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Tudo que deixamos inacabado – Rebecca Yarros – Cap. 1955

Ciao!

Disponível na Amazon

Eu amo estas histórias interligadas de diferentes gerações da mesma família. Não é à toa que Lucinda Riley é uma das minhas autoras favoritas – trabalha isso com maestria.

Não conhecia Rebecca Yarros, mas mergulhei nesta história sem querer pausas. Eita que livro lindo!

Tudo que deixamos inacabado – Rebecca Yarros – Arqueiro
(The things we leave unfinished – 2021)
Personagens: Georgia Stanton e Noah Harrison

Após um divórcio público e transformado em espetáculo na imprensa de fofocas, Georgia queria distância do mundo. e não teria sossego: era a responsável pelo inventário da bisavó, a famosa autora Scarlett Stanton. Pressionada pela mãe, decide aceitar a proposta de deixar outro autor terminar o livro que a Bisa não conseguiu terminar, a própria biografia. Noah Harrison era apaixonado fã de Scarlett e poder concluir o manuscrito dela seria a oportunidade de uma vida. O inesperado seria convencer Georgia que era digno da confiança dela no pessoal e no profissional.

“Até parece que nunca viu um homem bonito”

Temos duas histórias narradas em paralelo. No presente, Georgia enfrenta duplo luto: a morte da bisavó, Scarlett, com quem ela era profundamente ligada e o traumático fim do casamento. A imprensa a batizou de Rainha de Gelo por não manifestar reação diante das notícias da traição do ex-marido, que já estava esperando um filho com a segunda esposa.

Ao voltar para casa é confrontada com a mãe se passando por ela para vender os direitos de conclusão e publicação do manuscrito que Scarlett não concluiu. Para ampliar a surpresa, o escolhido para a missão é Noah Harrison, um autor de livros que Georgia sabia que a bisa não gostava. E com quem ela já havia se estranhado alguns minutos antes num encontro informal, sem se conhecerem.

Georgia e Noah eram igualmente passionais na defesa de seus pontos de vista. Quando o acordo é feito, ele sabe que terá que se submeter aos critérios dela para entender as entrelinhas do manuscrito e ser capaz de dar uma conclusão ao texto de Scarlett.

“- Talvez o mais gentil seja deixar as histórias inacabadas. Deixar que continuem com todas as possibilidades, todo o potencial, embora só existam na minha cabeça”.

De algum jeito, eles fariam aquilo durar

Ao longo do livro, a gente lê cartas a história de Scarlett Wright, filha de uma família nobre. Ela e a irmã Constance serviram o exército britânico no serviço de apoio aos pilotos que estavam na linha de combate durante a Segunda Guerra Mundial.

Scarlett era a mais velha, impetuosa e decidida a não deixar os pais, falidos, comandarem a vida dela – eles articularam o casamento com o filho de um homem rico que não tinha título. Em hipótese nenhuma, Scarlett deixaria ser vendida por eles para um homem que não a respeitaria e com quem não pudesse construir uma relação saudável. (O cara era desprezível).

Constance vivia um amor tranquilo com um rapaz da vizinhança – que não era nobre. Ambas esperavam o – e torciam pelo – fim da guerra para poderem realizar os sonhos que agora estavam em suspenso. E não há rivalidade entre as irmãs – elas se apoiam em todos os momentos, por mais diferente que seja a forma como enfrentam a vida.

O piloto Jameson Stanton cruza o caminho das irmãs Wright e a conexão entre ele e Scarlett é imediata e flamejante. Ele era norte-americano, mas como entrou na guerra sem a ordem do país, no momento estava sem pátria.

Pelo manuscrito de Scarlett e pelas cartas entre os personagens, a gente embarca neste período de incerteza, dor, perda, perigo e as escolhas feitas por vontade própria ou pelas circunstâncias.

Escrever era tão mais fácil que lidar com as pessoas

Entre os mergulhos na história de Scarlett, Jameson e Constance, a gente também vê os desdobramentos do relacionamento profissional conturbado entre Noah e Georgia. Especialmente quando deixa de ser virtual e ele decide se mudar para Poplar Grove, para poder negociar diretamente com ela o andamento do livro.

Georgia tinha uma visão firme – e um vasto conhecimento adquirido na convivência com a Bisa, que a criou – sobre o que poderia e o que não poderia ter neste livro. Ela estava convicta de que o “viveram felizes para sempre” que Noah defendia com opções que eram clichês até a alma não eram a melhor alternativa.

Noah precisava convencer Georgia a confiar novamente em um homem e especialmente nele. Estava convicto de que seria capaz de honrar a memória de Scarlett Stanton e o afeto que ela conquistou dos leitores. Só que ele não tinha 100% de controle sobre o desfecho do livro e nem sobre o que começou a sentir por Georgia.

Noah teria que aprender a ser a melhor versão dele, algo que fosse capaz de mostrar a Georgia que ele valia a pena – mais que o fim do livro, ele passou a se interessar em iniciar um feliz para sempre que não fosse ficção. E percebeu que não temia correr riscos por ela.

“- Você vive em um mundo onde pode roteirizar tudo que as pessoas dizem, e um gesto grandioso deixa tudo melhor num instante, mas a verdade é que relacionamentos dão trabalho no mundo real. Todos nós fazemos besteira. Todo mundo diz coisas de que se arrepende depois ou faz a coisa errada pelos motivos certos”.

Eu sou suspeita porque gosto deste tipo de história, mas nem todo mundo sabe conduzir sem se perder. Rebecca Yarros criou um livro de mais de 400 páginas que flui sem atravancar, sem enrolar e sempre desafiando os personagens.

A escrita da autora é maravilhosa. Eu mergulhei no livro com gosto, o trânsito entre as diferentes gerações das mulheres Stanton foi bem conduzido, me emocionou várias vezes. A gente entende as motivações e escolhas de cada um, mesmo lamentando algumas, a gente torce e percebe o quanto a ignorância da misoginia e da guerra podem impactar na vida, mesmo com a dita evolução da sociedade.

Enfim, li, gostei, me emocionei e recomendo.

– Links: site da autora; Skoob; mais dela no Literatura de Mulherzinha.

Arrivederci!!!

Beta

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