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Cap. 1700 – Os manuscritos perdidos de Charlotte Brontë

Ciao!
Disponível na Amazon 


Hoje é dia do escritor e o capítulo 1.700 do Literatura de Mulherzinha. 
Nada melhor
que um livro que fala sobre o processo criativo em uma família onde a literatura
encontrou um campo fértil para se manifestar.
 

Os manuscritos perdidos de Charlotte
Brontë – Faro Editorial 
(The lost manuscripts of Charlotte
Bronte – 2018 – The Brontë Society)


Confesso que não conheço muito
sobre a família Brontë. Já vi um filme que adaptou Jane Eyre (escrito
por Charlotte) e li O Morro dos Ventos Uivantes (escrito por Emily) há
um bom tempo. Portanto, este livro me ajudou a conhecer um pouco mais sobre eles.
 

Este livro é formado por manuscritos de Charlotte Brontë, com colaborações de Anne Dinsdale (que escreveu o prefácio), Barbara Heritage, Emma Butcher, Sarah E. Maier, Ann-Marie Richardson. 

As especialistas
convidadas pela Sociedade Brontë analisam como as perdas de Maria e das duas
irmãs mais velhas, Maria e Elizabeth, marcaram a vida e a escrita dos irmãos Branwell,
Charlotte, Anne e Emily e do pai, Patrick.
 

Para quem é fã da escrita dos Brontë,
o livro oferece novas luzes sobre como algumas fontes que alimentaram a
criatividade deles e que foram expressas nas obras que criaram.
 

O ponto de partida é a relação
que as crianças Brontë estabeleceram com um livro que pertenceu à mãe, Maria: The
Remains of Henry Kirke White
além da juvenília escrita pelos irmãos. Eles
trabalhavam em duplas, uma formada por Branwell e Charlotte, a outra por Anne e
Emily. E isso também traz informações sobre o pai, Patrick, que se orgulhava de
ter estudado com o Henry Kirke White na universidade.
 

De acordo com os pesquisadores,
o exemplar de The Remains of Henry Kirke White sobreviveu a um
naufrágio. O navio onde estavam os pertences de Maria Brontë encalhou. Ele
esteve entre os itens que conseguiram ser recuperados. Depois, quando ela morreu,
ganhou novos contornos com o marido, o filho e as filhas acrescentando
comentários, desenhos e anotações nas páginas.
 

Ao ser reencontrado, em 2015,
o livro havia se tornado ainda mais valioso por conter manuscritos de Charlotte
Brontë. Após o contato de uma loja rara de livros, a Sociedade Brontë realizou
uma campanha para angariar recursos – no Brasil, a popular “vaquinha” – e o
adquiriu.
 

No primeiro ensaio “A
arqueologia do livro”, Barbara Heritage traça a possível jornada e esclarece as
transformações sofridas pelo exemplar de The Remains of Henry Kirke White
desde Maria até a recuperação pela sociedade que preserva a memória e tudo
referente aos Brontë. 
“O Remains é um objeto
extraordinário, finalmente, porque os antigos donos colocaram muito de si entre
as páginas: suas histórias, seu conhecimento, seus valores e, por último, seu
desejo de estabelecer um vínculo permanente com o livro como um objeto físico. Poucos
objetos podem fornecer tantas provas tanto de sua origem quanto de suas
viagens. Cada inscrição dentro do Remains – cada camada encadernada
entre suas capas – indica uma miríade de coleções, pessoas e ideias correlacionadas”.
 
Outros dois ensaios escritos
por doutoras se dedicam ao manuscrito de Charlotte e o enredo da juvenília –
obras escritas ainda na adolescência – dos quatro irmãos sobreviventes. Eles criaram
um mundo imaginário chamado de Cidade de Cristal, estabelecendo história dos
personagens, localização e muita riqueza de detalhes.
 

Emma Butcher analisa em “Uma
visita a Haworth” como dois personagens da Cidade de Cristal interagiram com personagens
inspirados em pessoas reais na vila onde a família vive.
 
O que esse manuscrito
oferece individualmente, no entanto, é o cenário. Ao trazer o mundo de fantasia
até Haworth, temos uma visão clara de Charlotte se relacionando, mesmo que ofensivamente,
com a sua comunidade. Também percebemos que o mundo dos irmãos, construído em
algum lugar na exótica costa africana, não está muito distante das suas raízes
em Yorkshire. Mais do que nunca, vemos como os fatos e os personagens da
comunidade local moldam as histórias, e percebemos que o reino era uma paisagem
imaginária onde os irmãos podiam explorar os aspectos políticos, religiosos e
até os lugares da infância: não apenas um exercício de jogos e escapismo; era
uma plataforma pela qual podiam compreender e criticar o mundo à sua volta
”.
 
E Sarah E. Maiar escreve em “Cristais
partidos” tanto sobre a prosa quanto sobre o poema, de que forma houve a
colaboração entre Branwell e Charlotte e o papel da masculinidade descrita por ela
nestes dois textos.
“Um elemento significativo do
trabalho inicial é a multiplicidade das várias vozes masculinas empregadas
tanto por Branwell quanto por Charlotte. O fato de Charlotte ‘assumir diversas
máscaras lhe permite discutir com as próprias vozes polifônicas’ (Alexander,
2010, xxi) como com as de Branwell, e analisar, bem como assumir, a autoridade literária
nas narrativas. Trabalhando a partir de múltiplos pontos de vista, Charlotte
deleita-se com a liberdade do jogo masculino nos reinos de infância, das relações
sanguíneas, dos desejos lascivos e da beleza apreendida
”. 
Por fim, Ann-Marie Richardson
em “Reinventando o Céu” trata do impacto de The Remains of Henry Kirke
White
em Emily. Junto a isso, como a morte de Maria assombra as páginas
de O Morro dos Ventos Uivantes.
“No entanto, como o único romance
de Emily Brontë, o ‘esboço em versos’ de Kirkle White é um retrato mais
destacado da importância do lugar; de memória e imagens românticas contidas em
um ambiente gótico. Os paralelos desses motivos entre as duas obras são
igualmente surpreendentes, embora O Morro dos Ventos Uivantes se estenda
e complemente essa história para dar à protagonista feminina, Cathy, uma defesa
mais clara do que para a Margaret de Kirke White. De modo semelhante, a
dissolução de Heathcliff é mais estratificada que a de Bateman de Kirke White,
embora ambos sejam estoicos, enigmáticos e indesejáveis a todos, menos às
amadas
”. 
Uma família dedicada à literatura
e marcada por mortes precoces. O que Os manuscritos perdidos de Charlotte Brontë
defende é que as descobertas, tanto do Remains que ligava os filhos à mãe e
os textos da juvenília de Charlotte, já incentivaram e ainda permitirão muitos
estudos para preencher as lacunas e o conhecimento sobre a família para os
pesquisadores e os apaixonados pela literatura criada pelos Brontë.
 

– Links: Goodreads livro;
site da editora;
Skoob.

Arrivederci!!! 

Beta

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