Ciao!!!
FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!
(Extensivo às crianças grandes!)
Confesso que fiquei matutando por um bom tempo qual seria o livro que colocaria hoje no blog. Então, diante das notícias recentes da promessa de relançamento da Coleção Vaga-Lume, seguida de fim da editora e da promessa de manutenção do selo, me dei conta do óbvio. Por motivos merecidos – ou dignos, se preferirem – tinha que ser Coleção Vaga-Lume. Por motivos afetivos, tinha que ser este livro.
Aventura no Império do Sol – Sílvia Cintra Franco – Coleção Vaga-Lume
(1989 – Editora Ática)
Personagens: Belinha, Cacá, Reca e a equipe do Baleia Azul
O time do Baleia Azul estava penando para manter o patrocínio. Primeiro exigiram que a equipe vencesse o Interclube. Mas depois isso não era mais suficiente, precisavam vencer o Sul-Americano, que seria disputado no Peru, sendo que as donas da casa eram o time a ser batido. Os desafios não assustavam a inseparável dupla Belinha e Cacá, amigas e jogadoras. Elas sabiam que a equipe precisava de mudanças e que Reca, a levantadora vinda de Minas, podia ser a solução. E quando a aventura fica perigosa demais, com o desaparecimento de Reca na reta final da competição, Belinha e Cacá não vão hesitar em se colocar em risco para salvar a amiga, o time e o dia.
Comentários:
– Atenção, jovens aprendizes, houve uma época onde para se marcar ponto no vôlei, precisava primeiro conquistar e depois confirmar a vantagem em lances distintos e consecutivos. Apesar de cada set ter o limite de 15 pontos (sendo obrigatórios os dois de vantagem para fechar), os jogos eram muito mais demorados. E quem mandava no vôlei feminino da América do Sul era o time peruano.
– Esse era o vôlei quando Sílvia Cintra Franco escreveu Aventura no Império do Sol. Depois, com a explosão da modalidade, as regras foram adaptadas para tornar a partida mais ágil e mais aceitável para a televisão transmitir.
– Entre o surgimento de tantos formatos, designações, rótulos, em uma destas conversas sobre a vida, alguém comentou sobre o tal fenômeno da “autoajuda infanto-juvenil” e eu brinquei que não precisei deste gênero porque tinha a Coleção Vaga-Lume. Ao lado dos mistérios e dramas de Marcos Rey, as aventuras da Sílvia Cintra Franco estão entre os que me marcaram.
– E dos livros dela, Aventura no Império do Sol foi um amor instantâneo à primeira vista. O motivo? Eu fui uma adolescente aparentemente
falante, que afogava meus problemas de autoestima em uma sede sem fim de buscar conhecimento, com os dentes tortos (que só um tratamento doído e longo e um aparelho ortodôntico deram jeito). E por causa de um problema de coluna (escoliose), o ortopedista recomendou a prática de um esporte. O ideal seria natação e, diante do meu trauma de quase afogamento por duas vezes, perguntei se havia outra opção.
– Sim, havia. Vôlei. Inclua o time masculino do Brasil que foi campeão olímpico em Barcelona e a vontade de aprender a jogar depois que o time da minha sala perdeu no interclasse e eu meio que levei a culpa (apesar de ter avisado que não sabia jogar). Resultado: lá fui eu treinar em uma escolinha. Foram anos ótimos, de convivência em um ambiente diferente do habitual casa, escola e igreja. Novas mentes, novas formas de pensar, novas formas de conhecer meu temperamento e usá-lo na quadra, disciplina e dedicação mesmo quando não eram exercícios que eu gostava (apesar de que eu adorava o que a maioria detestava, os treinos de defesa. Para meu teimoso temperamento escorpiano, era um desafio não deixar a bola cair no meu lado da quadra, mesmo que isso incluísse me estabacar várias vezes no chão para impedir).
– Ao ver as jogadoras na capa do livro, era óbvio que ele tinha sido escrito para mim. Tanto que foi a minha opção para uma prova de Literatura que a professora liberou a escolha do livro. Enquanto vários penaram para resumir o que diziam ter sofrido para ler, eu escrevi toda a trama, as melhores passagens na minha opinião, personagens, clímax e desfecho com riqueza de detalhes. Afinal de contas, de tanto ler, tinha praticamente decorado tudo, as vírgulas e o erro (antes ou depois das mudanças de regras, uma coisa é certa: continua impossível vencer uma partida de vôlei por 4 sets a 1, como cita o livro).
– Aventura no Império do Sol faz parte da nossa amada Coleção Vaga-Lume, um selo paradidático, ou seja, voltado para o trabalho em sala de aula. Ele mostra a amizade entre as meninas, a necessidade de trabalho, disciplina, respeito pela dor e fraqueza do próximo, capacidade de admitir o que pode ser melhorado, dedicação, criatividade, coragem, inteligência e inspiração para enfrentar os desafios. Às vezes, com apoio dos pais, às vezes não, mas sempre com vontade de acertar. Muitas vezes sendo obrigada a colocar o dedo na ferida pro veneno sair e melhorar.
– Leva o leitor para conhecer a cultura do país vizinho, Peru, explicando sobre povos, cidades, cores, cheios, temperos e costumes. Até brinca com as tradicionais “pegadinhas” do idioma Espanhol (foi aqui que aprendi, como Belinha, Cacá e as amigas, que bailar un rato não é o que parece). Jogando as meninas em uma aventura para salvar uma amiga do perigo e o time de perder o patrocínio. Tem humor, tem romance, tem espionagem, tem corrida contra o tempo.
– E sim, tudo isso em suas pouco mais de 100 páginas, usando exatamente aquilo que a gente pena para encontrar hoje em dia na Literatura ou fora dela: personagens femininas fortes, determinadas e que resolvem os problemas pensando e agindo, não batendo pestanas e/ou esperando um super-herói para salvar o dia. Em nenhum momento, elas são incentivadas a deixarem de ser quem são para conquistar seus objetivos. E por isso, conquistaram muito mais que a vitória na quadra.
– Não deixa de ser maravilhosamente divertido que os mais de 20 anos entre a leitura e a releitura tenham me mostrado que Belinha e Cacá estão entre as primeiras meninas-superpoderosas que tive contato. E não foi à toa que eu quis ser uma delas quando li pela primeira vez. Assim como procurei por Ângela no Morro dos Ingleses, quem sabe não topo com uma delas treinando um time de vôlei por aí? Independente de estarem ligadas ou não ao esporte, podemos apostar que a maior chance é de que elas seriam excepcionais no que se dispusessem a fazer.
– Pela minha experiência, posso dizer que recomendo aos pais que incentivem sempre os filhos a lerem. E façam com que eles e elas entendam que não é chato, mas sim uma porta escancarada para realidades diferentes e que contribuem para melhorar e enriquecer o seu mundo.
– Ah, se puder, coloquem para praticar algum esporte, mas não transformem em obrigação de ser o melhor. O que ele vai aprender, pode torná-lo muito mais completo no que decidir fazer depois.
– E acima de tudo, deixem que sejam crianças. Não acelerem a adolescência até que ela bata na porta no tempo dela. Passa rápido. Mesmo quando tem fotos. Mesmo quando tem vídeos. Mesmo quando tem as infindáveis lembranças narradas por integrantes de família. E depois chora ao levar os filhos, sobrinhos, ou as própria criança interior, quando assiste a Divertida Mente ou O Pequeno Príncipe porque se
depara com a dor do esquecimento que achou necessário porque já era “adulto”. Por isso que desejei feliz Dia a todas as Crianças, inclusive às grandes.
Meu muito obrigada à Sílvia Cintra Franco, recentemente falecida. Onde quer que você esteja, saiba o quanto um livro paradidático que você criou após viajar por cidades peruanas se tornou tão marcante na minha vida.
Arrivederci!!!
Beta
Ora, eu tenho mesmo saudade desse estilo de vôlei citado por ela (mesmo que quatro sets contra um set seja impossível mesmo !) quando suas partidas eram longas e trabalhosas e um cansaço simples poderia reverter um placar fazendo você perder quando você estava vencendo. Era vibrante mesmo, muito mais que agora !!! Mas este entusiasmo todo vem de uma criatura que joga queimada muito bem – mais nada.
Eu li esse livro quando tinha 12 anos, na escola e eu amei tanto a história, que anos depois, com os meus mais de 30 anos ele me levou a conhecer o Peru. Machu Picchu havia se tornado um sonho que eu pude realizar depois de adulta. Que alegria ver que esse livro não marcou só a mim e que triste saber que a editora Ática está em maus lençóis.