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Queria morrer, mas no céu não tem tteokbokki – Baek Sehee – Cap. 1968

Ciao!

Disponível na Amazon

Nunca ouvi falar da Baek Sehee. Por isso, eu amo indicações de livros. Ainda mais quando são de pessoas que eu sei que gostam de ler. Neste caso, foi a dica de livros lidos pelo Namjoon, ou RM, líder do BTS. Leitor voraz, sempre confiro entre as dicas dele o que combina com meus gostos literários.

Resultado: esta é a primeira resenha que escrevo – e consigo finalizar – em meses. Provando que o tempo pode ser um bom aliado nos momentos de turbulência.

Queria morrer, mas no céu não tem tteokbokki – Baek Sehee – Universo dos Livros
(나는 죽고 싶지만 떡볶이는 먹고 싶어 – 2018)
Personagens: Baek Sehee e as sessões de terapia

Ansiedade e depressão fizeram Baek Sehee perceber que precisava de apoio médico especializado. É na terapia que ela busca formas de entender os próprios sentimentos para lidar melhor com a questão de saúde mental. Ao longo da narrativa, que são os diálogos entre ela e o psiquiatra, com textos intermediários, entre discordâncias e concordâncias com os apontamentos e sugestões do terapeuta, ela pondera sobre a própria personalidade, o comportamento que leva à repetição do que desencadeia os sentimentos que a fazem se sentir mal.

A gota d’água

Sehee relata que, por muito tempo, viveu como se fosse “ok” os sentimentos dela. Ao perceber que “o fardo pesado demais a certa altura”, procurou a ajuda de um psiquiatra. Neste ponto, reitero: é isso que deve ser feito. Talvez até antes de que o peso fique impossível de ser sustentado. Saúde mental é como qualquer outra especialidade médica e precisamos compreender isso sem tabus ou pré-julgamentos.

Ela chegou no consultório com notas prontas no celular para conversar com ele sobre os pontos do próprio comportamento que a faziam acreditar estar “levemente deprimida”. Cita o impacto do ambiente familiar, que fez com que criasse mecanismos para lidar com os desconfortos e os desdobramentos de relação longe de ser saudável entre os pais e entre a irmã mais velha e ela.

Depois, começa a explicar sobre o impacto na vida afetiva e profissional. E o psiquiatra propõe um “dever de casa” que indicará quais os passos seguintes da abordagem para que ela saia da “roda de hamster” e quebre o “esse ciclo vicioso de tentativa e erro [que] alimenta a depressão original”.

Corrigir todos os erros com os quais se deparar no mundo é uma tarefa impossível para qualquer pessoa. Você é só uma pessoa, e está colocando demais o peso do mundo nas suas costas”.

Culpa, idealização, frustração, depressão e ansiedade

No mundo atual, atire a primeira pedra quem não convive com esses sentimentos em doses problemáticas. O ser humano está longe de ser perfeito, mas se impõe socialmente uma perfeição impossível.

Muitos indivíduos se forçam a atender expectativas físicas, profissionais, comportamentais que só servem para aprisionar na vergonha e na culpa. Desta forma, alimentam as raízes dos problemas de saúde mental. Detalhe: é uma relação de mão dupla: quem é vítima também se torna algoz de outras pessoas.

Até virtudes como bondade, empatia e solidariedade podem ser distorcidas e serem armas de julgamento e controle dos outros. Inclusive os que buscam ser originais em meio a este rolo compressor de uniformidade em um mundo repleto de diferenças. Ninguém escapa dos efeitos colaterais, todos pagam algum preço.

“Você investe demais em descobrir o que as pessoas pensam. Isso ocorre porque sua satisfação consigo mesma é muito baixa. Mas sua vida é a sua vida, seu corpo é o seu corpo – e você tem responsabilidade em relação a isso. mas não processa as informações que recebe com um mecanismo de racionalidade ou reflexão você vai direto ao extremo”.

Tudo o que eu não sou. Tudo que posso ser e está tudo bem

Ao longo dos capítulos, Baek Sehee enumera o que considera as suas falhas e “defeitos”. Junto com o psiquiatra, esmiúça os sentimentos, identifica as causas e comportamentos que os tornam fracos ou exacerbados. Analisam que, em alguns casos, o limite é o impacto em cada pessoa.

Para que se forçar a fazer algo que não deseja realmente? Para que exigir de si mesma uma determinada postura ou meta, que não vai acrescentar nada de bom ou apenas uma satisfação momentânea para uma frustração que parece eternamente faminta.

A necessidade perene de aprovação, uma autoestima sempre inferiorizada em relação às outras pessoas no ambiente ou ao suposto ‘padrão social vigente’ (que costuma mudar quando você sente que está quase chegando lá…), o extremismo consigo mesmo (para bem ou para mal), tudo isso surge em algum momento na vida do ser humano. A diferença é como lidar, há quem cede, há quem enfrente, há quem relute e aceita temporariamente e há quem ignore. Não tem padrão, tem a decisão que naquele momento será a melhor para a pessoa.

Mas o cérebro do ser humano é uma caixinha de surpresas. Então nem sempre a gente está preparado para tomar a decisão mais adequada em prazo algum. Aí entra o fator “varrer para baixo do tapete”, até a hora que o acúmulo explode e a pessoa se sente soterrada em si mesma.

Viver não é fácil. E a gente complica, ô se complica!

O relato de Baek Sehee ressoa porque, em maior ou menor medidas, somos todos assim. Quem faz acompanhamento sabe que o quanto dói precisa visitar as partes que menos ama em si mesmo e as que mais acha incríveis. E com o bônus de submeter isso ao olhar de outra pessoa, na dúvida se quer a validação de isso ou aquilo ou é um pedido de socorro por alguma outra razão que nunca conseguiu verbalizar para si mesma até aquele confronto no consultório.

Nos casos necessários, nem sempre o remédio dá certo de primeira. Às vezes ele funciona, mas traz alguns efeitos colaterais no balaio que ajudam a empacar o tratamento. É uma busca que não tem resposta exata e imediata, porque o ser humano quer tudo para anteontem, mas está longe de um diagnóstico fechado em todas as suas facetas de forma incontestável.

A autora demonstra coragem em se expor, ainda mais na Coreia do Sul e em um mundo que ainda não está tão pronto como diz para entender e ajudar as pessoas a seguirem em frente. O que a gente mais vê é discurso vazio para fazer bonito para o outro ver, do que para efeito prático mesmo.

Gostei de ela trazer o contraponto do psiquiatra, reforçando que nem sempre o especialista é infalível, mas é alguém preparado para ajudar neste processo constante de compreender melhor a si mesmo.

Todo dia é um dia. Nem todos serão bons, nem todos serão péssimos. E a busca pela nossa versão mais confortável em si mesmo prossegue. Tanto que a autora já lançou a sequência: Queria morrer, mas no céu (ainda) não tem tteokbokki, que obviamente está na minha lista de desejos futuros. Afinal de contas, como ela mesma escreveu:

Com frequência procuro livros que são como remédio, que se encaixam na minha situação e nos meus pensamentos, e os leio de novo e de novo, sublinhando tudo, até as páginas ficarem em frangalhos, e ainda assim o livro terá algo a me dar. Livros nunca se cansam de mim. E no tempo certo, silenciosamente, eles apresentam uma solução, esperando que eu esteja curada por completo. Essa é uma das coisas mais legais a respeito dos livros”.

“Não era só eu que me sentia assim”

A autora contou que buscou a terapia para distimia ou transtorno depressivo persistente, que é um estado leve e constante de depressão. No prólogo, ela lembra que as pessoas tendem a olhar os extremos e casos como o dela, que transitam entre dias bons e ruins, sem estar devastado, são difíceis de serem compreendidos pelas outras pessoas.

Por isso, ela decidiu transformar as gravações da terapia, feita com autorização do profissional que não tem o nome citado, em um livro. Baek Sehee acreditava que outras pessoas estavam em situação semelhante a ela e queria que soubessem que não estavam à deriva por aí.

“Sempre pensei que o intuito da arte é sensibilizar corações e mentes. A arte me deu fé: fé de que hoje pode não ter sido um dia perfeito, mas, ainda assim, foi um dia bastante bom; ou fé de que, mesmo depois de um longo dia depressivo, ainda consigo cair na risada por causa de um pequeno detalhe. Também percebi que revelar minhas trevas é algo tão natural de se fazer quanto revelar minhas luzes. Pela prática muito pessoal dessa arte, espero encontrar meu caminho até o coração dos outros, assim como este livro encontrou o caminho até suas mãos”.
Baek Sehee

Saiba mais: Skoob; mais dela no Literatura de Mulherzinha.

Arrivederci!!!

Beta

1 Comentário

  1. FABIANA CORREA DOS SANTOS

    Oi Beta!
    Esse livro está há meses no meu Kindle, sempre penso em ler, mas acabou não começando… Hoje eu estava procurando uma resenhar para ver se me incentiva a começar, e sua resenha me instigou a fazê-lo. E justamente por procurar uma resenha, vi a notícia que a autora do livro faleceu esse mês, você viu ?
    Bjus

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