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#LdMEntrevista: @arinoert

Ciao!

 
“Lulu da Pomerânia do Renascimento”
“Vira-lata caramelo do Renascimento”
“Pincherlangelo”
“Pudim de Ódio”
“menino-cupido-amante-bluetooth-de-treta”
A forma bem-humorada de contar histórias – algumas não tão conhecidas por muitas pessoas – sobre artistas como Leonardo da Vinci, Rafael Sânzio, Michelangelo Buonarrotti, Michelangelo Marisi (Caravaggio) ou sobre a tentativa de Monteiro Lobato de cancelar Anita Malfatti – fez com que as threads de @arinoert se tornassem aguardadas leituras obrigatórias no Twitter. E não foi só para mim, mas para um monte de gente!

Ari é minha conterrânea, nasceu em Juiz de Fora – sim, o mundo é a gema de um ovo de codorna, mas a gente não se conhece pessoalmente ainda. Formada em psicologia e design gráfico, é uma pesquisadora independente de História da Arte, pensando em Mestrado e Doutorado. Atualmente mora e trabalha como fotógrafa em São Paulo (todas as fotos desta entrevista são dela). 
 
 
jeito dela de narrar os babados, os barracos, as tretas e rivalidades envolvendo artistas tão geniais quanto geniosos que me fez dar muitas gargalhadas e recomendar aos amigos e parentes. Tanto que as threads viralizaram, viraram matérias em vários sites. 
Nunca leu!? PelamordeDeus, miniiiiiino, para tudo e vai pro Twitter dela agora.  
O importante é que muita leitura por trás da forma de @arinoert contar as histórias.
Ou seja, muitos livros.
Por isso, com muito orgulho, confiram meu bate-papo com ela especialmente pro Literatura de Mulherzinha!
LdM: Como começou seu gosto por História da Arte? Foi a partir de algum livro? Qual?
@arinoert: Bom, minha mãe é pintora, então toda a influência começou logo que eu me entendi por gente. Cresci com cheiro de tinta óleo e bagunça de ateliê. Mas eu não entendia aquilo, só achava bonito. Minha mãe sempre teve muitos livros em casa de pintura e eu ficava folheando e olhando as figuras, ainda sem saber ler, e aí descobri a arte egípcia (e comecei a colecionar aquela “Egitomania”) e isso virou minha primeira grande fascinação com arte.  Eu queria estudar arqueologia quando crescesse (pra mim, arqueólogo era quem estudava arte, e demorou até um professor me corrigir nesse pensamento) e desde então, arte virou uma constante na minha vida.
LdM: Como está sendo a repercussão após as threads viralizarem?  O que de mais inesperado aconteceu depois “da fama”?
@arinoert: Tudo tem sido muito estranho. Eu não entendi por que elas viralizaram mas foi uma grata surpresa. Eu recebo mensagem todo dia de gente dizendo que não ligava, ou até mesmo odiava arte, e agora depois de ler as threads começou a se interessar. E pessoas pedindo indicação de livros, pedindo ajuda com conhecimento sobre certos artistas, e o mais surpreendente, gente que me diz que agora quer fazer história da arte! Isso é a melhor sensação do mundo pra mim, fazer com que as pessoas se apaixonem da mesma forma que eu pela arte. Eu não sabia que algum dia conseguiria isso, mas pretendo continuar até onde der, sempre usando algum humor e uma linguagem que seja acessível (e interessante) pra todo mundo.
LdM: Volta e meia você indica as fontes dos fatos e das fofocas sobre os artistas. Leva muito tempo para pesquisar e preparar o
que você vai escrever?
@arinoert: Na verdade, eu só leio novamente os materiais que já tinha lido pra não cometer nenhum erro, a medida que vou lembrando das histórias e sinto vontade de falar sobre elas. Eu demoro mais escrevendo, porque conto as histórias em voz alta pra minha cachorra antes (a Saori). Se eu rir muito e assustar ela é porque alguma coisa boa saiu.
O Último Julgamento”, Giorgio Vasari, por @arinoert
 
LdM: Você tem ideia de quantos livros já leu sobre História da Arte? Há algum favorito? Qual/quais?
@arinoert: Nenhuma ideia, mas devem ter sido muitos, porque eu faço leitura dinâmica (embora nunca tenha feito nenhum curso disso) então os livros duram pouco tempo na minha mão, e eu leio muito e desde sempre. Meu favorito de todos os tempos é o famoso “Lives”
do Giorgio Vasari, que é considerado o pai da história da arte. Pra mim ele foi, além disso, um baita fofoqueiro. E a forma como ele conta a vida de figuras como Raffaello ou Michelangelo me diverte demais, ele exagera e não dá pra levar muito a sério, porque ele se baseou só em boatos, mas é um registro riquíssimo de como era o pensamento da época a respeito desses artistas. 
LdM: Particularmente, eu achei que “rinha de pintor renascentista” é simplesmente a forma mais perfeita de explicar a ideia dos florentinos em colocar os egos e talentos de Leonardo e Michelangelo num mesmo salão. Como você descobriu essa fora própria e criativa de contar essas histórias?
@arinoert: Descobri quase destruindo minhas amizades e relacionamentos (sério) Eu contava essas histórias pra todo mundo ao meu redor da forma mais “acadêmica” possível e ninguém aguentava, eu via nos olhos deles que eles queriam me estrangular de tanto tédio. Então eu comecei a tentar falar disso com um certo humor, uns memes e traçando paralelos com a nossa época, e deu bem certo: eles riram, prestaram atenção e até hoje não esqueceram nada que eu falei. E a mesma coisa aconteceu no Twitter!
 
LdM: Quando que o Rafael Sânzio entrou na sua vida para ficar? E qual é o livro que fala sobre ele que você mais gosta?
@arinoert: Ele entrou na minha vida na infância ainda, no meio dos livros da minha mãe tinha uns que eu gostava muito que se chamavam “Trópicos”, era uma enciclopédia ilustrada com um português bizarrissimo de tão arcaico. Tinha uma parte sobre o Rafael no livro e eu lembro de ter me apaixonado pelas pinturas, mas ficado triste por dizerem que ele morreu jovem (pro meu eu criança, morrer jovem era morrer com
uns 15 anos no máximo, mas na verdade ele morreu com 37 anos) 
Cresci com ele (eu fui aqueles adolescentes góticos que gostam de poemas ultrarromânticos, bandas com mulheres de vestido medieval e pinturas renascentistas, sabe?) então eu já dizia que ele era meu
artista favorito mesmo sem saber muito sobre dele.
Hoje eu estudo a vida dele profundamente e quero me dedicar a isso pra sempre, então parece que temos um relacionamento já, como se ele fosse um velho amigo (mas ainda bem que não é, nós dois definitivamente não nos daríamos bem, eu acho que ele era o cara que da “bom diaaaaaaaa” todo animado as seis da manhã… e eu não aguentaria isso).
La Madonna del Cardellino, Rafaello Sanzio
 
LdM: Você contou no Twitter que já esteve na Itália. Como foi ver de perto os locais onde os artistas sobre os quais você
pesquisa e fala viveram?
@arinoert: A maior emoção da minha vida toda, sem dúvida! Um privilégio indescritível pisar ali e ver tudo aquilo que eu só via por imagens ao vivo. Florença foi onde eu mais me emocionei, e o maior sonho da minha vida ainda é trabalhar na Uffizi, o museu mais famoso da cidade, mas é algo que eu hoje entendo ser impossível, assim como eu acho que não vou conseguir voltar na Itália nunca mais, por questões
financeiras. Mas sinto uma gratidão imensa de ter vivido esses momentos e ter essas memórias pra guardar.
 
LdM: De que forma as leituras e pesquisas que você segue fazendo influenciam o seu trabalho de fotografia? Como criar se inspirando na arte deles?
@arinoert: A minha iluminação, perspectiva, composição e até relação com as cores melhorou muito depois que comecei as pesquisas em arte. Eu absorvo uma parte dessas obras na minha própria arte e me inspiro muito, também. Óbvio que não produzo nada a altura de absolutamente ninguém que me inspira, mas me sinto feliz por fazer alguma arte também, por menor que ela seja, pra deixar no mundo.
LdM: Quais livros dos que já leu você recomenda para quem ficou curioso em saber mais sobre a vida, a arte e as tretas destes
artistas?
@arinoert: Pra fofocas dos velhos mestres não tem ninguém melhor do que o já citado Giorgio Vasari! A Sônia Abraão do Renascimento, o “Lives” dele é a vida dos artistas em forma de fofocas que ele ouviu, quase um romance biográfico haha mas ele também cita obras (algumas que não existem mais) e as análises dele sobre elas são bem interessantes.  E ele mesmo foi um grande artista, pintor e arquiteto, mas não teve ninguém pra fofocar sobre ele pra gente saber mais, infelizmente.
 
LdM: E para encerrar, não posso deixar de não perguntar: perto do trio que abalou Florença, Donatello é um santo? (Meu amor
por Leonardo da Vinci começou com as Tartatugas Ninjas e o mais difícil de se encontrar informações é o Donatello).
 
 
@arinoert: Não! Donatello era do clube das tretas também, mas ele não foi tão sangue quente quanto as outras três tartarugas, talvez porque ele tivesse muito trabalho pra fazer e pouco tempo pra rinhar com os colegas de profissão haha 
Gostaram? Eu adorei saber que além do gosto pelo Renascimento, pelo visto, também temos em comum o gosto por Cavaleiros do Zodíaco, mas, provavelmente, eu teria um gato chamado Shiryu,
Para saber mais sobre as threads e os trabalhos da Ari, vocês também podem segui-la no Instagram  ou visitar o portfólio dela (como vocês viram ao longo do texto as fotos são maravilhosas) – e, em breve, ela terá canal no Youtube, que, óbvio, irei seguir. Outra dica é ouvir a participação dela no podcast Pistolando.
Arrivederci!!!
Beta

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