação da reação de cada apóstolo – ele tem um texto sobre isso…
Aliás, o livro destaca que Leonardo tinha vários cadernos de anotações. Uma das novidades (pelo menos, não me lembro de ter ido especificamente isso): em um deles, datado de 12 anos antes da encomenda, ele tem vários esboços de homens sentados nos bancos de pedras nas ruas e praças – os “sabe-tudo dos bancos”, por observar algo que era comum em Florença. Em outro, há esboços de ele transformando estes homens em uma possibilidade dos personagens da Última Ceia.
Gente, é observação do cotidiano gerando conhecimento que gera uma obra que inspira ainda mais conhecimento. Ele prestava atenção nas coisas, questionava os motivos, como isso render desdobramentos e dialogar com outros temas, especialmente os que nem tinham a ver diretamente.
“Leonardo não gostava, portanto, de trabalhar segundo os métodos testados e aprovados de seu tempo, de ver o mundo com os mesmos olhos de todas as pessoas e de produzir uma profusão de retábulos que pouco diferiam do que os pintores vinham fazendo nos últimos cinquenta anos. ao contrário, vivia realizando experiências, impondo a si mesmo tarefas quase impossíveis. Queria criar formas visuais totalmente diferentes e únicas: formas inspiradas não em pinturas mais antigas, mas sim no mundo que o cercava. Muitos de seus contemporâneos eram técnicos competentíssimos, capazes de criar obras de artes refinadas e agradáveis para satisfazer o cliente. Mas não escalavam montanhas nem estudavam músculos de cadáveres. Leonardo tinha uma visão mais profunda e divertida do mundo, e um conceito mais ambicioso e exigente de como a arte deveria captá-lo e interpretá-lo”.
Estes comentários são alguns dos pontos que marquei como importantes para mim. Há muito mais lá que pode instigar quem estiver lendo. Sinceramente, se você quiser estudar (quem me indicou este livro foi a minha irmã, que é professora doutora em História da Arte) ou se for apenas uma pessoa curiosa, como eu, este livro é totalmente recomendado.
É técnico, sem ser chato, informativo sem parecer pedante e deixa a gente completamente encantado em como um homem no século 15 conseguiu transformar um mural em algo muito além do que a gente vê.
Leonardo era genial. E toda vez que aprendo mais sobre ele, faço essa reverência.
Arrivederci!!!
Beta