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Cap. 1587 – Eu achava que isso só acontecia comigo: como combater a cultura da vergonha e recuperar o poder e a coragem – Brené Brown

Ciao!


Não discuto
mais com minha intuição literária, ou como brinco, meu “sensor aranha” para
livros. Se algo me diz “leia!”, simplesmente dou um jeito de conseguir.

Sabe aquele
livro que você nunca pensou em ler, sobre um assunto que você, mesmo neste
mundo marcado pela overdose de informação, nunca atinou com todas as letras?

Pois é, foi
meu caso com este livro. Foi o que houve aqui. A capa e o título chamaram minha
atenção. Pronto, não sabia, mas havia encontrado um dos melhores livros deste
ano.

E agora estou
recomendando para todo mundo, porque a pesquisa da dra. Brené Brown fala
diretamente sobre coisas que todo mundo já passou/está passando. E a gente não
percebe o quanto isso pode ser tóxico na nossa vida.

Para ilustrar, recorri a algumas tirinhas que a incrível Sarah Andersen publicou no Twitter.
Eu
achava que isso só acontecia comigo: Como combater a cultura da vergonha e
recuperar o poder e a coragem
– Brené Brown – Sextante
(I thought it was just me: Women reclaiming power and courage in a culture of shame – 2007) 

A
vergonha é um sentimento ou uma experiência intensamente dolorosa de acreditar
que somos inadequadas e, portanto, indignas de aceitação ou de acolhimento. As
mulheres costumam experimentar a vergonha quando se veem emaranhadas numa teia
de múltiplas camadas de expectativas sociocomunitárias conflitantes e
antagônicas. A vergonha cria sentimentos de medo, recriminação e desconexão.

Exatamente. Vivemos, sofremos e replicamos a “cultura
da vergonha” todo dia nas nossas vidas. Às vezes, sem perceber, porque nos condicionaram
ou nos condicionamos a isso. Muitas vezes sem admitir os efeitos que sentimos,
porque, ah, ninguém vai nos levar a sério.

Mas a Dra. Brené Brown levou (assim como outras
pessoas que ela cita ao longo do livro). A professora e pesquisadora na
Universidade de Houston, há 16 anos estuda a coragem, a vulnerabilidade, a
vergonha e a empatia. 
Neste livro, ela trata sobre a vergonha –
especialmente como uma cultura que restringe e limita a vida das mulheres, provocando
consequências que podem levar até a doenças. 

Ao
passarmos por uma situação de vergonha, nos sentimos expostos, vulneráveis e
deixamos de ver o todo para enxergar uma parte – justo a que não favorece sentimentos
positivos e torna tudo pior.

“A
vergonha vem de fora – das mensagens e das expectativas de nossa cultura. O que
vem de dentro é uma necessidade muito humana de pertencimento e de
relacionamento.”
 

“Nossa
cultura nos ensina sobre a vergonha – é ela que dita o que é aceitável e o que
não é. Não nascemos ansiando por corpos perfeitos. Não nascemos com medo de
contar nossas histórias. Não nascemos com o medo de envelhecer demais e
acabarmos não sendo mais valorizadas”.

(…)
Ao vivenciar a vergonha, reagimos com todo o nosso ser. Trata-se de uma experiência
que afeta a forma como sentimos, pensamos e agimos, e, com frequência,
apresentamos uma forte reação física diante da vergonha. Em outras palavras, a
vergonha é uma emoção de fundo – ela nos atinge no cerne e irradia por todo
nosso ser.

Por meio de
vários expedientes, a “cultura da vergonha” faz com que as mulheres se sintam
desconfortáveis na própria pele, por nos tornarmos reféns de uma expectativa
irreal imposta pelos outros ou por nós mesmos.
Segundo ela,
há estudos que já consideram a vergonha como “uma epidemia silenciosa” pela
dificuldade em falarem sobre ou como ela afeta e influencia a própria vida,
família e todo o entorno. Por isso, não é incomum que as mulheres se revezem
nos papéis de vítimas e algozes umas das outras e de quem convive com elas.
 

A
vergonha desfaz nossa conexão com os outros. De fato, costumo chamá-la de “medo
da desconexão” – o medo de ser percebida como inadequada e indigna de aceitação
ou acolhimento. A vergonha nos impede de contar nossas histórias e de ouvir as
pessoas contarem as suas. Silenciamos nossas vozes e guardamos nossos segredos
por medo da desconexão.

Por isso é necessário entender que, sim, a “cultura
da vergonha” é organizada por gênero. Os fatores que desencadeiam o processo
nas mulheres são bem diferentes do que ocorre com os homens (no caso deles, o
fator opressor principal é nunca aparentar ou ser fraco, conforme pontos já
percebidos em um estudo específico que estava em andamento na época que o livro
foi escrito). E isso aparece em todo o entorno, reforçada em todas as opções de
mídia possíveis.

As
mulheres com frequência experimentam a vergonha como uma teia de expectativas
sociocomunitárias, formada por camadas conflituosas e contraditórias. Tais
expectativas ditam: quem devemos ser, o que devemos ser, como devemos ser.

“Definirei
quem você é e então farei com que acredite que essa definição é de sua
autoria.” Essa explicação estarrecedora [da psicóloga Robin Smith] captura o
que a vergonha faz conosco. Ela nos obriga a botar camisas de força designadas
pelo gênero e depois nos convence de que nós a vestimos sozinhas e que gostamos
de usá-las.

Como
nós, eles [os homens] experimentam a vergonha como o sentimento ou experiência
intensamente doloroso de acreditar que somos inadequados e que, portanto, não
somos dignos de aceitação ou acolhimento. Para os homens, tudo se centra em
torno da masculinidade e do que significa “ser um homem”. Para os homens, tudo
se centra em torno da masculinidade e do que significa “ser um homem”. Em
outras palavras, como experimentamos a vergonha pode ser igual, mas “por que
experimentamos a vergonha” é bem diferente.

Dra. Brené Brown destacou
que várias mulheres entrevistadas relataram se sentirem isoladas, sozinhas, sem
apoio de pessoas próximas ao passarem por situações de vergonha. E isso
alimenta sentimentos como desespero, desesperança, solidão – o que “obriga” as
mulheres a fazerem qualquer coisa para não se sentirem excluídas. Inclusive replicar
ou transmitir os padrões impostos aos outros.

Além disso, a partir de várias entrevistas
com mulheres de diferentes situações, elenca possibilidades de desenvolver
resiliência à vergonha e aprender a tirar algo de bom e não se deixar levar
pelos efeitos ruins da experiência. Tudo começa com a gente encontrando o nosso
poder verdadeiro, baseado no tripé
consciência, escolha e
mudança.

O
Dicionário Merriam-Webster define poder como “a capacidade de agir ou de
produzir um efeito”. O poder verdadeiro é basicamente a capacidade de modificar
algo que se quer modificar, de promover mudanças. O poder verdadeiro existe em
quantidade ilimitada – não é preciso brigar por ele. E o bom é que temos
capacidade de criá-lo. Ele não nos obriga a tirar nada de ninguém – é algo que
criamos e construímos com os outros
.

Ao optar – e principalmente PRATICAR – pela
mudança, identificando os gatilhos da vergonha, buscando pessoas a quem
recorrer para analisarmos de forma ampla a situação e identificar aspectos
positivos que levam à superação, entendemos o problema, os impactos e, olhem
só, a importância de não fazer isso com ninguém. Ou seja, despertamos a
resiliência à cultura da vergonha.

“(…)
refiro-me à capacidade de reconhecer a vergonha no momento em que a vivenciamos
e passar por ela de uma forma construtiva, que nos permita manter a autenticidade
e crescer a partir de nossas experiências. E nesse processo de enfrentar
conscientemente a vergonha, é possível construir conexões mais fortes e mais
significativas com as pessoas.
Empatia
é o antídoto mais forte para a vergonha. Não se trata apenas de suprir nossa
carência de empatia. A resiliência exige de nós a capacidade de reagir aos
outros com empatia. Mulheres com altos níveis de resiliência à vergonha sabiam
ao mesmo tempo dar e receber empatia. (…) A empatia cria um ambiente hostil à
vergonha, e ela não consegue sobreviver”.

Não é fácil. Existirão momentos difíceis,
porque é nadar contra a maré do que é dito – seja assim, se vista assim, se comporte assim, não quebre o padrão, não
seja estranha
– e nem todos vão entender. Especialmente quem está próximo. Quanto
mais entendermos de forma saudável nossas virtudes e defeitos, podemos nos
aperfeiçoar como pessoas, libertar das amarras desta cultura que quer nos pasteurizar
por meio de expectativas irrealizáveis ao invés de valorizar o que cada um tem
de melhor e de único.

Quando
homens e mulheres se envergonham mutuamente e reforçam expectativas de gênero
inatingíveis, a intimidade é assassinada. Se não conseguimos ser autênticos,
não somos capazes de nos conectar de um modo significativo. Nossos
relacionamentos se afastam da compaixão e da conexão em direção ao medo, à
recriminação e à desconexão. Acho que ninguém deseja isso para si mesmo ou para
nossos filhos.

Esse texto ficou
enorme? Sim.
Mas viu como
tudo faz MUITO sentido? Basta reparar como essa cultura da vergonha está
inclusive na base de vários romances – de banca, livraria, badalados ou não –
que lemos.

Dra. Brené Brown, muito obrigada por todo o seu
esforço. Não sabe o quanto me fez bem. E por isso recomendo: se tiver a chance
leia e reflita sobre este livro e PRATIQUE. O mundo pode ser melhor, se a gente
se esforçar para sermos melhores de uma forma positiva, não sob as amarras
doentes de expor nossas fraquezas, ao invés de ajudar a enfrentá-las e evoluir.
 

Somos
programados para a conexão. Ela está em nossa biologia. Como bebês, nossa
necessidade é uma questão de sobrevivência. À medida que crescemos, a conexão
significa prosperar dos pontos de vista emocional, físico, espiritual e
intelectual. A conexão é crucial, pois todos temos a necessidade básica de nos
sentir aceitos e de acreditar que pertencemos ao grupo e somos valorizados pelo
que somos. Acredito que é possível criar uma cultura da conexão apenas fazendo
escolhas diferentes. A mudança não exige heroísmo. A mudança começa quando
praticamos a coragem comum.
 

Arrivederci!!!
Beta

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