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Cap. 1406 – O livro das listas: referências musicais, culturais e sentimentais – Renato Russo

Ciao!!!

Renato
Russo tinha o hábito de fazer listas: de filmes, livros, músicas, cantores,
álbuns… Ou simplesmente, as famosas “Coisas a fazer”. Eram formas de
organizar o pensamento e materiais que despertavam afeto, estabelecer ligações,
elencar as coisas que faziam a mente borbulhar.
Este
processo de mexer no baú do Renato está se revelando cada vez mais encantador
para mim.
*** Texto originalmente escrito pro Livrólogos, que a Rosana
gentilmente permitiu que fosse publicado no Literatura de Mulherzinha.
Obrigada, Rô! ***
O livro das listas: referências musicais,
culturais e sentimentais – Renato Russo – Companhia das Letras
(2017)
Depois
de Só por hoje e para sempre e do 42nd St Band,
este é o terceiro livro lançado pela
Companhia das Letras
a partir de materiais produzidos pelo líder da Legião
Urbana.
Não
deixa de ser curioso ter a chance de analisar mais uma vez como funcionava a
mente do Renato Russo – era um paraíso de múltiplas referências. E aqui não se
trata apenas de processo criativo, se trata das coisas que despertavam algum
sentimento nele, rendiam lembranças ou rememorações afetivas, ganhavam
importâncias e mereciam ser registrada nos vários cadernos. 



Os textos foram
organizados por Sofia Mariutti e Tarso de Mello em etapas cronológicas: anos
70, 80 e 90 e George Schlesinger fez as traduções das listas escritas
originariamente em Inglês. Podemos perceber os temas que conversam entre si, os
que ele fez conversarem e os interesses que surgiram em determinada fase da
vida, como as leituras voltadas sobre homossexualidade (um dos desdobramentos
foi o CD The Stonewall Celebration
Concert
).
Confesso
que me deu orgulho quando via alguma citação que coincidia com algo que também
é importante para mim: como as citações a Indiana
Jones e os Caçadores da Arca Perdida, Quanto mais quente melhor, Noviça Rebelde,
Vem dançar Comigo (sim, quase saí pulando pela sala quando vi esta menção)
;
músicas dos Beatles; e, por incrível que pareça, a poesia de Alberto Caeiro, um
dos heteronômios de Fernando Pessoa – não por Renato (que lia de tudo,
inclusive em outros idiomas), mas por mim, fiquei com trauma de poesias por
causa na escola e só fui começar a ler com gosto na faculdade, incentivada pelo
meu melhor amigo-irmão. (Minha reação após pensar “Tinha que ser esse, Renato?”
foi mandar uma mensagem imediatamente pra meu amigo que me apresentou Fernando
Pessoa quando vi o poema ocupando duas páginas do livro).
A
vantagem é que eu aprendi mais sobre artistas, filmes, livros e estilos
musicais que já ouvi falar (ou não), mas não tive a experiência ainda de ver,
ler e/ou ouvir. Por conhecer algumas muitas letras que ele
escreveu pra Legião e para os álbuns solo pude perceber a forma como se
apropriou do que aprendeu e a incorporou em suas canções. E olha que, como já
disse antes, sou uma legionária em treinamento e algumas referências me
escapam.
A
sensação de proximidade aumenta quando encontramos as listas escritas com a
letra dele. Em várias vezes, a gente
vê primeiro a lista digitada e, algumas páginas depois, lá está, do jeito como
foi escrita, na letra dele.
Ou ver
“Cassia Eller (escrever canções)”. Ou anotações de um mapa astral. Ou uma única
pergunta sem resposta na página 30 e saber que isso falava muito sobre quem não
escreveu nada ali. Junto com lista de óperas a que ele gostaria de assistir. E
aprender, graças as explicações, que quando a ópera de Richard Wagner “Tannhäuser”
foi apresentada no Brasil, Machado de Assis escreveu sobre ela para a Gazeta de
Notícias no Rio de Janeiro. Achou pouco? Em Paris, foi Baudelaire quem
resenhou. (Indo ali me recolher ao reles cantinho de “Ok, não é acessível para
meros mortais. Desculpa”). E tem uma Roberta citada no livro (mas não vou
contar quem ela é. Uma pista, caso queiram pesquisar: eu a “conheci” em um dos
meus filmes favoritos: “Simplesmente Amor”)

 “Fazer esta depressão ir embora & ir
ver quem você ama (pode ser a última vez, você sabe disso)” 
Confesso que doeu ler isso.

A
parte gráfica é um show à parte. Ajuda a gente a entender e identificar quem
eram as pessoas, diretores, filmes, músicos tão importantes para ele. Por ter
muito azul, amei (afinal de contas, é a cor com a qual mais me identifico). Ao
manter a diagramação em caderno, faz a gente ter a sensação de folear a
intimidade dele e remete à forma original dos textos citados, além de dialogar
com os outros dois livros anteriores que resultaram do mesmo acervo.
Ah,
não detalhei quais listas ele fez porque considero que é uma descoberta que
cada leitor deve fazer por si só. Não quero quebrar expectativas. Por isso
citei pontos que estão em diferentes momentos do texto. Sou suspeita para
falar, já que Renato Russo deu voz a muitos dos meus sentimentos (e de várias
outras pessoas independente da geração). Portanto, se for do seu interesse,
embarque e divirta-se. E também faça as suas listas.

As
coisas mais básicas são as seguintes: quem acredita sempre alcança, respeito ao
próximo, não faça aos outros aquilo que você não quer que te façam… é meio
por aí. No fundo é o que o I Ching fala,
é o que Buda fala, Cristo e Krishna também… Todo mundo falou, mas ninguém
ouviu… Se você tem a intenção de ter um coração puro e tenta seguir o negócio
do trabalho e da amizade – ter um trabalho digno e tentar cultivar os amigos –,
você não tem o que temer
” (Renato Russo, entrevista a Bia Abramo,
Bizz, Abril de 1986)

Só pra não dizer que não tem ao menos uma lista em um livro sobre elas, segue a minha
MÚSICAS DO LEGIÃO QUE FORAM TRILHAS EM MOMENTOS INESQUECÍVEIS DA MINHA VIDA
(para bem e para mal – entendedores/entendidos entenderão)
1 – Vento no litoral
2 – Sereníssima
3 – O mundo anda tão complicado
4 – Quase sem querer
5 – Vamos fazer um filme?
6 – Leila
7 – Teatro dos Vampiros
8 – Mais uma vez
9 – Tempo Perdido

10 – Faroeste Caboclo

Arrivederci!!!
Beta

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