Ciao!!!
Quem acompanha o Literatura de Mulherzinha ou as minhas redes sociais, sabe que:
– não sou fã de filme ou livro de terror ou elementos sobrenaturais;
– levo susto com a minha sombra;
– Os Outros foi a minha experiência de sair da sala do cinema parecendo uma assombração.
Aí vocês se pegam pensando: por que cargas d’água esta criatura impressionável vai ver um filme e ler um livro com fantasmas?
Tom Hiddleston Page |
E tanto depois do filme quanto da novelização do roteiro de Guillermo del Toro e Matthew Robin, escrita por Nancy Holder, terminei bem surpreendida.
A Colina Escarlate – Nancy Holder – Record
(Crimson Peak – 2015)
Personagens: Edith Cushing, Alan McMichaels, sir Thomas Sharpe, Lucille Sharpe e Allerdale Hall
1901. Em Buffalo, EUA. A jovem Edith Cushing vive duas emoções distintas: o livro que escreveu foi recusado por editores e conhece um jovem baronete Thomas Sharpe, que veio da Inglaterra em busca de financiamento para a construção de uma máquina. Os dois passam a se ver e Edith se vê encantada pelo nobre moreno, alto e misterioso. Após uma tragédia, ela casa com ele e se muda para a casa da família Sharpe, Allerdale Hall, na Inglaterra. O lugar está caindo aos pedaços, porque está afundando em uma argila vermelha. Na nova vida, tentando se entender com o marido e estabelecer uma relação com a sisuda e fria cunhada, Lucille, Edith se vê perseguida por fantasmas e só vai compreender tarde demais o alerta que recebeu do fantasma da mãe quando criança: cuidado com a colina escarlate.
Comentários:
– Em vários momentos de metalinguagem, na primeira parte da trama, ainda
em Buffalo, Edith Cushing diz que escreve uma história com fantasmas (o
que é diferente de história DE fantasmas) e que preferia ser Mary
Shelley, autora de Frankenstein, a Jane Austen. Então, se vê enredada em
uma trama de sedução, mistério, culpa, remorso, dor, loucura, obsessão
da qual poderá se tornar a próxima vítima. Quanto aos fantasmas, não
eram novidade para ela, que os via desde a morte da mãe, quando ela
ainda era criança. E nas aparições, o fantasma dizia “cuidado com a
colina escarlate”, mas ela não entendeu o aviso até ser tarde demais.
– De acordo com Tom Hiddleston, tudo isso tem a ver com o romance gótico, estilo que o diretor Guillermo del Toro quis homenagear com o filme. Quer saber mais? Vejam o vídeo abaixo:
– Na próspera Buffalo, Edith é a única herdeira de Carter Cushing,
empresário que conseguiu enriquecer a partir do próprio esforço. Nutre
uma amizade sincera pelo oftalmologista Alan McMichaels, que é
apaixonado por ela, mas não se declarou. Enfrentou a frustração de ter
um manuscrito recusado por ser uma história de fantasmas, onde eles são
uma metáfora para o passado, com o conselho de investir na história de
amor. Justamente quando tentava outros caminhos para publicar o livro,
ela conhece um baronete inglês, alto, bonito, sedutor e misterioso,
Thomas Sharpe, que leu rapidamente um trecho do livro dela e gostou, porque,
de onde ele vem “fantasmas são levados a sério”.
– Entre
reencontros, valsas, eventos sociais, Edith se vê cada vez mais
encantada pelo homem que representa aquilo que disse odiar (os parasitas
da aristocracia). Sem o financiamento que veio buscar, Thomas decide
pedir Edith em casamento. No entanto, no mesmo dia, o pai dela o informa
que descobriu fatos sobre o passado dele e da irmã e suborna ambos para
que deixem a cidade, com a condição de que, naquela noite, ele partisse
o coração da filha, o que ele faz publicamente. Edith nem poderia
prever que passaria por uma montanha-russa de emoções em curto espaço de
horas. Da humilhação com Thomas, à descoberta dos motivos que o levaram
a fazer o que fez e a perda do pai. Órfã e desolada, encontra no nobre
inglês um porto seguro e decide de casar com ele, partindo para viver em
Allerdale Hall, na Inglaterra.
Olha como Allerdale Hall é acolhedora… #sqn! |
– Sabe a típica casa que você chega, olha, dá meia volta e corre para um local seguro – de preferência em outro continente? Então, esta é Allerdale Hall. Você não passa nem na porta, quanto mais bater lá pra interagir com os vizinhos ou pedir um copo de açúcar… Muito – mas muito mesmo – antiga, caindo aos pedaços, afundando em uma argila vermelha (que pode ser a fonte de recuperação da fortuna da família, desde que Thomas consiga fazer funcionar a máquina de extração que projetou), escura, o local desperta calafrios em qualquer pessoa sensata e pavor nas impressionáveis como eu.
– Mas como Edith está apaixonada, no caso dela, despertou curiosidade. Só que ela começa a ser assombrada por fantasmas horríveis, que aparecem sempre à noite, quando ela está sozinha (e pega para investigar o barulho que ouviu – AHAM, isso mesmo). Eles dizem para ela ir embora, dizem que ela terá o sangue dele nas mãos, a conduzem até áreas “inseguras” e a perseguem pela casa, em uma jornada onde ela se coloca em risco para entender o que está acontecendo.
– Sem o apoio do marido e da cunhada, que prefere chás para acalmá-la, Edith se vê empenhada em uma batalha de curiosidade para descobrir o que os fantasmas querem com ela e descobrir os mistérios que envolvem o local. A cada passo, a cada descoberta, ela está mais perto de um desfecho trágico, especialmente ao se dar conta de que, desobedecendo ao conselho do fantasma da mãe, tinha ido por vontade própria para a colina escarlate e poderia não sair viva de lá.
– É uma história simples, que o leitor/espectador consegue antecipar algumas revelações que serão feitas mais à frente na trama. Uma coisa é certa: não é uma história de terror (*** PAUSA PARA A BLOGUEIRA MEDROSA FAZER UMA DANCINHA DA FELICIDADE***). É um livro/filme com fantasmas, com uma missão muito clara, na qual a protagonista passa por uma longa jornada para descobrir que exerce um papel chave. É uma homenagem do diretor Guillermo del Toro, autor do argumento e um dos autores do roteiro, ao romance gótico. Uma moça virginal será seduzida por um homem misterioso e passará por provações em uma casa (neste caso, mal assombrada pelos mortos e pelos vivos) para sair modificada da experiência.
– O que eu gostei: o foco do filme e do livro é no confronto das personagens femininas. Elas são as forças que movem a trama. Os homens ou são submissos (Thomas Sharpe) ou não são fortes o suficiente para dar conta delas (Carter Cushing e Alan McMichaels). Edith é a luz que chega para acabar com a escuridão em Allerdale Hall. Ela quer ser escritora, enfrenta os preconceitos por ser mulher, sabe dos sentimentos que desperta no amigo mas ainda não sentiu mais que amizade por ele. E se viu encantada pelo baronete falido e assombrada (ainda estou indignada com a vontade dela em ser caça-fantasmas de babados e rendinhas). Embora no livro, ela passe tempo demais negando a possibilidade de ser capaz de ver fantasmas. No filme, ela sabe que vê e age a partir disso.
– Para isso deverá enfrentar Lucille, a sisuda irmã mais velha, com cara de chupou limão azedo, comeu e não gostou, e dominadora do marido. Sobre ela, melhor nem contar, leia o livro ou veja o filme para entender o tamanho da encrenca em ter Lucille como cunhada. Sim, ela demora para se revelar, apesar de o livro ter umas cenas que não constam no filme e que oferecem mais detalhes sobre ela.
– A curiosidade de Edith a levou a cavar segredos da história da casa, da família Sharpe e de coisas que ocorreram ali, diretamente ligadas à aparição dos fantasmas. Seria simples colocar Edith como a donzela em perigo, mas aqui, por mais que tenha ajuda (e por mais que, na minha opinião, ela ande com o cartaz ME ASSUSTE/ME MATE por tempo demais para escapar ilesa), se ela não se virar sozinha, ela pode se tornar a próxima assombração da casa.
– Quanto aos rapazes, não podemos criticar Edith por cair na conversa do Thomas Sharpe. Ele é o Tom Hiddleston lindo, envolvente, sedutor e disse o que ela queria ouvir sobre o livro dela e sobre fantasmas (Duvido que você não estenderia a mão na cena do “Would you be mine?”. Nem preciso dizer o que eu faria, né?). O leitor/espectador desde o início sabe que ele não é santo, que ele tem interesses ocultos e o vê agindo conforme o plano, mas não consegue ainda captar até onde é o limite dele ou se há possibilidade de redenção verdadeira. No filme, a ambiguidade dura por mais tempo que no livro, que indica mais rapidamente o que ele queria fazer, só não sabia se conseguiria.
– Quem é muito beneficiado no livro é o dr Alan McMichael. No filme, é o que temos menos chance de acompanhar, porque o papel dele é o de desvendar parte do mistério e partir em missão para salvar a mulher que ama, mas que nunca teve coragem de se declarar. No livro, há mais espaço para as motivações, o vínculo dele com Edith desde a infância, os sentimentos dele por ela e o que ele se dispôs a fazer ao tentar resgatá-la. Claro que o ato de coragem pode colocá-lo em perigo junto com a amada que ele pretendia salvar.
– Aconselho a ver o filme antes de ler o livro. Primeiro, porque o impacto do visual do filme é muito grande. A fotografia – tanto na parte em Buffalo, quanto na parte na Inglaterra – é muito bonita. É a prova que o diretor sabia muito bem o que queria, cada detalhe deve ter sido exaustivamente pensado e discutido para chegar àquele resultado. Afinal de contas, basta acompanhar o óbvio: a paleta de cor de cada personagem – inclusive dos fantasmas – revela muito sobre eles.
– E a direção de arte e de cenário chega a ser um absurdo de tão bom no que diz respeito à Allerdale Hall (Inclusive há um livro sobre isso). A casa foi construída em Toronto, com detalhes tão meticulosos que quando saí do filme comentei com meus amigos que a cabeça do Guillermo del Toro deve ser um lugar interessante – e assustador – de se observar. Alguns jornalistas privilegiados (#inveja) entrevistaram o diretor e o quarteto protagonista na casa na reta final das filmagens e relataram o encanto com o cenário, com o fato de que a madeira realmente rangia e passava a impressão de ser um local realmente vivo.
– Então por que ler o livro? Porque sempre oferece mais informações e visões sobre a trama. Há várias cenas que não estão no filme (talvez apareçam como cenas extras no DVD/Blu-ray) que permitem novos olhares (ou confirmações) sobre o que pensamos dos personagens. Apesar de ter considerado que o filme explora melhor os fantasmas – neste caso, a imagem é mais forte que qualquer descrição -, ele ajudou a consertar uma informação que eu tinha entendido errado e confirmou algo sobre uma das minhas cenas favoritas – que ocorre no final. Ainda mais depois que soube que o Guillermo del Toro entregou a cada ator uma biografia de dez páginas sobre o personagens com fatos importantes antes do período em que a trama começa, além de fraquezas, características que desencadeiam reações. E um grande segredo de cada um que apenas o diretor e o ator ou a atriz saberiam. Então quando soube do livro quis ler, para reviver o que vi no cinema e quem sabe topar com os segredos alheios. A parte mais engraçada é que se topei, não percebi. Aí teria que conversar com o diretor ou o elenco para saber… 😉
– Ainda mais porque o maior dos segredos nem está no livro. É algo que #MadreHooligan sempre disse à filha impressionável e medrosa: que eu deveria ter medo dos vivos, que são muito mais perigosos que os mortos. Esta frase faz muito sentido na colina escarlate.
– Links: Goodreads livro e autora; Site oficial, Instagram e Facebook do filme; Skoob.
Bacci!!!
Beta
Ai, eu preciso mesmo assistir esse filme e ler esse livro porque esse enredo tem soado otimo, com personagens excelentes de uma carga emocional de forma violenta, que tornou-se arrebatador para mim de uma maneira magnetica !!! Tom "Loki Laufeyson" Hiddleston tornou-se um deus realmente !!!