Não é resenha, ok? Só alguns comentários que precisava fazer. Imagino que isso ocorra com muitas pessoas: encontrar algo que fale diretamente aqueles sentimentos que guardamos com mais zelo. Seja um livro, uma música, um filme, um desenho animado.
Volta e meia, esbarro em expressões artísticas que falam diretamente a pequenas, médias e grandes partes da minha alma.
Como já contei aqui, Aladdin é meu desenho favorito da Disney. Foi a primeira vez que me identifiquei com uma princesa. Não sou loira, não tenho olhos claros, não sou europeia, não sou delicada e fofa (não à primeira vista). Mas naquela época eu tinha cabelo comprido e queria me ver como parte de algo que não fosse o habitual.
Jasmine era isso. Tinha a pele escura, olhos castanhos, temperamento difícil e um tigre de estimação.
E é engraçado como o live action do filme me fez perceber que eu não estava sozinha. O que mais li, inclusive de integrantes do elenco, foi eles se identificavam com os personagens do filme quando viram a animação pela primeira vez.
Neste vídeo e nesta entrevista pro New York Times, Mena fala que Aladdin era um “dos poucos personagens com os quais eu podia me identificar”.
“Eu amo a personagem. Ela era a minha princesa favorita e ela fez com que eu me sentisse poderosa.’, disse Naomi Scott para o The Independent.
E sobre o filme, não, ele não é perfeito. Mas eu me apaixonei pela leveza, colorido e encantamento criado a partir das imperfeições dele. Mena Massoud achou um olhar tão doce e encantador para Aladdin que me levou com ele. O Gênio do Will Smith consegue ser marcante à sua maneira. Juro que torci várias vezes pro Rajah comer o Iago. Adorei ver cores (estou esperando a Mangueira compartilhar as cenas onde predominam o verde e rosa), culturas, roupas, texturas.
E olha, achei que fosse chorar no filme, mas foi o contrário: ri muito. Ou seja, a gente pode olhar para o que passou sem lamentar e encarar o que vier com força e leveza. E de bom humor. Fica menos complicado.
Dá vontade de não sair do cinema, de ficar lá e ver novamente, em loop, de preferência. As músicas funcionam – One Jump Ahead ficou incrível. Friend like me foi além do que eu esperava e o que é Prince Ali? Vi algumas reclamações que queriam a música mais acelerada, mas gente, aquele era o ritmo do Gênio da animação, criado pelo inesquecível e incontrolável Robin Williams. O ritmo deste filme é outro e não é reclamação: eu quis dançar junto com o elenco.
Não achei o Jafar tão ruim como dizem. Novamente, fui para o filme com a vontade de ver o trabalho deles, não um ctrl + C + ctrl +V da animação. Eu me apaixonei pelo resultado final. Talvez minha reclamação é a sensação de que a Disney não botou fé em Aladdin, como fez com A Bela e a Fera e O Rei Leão (que ainda nem estreou, mas todos sabemos que será arrasa-quarteirão).
Speachless (que ganhou a inspirada versão “Ninguém me cala” em Português) era tudo que eu esperava ouvir a Jasmine cantar – e Naomi entendeu a princesa por ser uma de nós, fãs dela. “Ah, mas não é Let it go” e nem Jasmine é Elsa. Os desafios são diferentes. A fúria da princesa primogênita que não podia ser ela mesma por causa dos poderes é tão relevante quanto a da princesa árabe protegida que queria ser ouvida, queria se tornar uma líder para o povo, mas era ignorada por ser mulher, por ser – olha a ironia – uma princesa.
Sim, durante 1h30 voltei a ser a garota que olhou para uma princesa e pensou “ela se parece comigo”. E ao ver livros e mapas no quarto de Jasmine e os desafios que ela enfrenta e a garota pensa: “tantos
anos e ainda temos muito em comum”.
E é interessante ver nos cinemas e na literatura os criadores saindo além do mais do mesmo: os cabelos enormes, ruivos e cacheados de Merida, Mulan lutando na guerra, Merida novamente se impondo para não ter que se casar. Vanellope dirigindo carros com habilidade para dar e vender. E as meninas negras que tiveram que esperar anos para se ver na Tiana?
Menos rótulos, mais pessoas. Isso sim ganha meu coração de leitora e de fã de filmes.
Arrivederci!
Beta
ps.: Não posso deixar de compartilhar o Will Smith entrevistando Naomi e Mena, porque é muito bom.