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João de A a Z – João Carlos Martins – Cap. 1638

Ciao!

João falou-nos apaixonadamente da vida, de sua vida, da música, de suas mãos e seus dedos, dos seus grandes amigos, de seus
pais, de seus amores, de suas dores lancinantes, de seu perfeccionismo, de seus erros, de sua alegria de viver, de Deus, de tudo. Tudo parecia tão claro, tão absolutamente claro: João acabara de “escrever”, naquelas três inesquecíveis horas, a sinopse do que viria a ser esse JOÃO: De A a Z

E eu gosto de aprender. Então é a leitura perfeita. Ainda mais para hoje, 22 de novembro, dia de Santa Cecília, a padroeira dos músicos.
João de A a Z – João Carlos Martins – Sextante
(2019) 

O gráfico da minha vida tem montanhas e vales. Altas montanhas e vales profundos. Até que ponto um ser humano consegue resistir? Qual é a nossa capacidade de suportar a dor? Conhecemos realmente as nossas forças? Por que é importante termos uma missão, um propósito? Em que medida o trabalho define o homem? Como viver as paixões e ao mesmo tempo perseguir e educar a moderação? 

Gosto de relatos biográficos e a vida do maestro João Carlos Martins já foi tema de várias reportagens, desfile campeão da Vai Vai, outras biografias e de filme.Por isso, não era algo totalmente desconhecido para mim. Mas sempre é melhor ouvir da própria pessoa, sem intermediários.
Ele disse que a vida o ensinou a “aproveitar para dividir emoções, pois só sabe multiplicar aquele que aprende a dividir”.
Então, João – como gosta de ser chamado – dividiu neste livro as lembranças que gostaria de compartilhar conforme o alfabeto que, segundo ele, dá um sentido de “completude”.
A partir de palavras-chave, João Carlos revisa a própria história, contando os altos e baixos da vida e da carreira. Ele conta como surgiu o amor pela música, o interesse pelo piano, as idas e vindas como músico, os erros que cometeu, as formas como as doenças o afetaram, como insistiu, persistiu e se reinventou. 

Penso que meu amor à música, de alguma forma, funciona como uma conexão com Deus – a Ágape. Meus principais canais de expressão espiritual são o piano e a regência. Sempre penso que a arte envolve algum tipo de aproximação divina”. 

E ele me fez prestar atenção em um compositor que eu ouvi poucas vezes, ao contrário do meu amado Tchaikovsky (que atualmente ganhou a companhia de Vivaldi): Johann Sebastian Bach. João Carlos é apaixonado pelo trabalho dele e nos passa essa paixão em explicações que superam a técnica do artista. Ele sabe as partituras de memória! Não só as de Bach, mas todas que estudou para tocar ao piano ou atualmente para conduzir orquestras como regente. 

Com Bach, a música alcançou Deus. Dele só posso dizer que é claramente um intermediário das forças espirituais. Alguém que aproxima o homem do sagrado. Suas composições nos colocam em um plano celestial”. 

Tenho dificuldade de explicar por que minha relação com Bach é tão simbiótica. São vínculos difíceis de definir, mas que atravessam séculos. O que sei, com certeza, é que fiquei fascinado desde o primeiro instante em que o ouvi, sentindo que estava apreciando uma criação divina. Comecei a tocar suas músicas ainda criança, como se já as conhecesse antes, como se minha mente as aguardasse”.    

A partir deste relato, podemos entender que as decepções atingem qualquer pessoa – não sabia que ele havia abandonado a carreira de pianista duas vezes. Além disso, ele lembra a passagem por outras profissões – quando se afastou e não queria nem saber de música – e de que forma afetou as decisões seguintes na vida dele, inclusive contribuindo para que tivesse olhar diferenciado quando se reconciliou com a verdadeira vocação. 

Eu sempre digo que o dom de Deus é 2%. Os outros 98% são disciplina e persistência. Sem os 98% nada acontece. Sem os 2%, também não. Disciplina é esforço diário e criação de rotina para se alcançarem determinados objetivos”. 

E que nunca é tarde para recomeçar: João Carlos destaca várias vezes que iniciou os estudos para se tornar maestro com mais de 60 anos. E que se pode dar um conselho é “não se traia, seja você mesmo”. 

No fundo, o que tenho com a música é uma espécie de loucura positiva, uma harmonia perfeita. desde o primeiro dia em que me sentei à frente daquele universo em preto e branco, meus dedos começaram a se mexer sobre as teclas com facilidade. Era uma criança que estava com problemas de saúde que encontrou no piano um refúgio, um amigo. Tocava como se soubesse o que estava fazendo. (…) Minha ligação com o piano é profunda e divina, associada a uma curiosidade natural que me leva a querer explorar todos os seus limites”. 

Sim, a maioria de nós não tem talento para tocar algum instrumento – alguns nem com anos de estudo. Muitos nem prestam atenção neste estilo musical. Não é estranho encontrar alguém que nunca ouviu falar em Bach ou nos outros compositores nacionais e internacionais. Há quem use a música clássica como um padrão para desmerecer outros ritmos e composições.
O fato é que a história de João, na base, fala sobre uma pessoa que tinha um talento e se esforçou para torná-lo a sua forma de vida. Entendeu que não era algo mecânico, mas que despertava paixão, vontade, amor e exigia que ele tivesse cuidado, desvelo e preciosismo. 
 
Vitórias e derrotas, saúde e doença, alegrias e decepções, aprendizado constante fizeram e fazem parte dos dias dele até hoje. Ele não esmoreceu, se reinventou e encontrou novos caminhos para continuar exercendo e divulgando o ofício que abraçou na vida: a música clássica, Bach, em especial. Multiplicando conhecimento, ensinamentos, paixões para que outras pessoas também pavimentassem os próprios caminhos desta forma.
Sim, esta jornada me toca e me emociona, por ser humana, por ter falhas e por ter a vontade de recomeçar todo nascer do sol. 

A música é um vento que sopra a favor da vida. Sem ela, a existência, a minha, a sua, a nossa, não teria sentido 

Talvez se você der uma chance, pode te inspirar também.
Arrivederci!!!
Beta

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