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Cap. 1055 – Número Zero – Umberto Eco

Ciao!!!


Muitas pessoas vão dizer que
Umberto Eco passou um tempo no Brasil antes de escrever
Número Zero. Mas na verdade desde que o mundo é mundo, certos
pecados e comportamentos abusivos são repetidos por quem está certo de que
conseguirá o que quer e escapará impune.
Em todas as funções existem
os maus profissionais. O jornalismo, em qualquer lugar do planeta, está longe
de ser uma exceção – infelizmente.
Número
Zero – Umberto Eco – Record
(Numero Zero – 2015 –
Bompiani/RCS Libri S.p.A)
Milão, Itália, 1992. O
Comendador Vimercate era o investidor de um projeto ambicioso. Um jornal
chamado Amanhã, que nunca será
publicado. Para isso contratou uma equipe para montar 12 “números zeros” que passem
o espírito e a motivação do empreendimento. Que não é informar, mas reunir
elementos que ajudem a conformar o público em um padrão de pensamento que o
interessa e usar este status como arma para conquistar prestígio e ascender
socialmente.
Dos oito integrantes
reunidos para fazer o “Número Zero”, apenas dois sabem deste detalhe crucial.
Simei, o editor, e Colonna, narrador da trama, contratado para ser o braço
direito do editor e ser o ghost writer do livro que ele pretende lançar com uma
versão diferenciada da empreitada, onde ele é o editor herói  neste mundo corrompido do jornalismo. Os demais
integrantes são Maia Fresia, que esperava uma chance para ser uma jornalista
séria, que escreve mais que encontros amorosos de celebridades; Romano
Braggadocio, repórter experiente, obsessivo e interessados em conspirações;
Cambria, que garimpava notícias em hospitais e delegacias; Lucidi, que ninguém
conhecia as publicações; Costanza que era chefe de composição em jornais. Para a
geração pós-computador, antes desta invenção, a diagramação – ou seja, a
disposição dos itens na página de jornal (texto, fotos, manchetes, publicidades
etc), que hoje é feita em um programa na tela, era manual.
Ao longo do livro, Umberto
Eco costura anos de estudos acadêmicos sobre o comportamento da mídia e dos
veículos de comunicação com fatos que ocorreram (ou não) da história da Itália em
uma trama sobre como verdades podem se transformar em mentiras. É alguém que
sabe o que está falando e de quem está falando neste romance. Como que a
profissão que deveria apenas privilegiar o compartilhamento de informações que
interessam a todos para formar sua opinião sobre fatos se une a interesses
contrários a isso. Não é à toa que o livro está sendo chamado de “manual do mau
jornalismo”. Há coisas que causam horror nos leigos, pavor nos jornalistas que
não aprovam este comportamento e, provavelmente, vão motivar muitas discussões
em sala de aula (além de destruir aquele visão romântica de “vamos salvar o
mundo, colegas jornalistas”).
Ele mostra os coniventes, os
que se vendem por dinheiro, os que veem morrer a esperança de serem mais do que
são obrigados a se tornarem, os que fazem qualquer negócio, os paranoicos e
adeptos de teorias conspiratórias. Explica estratégias para destacar fatos
irrelevantes, para criar uma sensação diante de notícias falsamente
interligadas, as discussões sobre a quem, de que forma e se interessam as
pautas.  
Pelos maus exemplos
disponíveis mundo afora (mau jornalismo não é exclusivo da Itália nem do Brasil.
Pesquisem News of the World no
Google, só para saberem a que ponto os tabloides britânicos podem chegar. Ou
assistam à 1ª temporada – foi a que consegui ver – de The Newsroom para ter outras notícas ), o leitor se identifica com a
narrativa de Umberto Eco não importa o país onde esteja.
Os relacionamentos entre os
integrantes da equipe são citados pela ótica de Colonna. Pago para observar a
rotina e depois recriá-la a gosto do editor que quer posar de herói sem ser,
ele revela como que um comportamento obcecado e aparentemente maluco pode acertar
em algo mesmo sem saber o quê, como que um perdedor nato aos 50 anos pode
reencontrar um gosto de ilusão em uma pessoa que ainda está esperando a grande
chance acontecer, como alguns chefes pensam que são oniscientes e humilham quem
não colabora para o plano deles e também como não é possível confiar em ninguém
no ambiente de trabalho.
Infelizmente não posso dar mais
detalhes para não estragar a experiência de leitura deste livro de Umberto Eco.
Era um dos desejos da jornalista e da blogueira. E valeu a pena em cada uma de
suas diretas, realistas, delirantes, críticas, objetivas páginas sobre jornalismo, sobre interesses, sobre política, sobre o melhor e o pior dos seres humanos.

Links: Goodreads livro e autor;
site do autor; matérias no El País e no G1;
mais dela no Literatura de Mulherzinha.
Bacci!!!

Beta

1 Comentário

  1. Sil de Polaris

    Jornalismo foi um caminho pelo qual eu quase trilhei, mas esse caminho perdeu brilho para Psicologia. Eu adoro escrever e escrevo muito bem (modéstia às favas !!!) e tenho horror verdadeiro às barbaridades inúmeras que leio e ouço pelo mundo afora. Eu execraria escrever para publicar o que quer que fosse que não fosse verdade (a não ser que fosse uma criação muito clara e muito óbvia de fantasia de minha autoria).

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