Chorei. Simples assim.
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Como eu conheci Literatura de Mulherzinha
Essa história começou de uma forma triste há um pouco mais de seis anos. Eu fui assaltada à noite, ao voltar de meu trabalho, por um caminho conhecido desde minha infância, que eu tomava de vez em quando, um caminho que deveria ser seguro. Eu fui caçada e cercada por um carro, lutando contra três homens que desceram dele, por instinto, porque um deles agarrou meu braço pensando que eu estava tentando fugir. Eu fui transformada em corda de cabo de guerra, sendo puxada pelos braços enquanto eu tentava soltar meu braço direito daquele arrocho que quase torcia-o e protegia minha bolsa com meu braço esquerdo. Foi uma luta que durou muitos minutos. Eu vi uma testemunha correr para dentro de sua casa e não voltar para ajudar. Um homem ! (PIF !) Foi então que aquela alça de bolsa arrebentou, desequilibrando-me, e eu vi aqueles homens correrem com minha bolsa, pisoteando-me naquela calçada. Eu quis correr atrás deles mas não consegui. Eu levantei-me arrasada, esfolada, com meu corpo inteiro cheio de hematomas e minha roupa rasgada ousadamente. Eu perdi chaves, chaveiros, contas pagas, dinheiro, documentos, fotos de meus sobrinhos pequenos, meus livros, meus textos, minhas jóias, meu relógio, um livro com textos de um escritor brasileiro que eu conhecia desde minha infância e que cobria minha vida inteira. Esse livro havia sido emprestado a mim por meu pai para nossa apreciação posterior em um debate entre nós, o que nunca aconteceu. Eu sentia-me enojada, com cheiro daqueles homens pelo meu corpo, sentindo minha vida inteira poluída. Era uma sensação terrível de amargura tomando meu corpo inteiro, como se eu estivesse vulnerável a todos e a tudo, principalmente ao lutar para defender-me, como se tudo estivesse destinado ao fracasso mesmo antes de tentar-se alguma coisa. Eu passei dias e dias a fio sentindo-me muito mal, sem beber e sem comer direito. Eu emagreci muito, de tanto mal-estar. Eu tinha pesadelos à noite, sem parar, toda noite. Forçava-me a dormir cada vez mais tarde porque eu tinha medo de dormir. Eu tinha feito minha avó e minha mãe mudarem os cadeados de suas casas porque as chaves que abriam-nos estavam naqueles chaveiros e os endereços de cada uma estavam naquelas contas. Eu não sabia a que ponto quem me caçara de carro daquele jeito poderia vir a pensar em fazer mal à minha família por minha culpa, através de que eu não soube defender. Eu telefonava várias vezes por dia para saber se todos e se tudo estavam bem. Mas não ficava tranquila mesmo sabendo que não havia mal algum ameaçando-os. Era um inferno. Eu voltei de meu trabalho em uma tarde muito quente um dia. Eu queria fazer alguma coisa que me fizesse sentir-me um pouco melhor, não tão horrível, não tão incapaz. Uma coisa de que eu gostasse e que costumasse fazer-me bem. Fazia meses que eu não lia um livro. Ler fazia-me muito bem, mas eu não queria nada filosófico.
Eu vi uma banca de jornal à minha frente e resolvi comprar um livro. Eu escolhi um romance. Mas não poderia ser nada dos séculos XX e XXI, nada que fosse tão moderno, tão prático, tão repleto de plástico. Nada que tivesse carros. Então eu vi “A Bela e a Fera”, de Hannah Howell, um romance medieval, onde haveria mais nobreza de atitudes e de sentimentos, onde uma mulher seria tratada muito melhor. Eu queria fugir daquela sensação terrível, que corroía meu orgulho de bisneta de um herói de guerra, que não soube honrar seu ancestral. Um romance muito bom, que eu preciso reler. Ele distraiu meu coração um pouquinho, mas ver que sua heroína conseguia safar-se sozinha ou tinha socorro fazia minha amargura insistir em não morrer. Eu procurei pelo meu armário de romances ao terminar essa leitura. Eu precisava de mais. Eu queria mais. Alguma frase, alguma linha, alguma palavra faria com que eu encontrasse o que eu não estava encontrando em mim para vencer aquele inferno, reconhecendo-me como eu mesma de novo. Um momento depois de vários livros, todos de romance medieval, sem curar aquela amargura que pisoteava meu coração ao ver sua heroína sair vitoriosa contra seus assaltantes, fez com que eu desconfiasse de que havia uma lacuna a preencher. Parecia ser uma saga. Eu fui pesquisar. Um link levou-me a outro link, que levou-me a outro link, que levou-me a outro link, que levou-me a outro link. Esse último link chamava-se Literatura de Mulherzinha, onde confirmei minhas suspeitas: era uma saga. Eu julguei que aquela blogueira escrevia muito bem. Ela era descontraída e envolvente em seus escritos. Salvei seu endereço. Sei-o de cor hoje. Ele fez com que eu completasse minha saga. Ele fez com que eu completasse várias outras sagas – que eu houvesse ou não houvesse começado antes de conhecê-lo. Era um endereço que conseguia fazer com que eu liberasse uma partezinha de minha energia para rir ou sorrir, mesmo que eu usasse muita energia mais para chorar e sofrer graças àquele espinho que eu não conseguia tirar. Eu não tinha percebido ainda que era um ferimento muito profundo, que estava custando a sarar porque estava muito infeccionado, tirando sabor de tudo porque derramava fel em meu sangue, apesar de eu prestar atenção às coisas boas, dando-lhes lugar em minha vida novamente: escrever, falar, ler, pensar, repensar. Então ganhei um insight de presente depois de muito remoer minha amargura: eu não havia sido cúmplice. Eu tinha lutado e perdido, sendo ferida e humilhada naquela calçada, mas não cedi, não fui covarde, não pedi clemência, principalmente não chorei diante deles naquela calçada. Restava aceitar que aquela briga tinha sido uma daquelas batalhas homéricas de meu mini-universo que eu estava fadada a perder. Isso custou-me muito mais por muito mais tempo, mas eu pude ler “Paixão e Vingança”, continuação de “A Bela e a Fera”, de Hannah Howell, sem dores.
Eu continuei lendo muito Literatura de Mulherzinha, principalmente sobre meus preferidos: escoceses selvagens de Hannah Howell. Qualquer postagem sobre eles é minha preferida mesmo antes de ser elaborada e escrita, tal seu gabarito. Mas eu consigo divertir-me com suas postagens pelos séculos XX e XXI também. Eu comprei uns seis romances cujo enredo pertence a essa época recentemente para provar isso. Eu prometi a mim mesma que eu responderia a cada postagem, de todas suas postagens, mesmo que não fosse imediatamente à sua publicação. São postagens que valem seu peso em ouro, merecendo uma resposta de feedback, seja emotiva, seja racional, mas uma resposta dada com carinho e vontade. Literatura de Mulherzinha estava comigo há quase três anos, em novembro. Meu pai faleceu, vítima de um acidente doméstico terrível, causado por um aneurisma que explodiu violentamente sem piedade alguma, cinco dias antes de minha anfitriã fazer aniversário. Essa proximidade de datas fez com que eu continuasse a vigiar seu blog, como de meu hábito, para não perder essa data para cumprimentá-la. Não foi diferente naquele ano. Eu lia suas postagens sempre que surgiam. Isso dava-me alento. Era um momento para parar de chorar e voltar a rir e sorrir, respirando profundamente para reaprumar. Uma mão que oferecem a você quando você está em suas últimas forças, pendurada à beira de um abismo. Então eu chorava por meu pai mais uma vez. Então aquelas postagens de minha anfitriã davam-me alento de novo. Foi assim durante um ano. Ela fez aniversário novamente. Eu cumprimentei-a. Então esperei que seu aniversário passasse tranquilamente para agradecer-lhe pelo que ela fizera por mim sem saber. Eu choro pela morte de meu pai ainda. Eu perdoei deus por tê-lo morto não tem muito tempo. Nunca parei de ler e visitar Literatura de Mulherzinha mesmo assim. Ele tornou-se sinônimo de alegria, de bem-querer, de carinho. Um lugar onde encontro opiniões e postagens que fazem-me pensar e ver assuntos ou detalhes de assuntos sob um prisma diferente, onde antipatizo (pouco) e simpatizo (muito) com muitos personagens de muitos livros e romances. Literatura de Mulherzinha faz com que eu ria quando Bárbara tem uma reação de tipo “pela flor despetalada” ou quando Beta compara-se a “um boneco baleado de posto” como sambista. Literatura de Mulherzinha faz com que eu torça um sorriso de canto, quase não sorrindo, quando Carla Blackhawk fala mal de Geoffrey De Burgh ou pensa equivocadamente que Gerard Butler é dela e não meu. Eu adoro esse blog, que merece ser um blogg com dois Gs, de tão bom !!! Eu desejo muitas décadas a mais de vida a ele, com muitas e muitas e muitas e muitas e muitas postagens !!! Eu desejo muitos anos de vida, com muitas alegrias e muitos chocolates e muitos livros e muitos patinhos e muitos romances à sua alma, conhecida como Roberta Oliveira.
Aí meu Deus, choramos. Sei nem o que comentar… S2
Sem comentários! Só chorei!
Eu agradeço pelas lágrimas de todas três, embora eu não tenha querido trazer lágrimas a ninguém. Tudo o que aconteceu comigo, contado em minha mensagem, fez com que eu aprendesse a lidar muito melhor com minha arrogância natural, embora eu aja por onde não permitir-me ficar acovardada, tendo um equilíbrio melhor. Mas não esquece-se lágrimas de quem chorou pela sua dor. Muito obrigada, meninas.