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Bem-vindos à livraria Hyunam-dong – Hwang Bo-reun – Cap. 1963

Ciao!

Disponível na Amazon

Depois de várias “ondas literárias”, uma das atuais me agrada em cheio: a literatura de cura. A definição comumente usada é que são livros com histórias próximas a do dia a dia, abordadas de uma forma reconfortante, para criar o “quentinho no coração”, que se passam em locais como livrarias, lojas, bibliotecas, etc.

Só discordo de quem rotula como tramas sem complexidade – porque há os casos onde a simplicidade do enredo traz algumas das dores profundas cotidianas e atuais.

Bem-vindos à livraria Hyunam-dong – Hwang Bo-reun – Intrínseca
(어서 오세요, 휴남동 서점입니다 – 2022)
Personagens: Lee Yeongju e a livraria do bairro

A livraria em Hyunam-dong era o porto seguro de Yeongju, mas, assim como tudo na vida, ela não sabia por quanto tempo. Mesmo assim arriscou e contratou Minjun como barista. E vivendo um dia após o outro, focando na livraria, o tempo se torna um aliado não só para ela como para todas as pessoas que frequentam a livraria. E assim todos vão se compreendendo melhor, entre páginas de livros, acolhimento e vida real.

Em pé no fundo do poço

“Naquela época, o tempo havia parado e os dias eram apenas um borrão. Antes de inaugurar o estabelecimento, as coisas estavam tão caóticas que a alma de Yeongju parecia ter sido sugada. Ou talvez ela estivesse fora de si. Ela só tinha uma coisa em mente: precisava abrir uma livraria”

Seria muito simples eu contar a história de forma cronológica de como Lee Yeongju se tornou a mente que criou a livraria em Hyunam-dong. No entanto, o charme da história está em seguir a linha estabelecida pela autora.

A gente sobe no livro quando a protagonista está no meio de um processo pessoal de ressignificar seus sentimentos. E à medida que ela vai revelando a história dela, é possível entender onde foi o ponto de virada.

Como ela mesma diz, em determinado momento, esteve no fundo do poço, até a hora que percebeu que tinha que seguir em frente e ficou em pé.

A gente acompanha o amor dela pelos livros, a rotina da livraria e as diferentes atuações dela, como livreira, como blogueira, como anfitriã nos eventos, como leitora e como amiga. Ao mesmo tempo, há a jornada de Minjun, responsável pelo café da livraria, que também parte para a capacitação profissional e mergulha em si mesmo à medida que as interações com outras pessoas acontecem.

E ainda há outros frequentadores: a mulher que sempre faz tricô, os autores que participam dos eventos, os fregueses que encontram a livraria e decidem ver se tem algo de que eles gostariam…

“- (…) Continuo lendo na esperança de me tornar uma pessoa melhor um dia”

O livro consegue ser realista ao mostrar os dilemas enfrentados pelos personagens – que dialogam diretamente com a gente do lado de cá: qual o sentido da vida? Será que há um propósito para isso? devo me prender a algo que me dá (aparentemente) segurança, mas me deixa infeliz?

O mote do livro é a mudança: o medo, a insegurança, a necessidade, o fato de muitas vezes não ter saída: o que conhecemos como rotina é rompido e precisamos nos reorganizar.

Vários personagens atravessaram mudanças em suas jornadas. Alguns, a gente acompanhou as consequências, outros a gente vê a tomada de decisão. É algo que ocorre todo santo dia. A gente toma decisões e tem que lidar com as consequências. Quem dera a gente tivesse uma Yeongju e uma livraria Hynam-dong por perto para poder se refugiar lá e ter um momento de paz.

Carpe diem

Ao longo das 268 páginas, os personagens refletem sobre a vida, a pressão social, a expectativa alheia de que somos vítimas, o preço que pagamos para sustentar um sonho que já não nos pertence (ou nunca nos pertenceu), o uso que fazemos do nosso tempo.

O que posso te antecipar é que não vai acontecer nada mágico onde todos os sonhos se realizam e todos serão felizes ao final. Afinal de contas, a vida não é assim. A gente dá passos todos os dias. Alguns são bons. Outros são mais ou menos. E tem aqueles que nada funciona, mas a gente segue em frente.

E convenhamos, não tem como um livro que cita o professor Keating e Zorba ser ruim. Eu me senti acarinhada, acolhida e aquecida lendo Bem-vindos à livraria Hyunam-dong. Por isso recomendo.

– Links: Instagram da autora; Skoob; mais dela no Literatura de Mulherzinha.

Arrivederci!!!

Beta

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