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Cap. 1034 – Alguém viu a Mona Lisa? – Rick Gekoski

Ciao!!!

Ok, confesso (para quem ainda não notou): me ganhou
no inspirado título nacional, tão diferente do “Perdidas, roubadas, destruídas”
original. Qualquer coisa que se refira à Mona Lisa e, por tabela, a Leonardo da
Vinci, Florença e Renascimento, obtém minha atenção imediata.
O bom é que foi o ponto de partida para várias
histórias muito curiosas.
Alguém
viu a Mona Lisa? – Rick Gikoski – Record
(Lost, stolen, shredded – 2013)
Cadê a obra de arte que estava aqui? Não, não foi o
boi que comeu. Sumiu. Algumas para sempre. O comerciante de livros raros e
estudioso Rick Gikoski reuniu em “Alguém viu a Mona Lisa?” alguns casos de
desaparecimentos de obras, seja de arte ou de literatura, que nos pegam pela
curiosidade.
Você consegue imaginar como alguém tiraria a Mona
Lisa do Louvre debaixo do nariz de todo mundo? Pois bem, conseguiram isso. E sabe
como o quadro voltou ao museu? Então, só lendo para saber. Os fatos verdadeiros
conseguem superar a ficção muitas vezes. (Ainda sobre o caso da Mona Lisa,
lendo sobre como foi a investigação pensei comigo que não foi à toa que o
Inspetor Clouseau, do Peter Sellers na série A Pantera Cor-de-rosa era francês
e que Agatha Christie resolveria o crime rapidamente).
E no bloco das obras levadas e restituídas, está o
mural de Urewara, uma obra de 5,5 x 1,7 m de Colin McCahon, que foi levado numa
madrugada de um centro em uma área preservada na Nova Zelândia. O roubo que
usou a arte para discutir perda e disputas políticas por terra, entre nativos e
colonizadores. “Uma amostra do que é ter algo tomado de você contra sua vontade
e ser capaz de impedir”.

A pintura de Da Vinci foi encontrada. No entanto, textos
referentes às memórias de Byron ou de Larkin não se tornaram públicos, foram
destruídos. Neste pacote, ainda se inclui o quadro de Winston Churchill feito
por Graham Sutherland como uma homenagem que não agradou ao homenageado pelo
excesso de “verdade”. Após ser exibido e entregue à família, teve o mesmo destino:
destruído. No entanto, o autor discorre sobre o que se levou a esta decisão e se
ela seria aceitável. Até quando o autor – ou outra pessoa designada ou não por
ele – tem direito de decidir o que podemos ler de seu trabalho, mesmo após a morte?
Com Kafka, a dicussão atinge o quem tem o direito de
ficar com as obras dele. Antes de morrer, deixou para o amigo e advogado Max
Brod os manuscritos inéditos e pediu que fossem destruídos. Dizem que uma parte
ele mesmo destruiu, mas não conseguiu concluir. O amigo não só descumpriu a
ordem e levou tudo (no caso os textos que se tornaram O processo, O castelo e Amerika) para a Palestina. Aí quando ele
morreu, os manuscritos tornaram-se propriedade de Esther Hoffle, secretária
dele. E com a morte dela, vocês vão ter que ler para saber como queriam
passá-lo adiante. A partir daí, iniciou-se uma disputa para ver quem ficava com
o material, sendo que inclusive o argumento “origens judaicas” do autor foi
mencionado.
Outro capitulo sobre apropriação de bens culturais
judeus é o que trata da biblioteca de Guido Adler. Destacando como vários
destes bens confiscados, tomados pelos nazistas, não retornaram aos herdeiros
das famílias de onde foram retirados. Ele ainda aproveita e discute o roubo de
arte, a quem interessa, quais os aspectos morais e legais disso. E o curioso
que você vai perceber é como este “roubo” muda de figura em outros casos:
quando as instituições que defendem a manutenção da cultura se apropriam de
bens culturais de outros locais alegando a incapacidade dos pontos de origem em
preservá-lo. Ao mesmo tempo, lembra que em tempos de guerra os políticos não
protegem os patrimônios das nações onde ordenam os bombardeios (sim, há um
capítulo sobre a Guerra do Golfo no Iraque que soa tremendamente atual diante
de algumas ações mostradas em vídeos atuais).
E ainda há o caso de ficar imaginando como teria
sido tal obra: o poema Et tu, Healy,
escrito por James Joyce ainda criança em homenagem à uma figura admirada pelo
pai dele. Ou os projetos arquitetônicos de Charlie Renne Mackintosh, caso ele tivesse
continuado realizando tais trabalhos.
No entanto, nada supera o destino de Os Rubaiyat de Omar Khayyâm, obra-prima
persa do século XII. Os poemas de quatro versos rimados à exceção do terceiro se
tratavam da filosofia do poeta, que devemos comer, beber (muito) e ser feliz
porque não existe nenhuma recompensa após a morte. No início do século XX, o
livro ganhou uma edição com uma encadernação que hoje em dia faria chorar os
defensores do modo #ostentação: a capa foi adornada com mais de mil pedras
preciosas, incluindo rubis, turquesas, ametistas, topázios, olivinas, granadas
e uma esmeralda, cada uma em seu próprio engaste de ouro unidas por quase 5 mil
peças de couro e 9 mil metros quadrados de folhas de ouro. O trabalho realizado
pelos mestres do estilo, os ingleses Francis Sangorski e George Sutcliffe
recebeu o apelido de O Grande Omar e
parecia fadado à tragédia desde o início. Só não sei como, diante do destino do
livro, de um dos encadernadores e de uma segunda versão dele, as pessoas não
entenderam que não era uma boa ideia tirar o projeto do papel. (Sim, estou
doida pra contar. Não, não farei isso. Prefiro que você leia o livro e faça a
mesma cara de “NÃO É POSSÍVEL!” que eu fiz)
No fim das contas, é assim que o autor resume o
ponto comum destas jornadas. “A arte, como a vida, é inevitavelmente perdida. O
que permanece são as forças da obliteração. (…) Temos o dom da vida, e o da
arte, por um tempo e nada mais”.
Links: Goodreads autora e livro;
site do autor; site da editora.
Bacci!!!!
Beta

1 Comentário

  1. Sil de Polaris

    Muitíssimo interessante !!! Mas uma peninha saber que fizeram tanta barbaridade contra artes, principalmente aqueles nazistas malditos, que fizeram tanta maldade, de tantas formas, contra tantas pessoas !!! Mas eu fiquei muito incomodada com aquele comentário sobre "arte, como vida, ter prazo de validade". Seria terrível perder livros e quadros tão famosos, principalmente pela ação de mãos humanas, por destruição!!!

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