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Cap. 1547 – O sol na cabeça – Geovani Martins

Ciao!


Esta
leitura é uma experiência que tira o leitor(a)-comum (onde estou me
enquadrando) do eixo a que está acostumado, ao dar vozes, cores e histórias a
quem geralmente não tem este acesso direto.



Nada mais justo que ter este livro aqui no dia do padroeiro do Rio de Janeiro.

*** Texto originalmente escrito para o Histórias Sem Fimque a Ana Carla gentilmente permitiu que fosse publicado também no Literatura de Mulherzinha! Obrigada, Ká! ***
O sol na cabeça – Geovani Martins –
Companhia das Letras
(2018)
São 13 contos narrados por protagonistas
que moram nas periferias ou na favela do Rio de Janeiro. Portanto, deixe um
pouco de lado o que você pensa saber – geralmente fruto do que ouve e vê sobre
eles, muitas vezes, com razão – mas aproveite para escutar o que o outro lado
tem a dizer.
Eles vão te falar sobre
pobreza; sobre esperanças que se desfazem; sobre drogas; sobre infância vivida,
perdida, temida; sobre o posicionamento “nós contra o mundo” alimentado e
alimentando o “mundo contra nós”.
Confesso que alguns contos escritos
da forma como os personagens falam causaram um choque, primeiro pelo óbvio – algumas
palavras e expressões não faziam o menor sentido para mim. Segundo pela
consequência: não faziam sentido porque era uma realidade que eu não conhecia,
nem mesmo pela literatura, já que os autores e autoras “traduzem” as falas para
o Português canônico. Ou seja, filtram o linguajar natural – permite o acesso
de alguns, mas restringe a liberdade de expressão de outros.
Não estou atribuindo juízo de
valor, até porque, como diz minha mãe “ninguém nasce com sinal de bondade na
testa” e caráter independe de classe social. O que estou ressaltando é que, além
do certo ou errado, o livro dá voz a quem não tem e – ao contrário de outras
narrativas semelhantes – não soa estereotipado ou preparado para agradar à
parcela de leitores que não tem contato com a realidade.
Ele nos dá recortes de como a
vida é além do mundinho da maioria das pessoas: o mundo da pipa, das drogas
comedidas, no mergulho no tráfico, da pichação, das mães e dos pais que lutam
pelos filhos ou que desistiram deles, dos conflitos por causa de religião ou da
criminalidade, do olhar de medo e de desconfiança que recebem dos outros na
rua, da forma como encaram os policiais (confesso que demorei para entender a
forma como eles se referiam aos policiais), dos laços que se formam na
comunidade e o que acontece com os que não seguem as regras.
Vidas passam, se entrelaçam,
se complicam, se perdem, andam no fio da navalha e tentam se equilibrar.
Realmente foi um dos livros mais diferentes que li este ano por não me poupar –
nem poupar os personagens – de nada. Seja da vida ou da morte. Está ali. Basta querer
ler e mergulhar neste mundo onde o sol nasce e se poe todo dia na moleira de todos – do morro ao asfalto.

Links: Goodreads livro e autor;
site da editora;
blog da Companhia;
Skoob; entrevista no Conversa com o Bial.
Bacci!!!
Beta

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