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*** A Transformação do Saci, por Marcos De Brito

Ciao!!!

A Faro Editorial divulgou um texto de Marcos de Brito, autor de O Escravo de Capela, sobre a evolução da figura do Saci, que é celebrado neste 31 de outubro. Gostei e estou compartilhando com vocês. Afinal de contas, conhecimento é sempre bom, né?
Feliz Halloween pra quem é de Halloween e Feliz Dia do Saci pra quem é Saci!

A transformação do Saci
 Marcos DeBrito
Quando narramos histórias do
nosso folclore, as imagens das criaturas que habitam o imaginário popular estão
tão enraizadas que não paramos para pensar como eram diferentes na época em que
foram criadas.
A verdade é que — tanto deuses
como criaturas da mais variadas mitologias — todas se transformam de algum modo
para se adequarem aos novos tempos e a um novo público.
Poseidon, o
rei do mares, era visto pelos gregos como um deus enfurecido, que afundava
embarcações, enquanto Netuno, o
equivalente romano, era tido como benevolente, que presenteava com riquezas
vindas do mar. Ambos são a mesma divindade, a diferença é que os gregos não
haviam dominado a náutica como os romanos. Os naufrágios atribuídos à fúria de Poseidon eram culpa da inabilidade de navegarem
por águas tormentosas, e os presentes de Netuno
eram os espólios das conquistas do Império Romano.
Em terras brasileiras, um bom
exemplo dessa metamorfose é a figura do Saci. Sua verdadeira origem — indígena
— era sobre um menino endiabrado e de rabo, que atrapalhava os invasores que
pisavam na floreta. Foi uma forma encontrada pelos nativos para proteger seu
território contra os homens brancos.
A aparência do Saci mudou
conforme foram inseridos novos elementos em nossa cultura. O garoto negro, que
perdeu a perna em uma disputa de capoeira, e o cachimbo foram heranças do povo
africano. Já o gorro vermelho com poderes mágicos, veio da cultura europeia.
A oralidade sempre foi a
grande fonte de divulgação das nossas lendas. Os personagens folclóricos
ganhavam força nas rodas de fábulas em torno da fogueira e nas histórias dos
nossos avós. Com a modernidade, esse costume foi se perdendo, no entanto
existem escritores que — felizmente — contribuem para que o Saci não desapareça
do nosso patrimônio cultural. Graças a nomes como Monteiro Lobato, Câmara
Cascudo, Maurício de Souza e Ziraldo, esse personagem saiu das narrativas
vocais para ganhar as páginas de livros, ilustrações e obras audiovisuais.
É inegável a importância que
Monteiro Lobato trouxe para o Saci ao adaptá-lo para o universo infantil com o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Ele foi o
maior responsável pela difusão desse folclore, tendo inspirado diversos outros
artistas a narrarem suas próprias histórias sobre o menino travesso.
Nos dias de hoje, há uma
tendência pelo resgate das nossas lendas através de uma ótica mais adulta, que
busca repaginar os personagens inserindo-os em épocas da nossa História que
justifiquem a sua existência. Em meu livro O Escravo de Capela, por exemplo, a fábula do Saci ganhou contornos de drama
histórico com pinceladas fortes de terror ao ter retratado a época da
escravidão do Brasil colônia como tema principal para a origem do mito.
A preocupação em manter viva
nossa herança cultural não se restringe apenas à literatura. O Governo
Brasileiro, em 2005, criou o Dia Nacional
do Saci
com o objetivo de darmos mais valor ao nosso folclore. Foi
escolhido o dia 31 de outubro (mesma data do Dia das Bruxas) no intuito de celebrarmos
nossa tradição, minimizando a influências de comemorações estrangeiras.


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