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Garoto encontra Garoto – David Levithan – Cap. 955

Ciao!!!
Tradicionalmente, eu tenho problemas com metáforas e poesias. Era gritante nas aulas de Literatura onde simplesmente a interpretação de texto me tirava do sério porque eu não conseguia entender qual era a resposta certa. Não conseguia entender o suficiente o que os autores queriam dizer. Daí surgiu o trauma.
Aí, eis que no ano passado apareceu um autor na minha vida, que me fez rever alguns conceitos… O nome dele é David Levithan e ele tem o dom de me mostrar que não existe resposta certa quando se trata de sentimentos.
Garoto encontra Garoto – David Levithan – Galera Record
(Boy meets Boy – 2013)
Personagens: Paul, Noah, amigos, nem tão amigos, ex e etc!
Paul é um adolescente que sempre soube quem era. Era gay. Não era um problema ou um drama, era uma realidade com a qual ele lida bem. Ele tem Joni, como a melhor amiga. Entre os amigos estão Tony, um garoto gay com pais religiosos que não sabem lidar com isso. E Infinite Darlene, a quarterback da escola. Durante uma ida musical à livraria, ele conhece (e se encanta por) Noah. E ele o reencontrou na escola onde estudava. E quando uma linda história parece prestes a começar, alguns eventos paralelos interferem fazendo com que Paul precise lutar para conquistar o garoto pelo qual se apaixonou.
Comentários:
– Em uma escola totalmente atípica – “as líderes de torcida andam de Harley, a Rainha do Baile é um cara chamado Daryl (mas que agora prefere ser chamado de Infinite Darlene) e a aliança entre gays e héteros ajudou os garotos héteros a aprenderem a dançar” (como explica o resumo) – onde a diversidade saiu mesmo do papel e se tornou o que é, ou seja, normal. Paul estuda com alguns de seus amigos. Joni, a amiga hétero, que rompeu de vez o namoro ioiô com Ted e vai começar uma relação com Chuck, um dos jogadores de futebol americano. Infinite Darlene, a quarterback, rainha do baile e diva reinante. Também integrante do grupo de melhores amigos, Tony, estuda em outra escola e tem a identidade gay reprimida por pais excessivamente religiosos.
Desenhamos a vida anterior a lápis para que faça contraste com o tecnicolor do momento.
É assim que proclamamos um começo.” (p.83)
– Em uma ida para dançar numa livraria, Paul conheceu Noah. Foi um encontro breve, mas marcante. Para sorte dele, Noah estuda na mesma escola e eles se reencontram em um evento, quando Paul vai atrás dele praticamente coagido pelos amigos. A partir disso, se inicia uma jornada de encontros e desencontros, possível amor à primeira vista que se complica, amizades que se vão ou se fortalecem, reaproximação do ex-namorado que ressurgiu das cinzas em meio às aulas e à organização do baile da escola. É uma comédia romântica adolescente. Uma delícia de ler de ponta a ponta.
– Um dia o seu príncipe vai chegar – garanto.
– E a primeira coisa que eu vou dizer para ele é ‘Por que você demorou tanto?’”. (p.116)
– Não sei o que David Levithan tem, mas a escrita dele me pega na primeira página e só liberta na última, mesmo assim, com um dó de fechar o livro e passar para outra história. Primeiro porque – independente de opção sexual – poderia acontecer com qualquer pessoa. Quem nunca se apaixonou e teve que consertar uma bobagem que quase coloca tudo a perder? Quem nunca sonhou em encontrar aquela pessoa que, seja como for, é perfeita para você?
– é essa a sensação que temos quando Paul e Noah se conhecem. Especialmente porque acompanhamos toda a história pelo ponto de vista de Paul, que é o narrador. Então sabemos o que ele sente, aquela confusão inicial, aquele “susto” causado pela antecipação de algo muito bom pode acontecer, o medo de se decepcionar e magoar novamente.
– Esta aproximação rende cenas lindas, como a primeira vez em que Paul vai à casa de Noah para “pintar música” e como a estratégia de Paul para reconquistar Noah. Rende cenas tristes, como o rompimento dos dois e as confusões que Paul se vê envolvido por tabela nas desavenças entre Joni, o ex-namorado Ted, o futuro-atual Chuck, que também é desafeto de Infinite Darlene. Atire a primeira pedra quem nunca teve uma amiga ou um amigo como Joni que passa a viver em função do namorado e a jogar os amigos para escanteio (e ainda tem
coisa pior envolvendo a cumplicidade entre os pombinhos em detrimento dos amigos, mas leiam para descobrir). E atire a primeira pedra quem conseguiu resistir à tentação de dar pitaco no namoro alheio quando você não vai com a cara da pessoa-que-pode-ser-a-alma-gêmea. Muita coisa para lidar e muita possibilidade de consequências em jogo, né?
Poderia argumentar que nem sempre é fácil saber quem você é e o que quer, porque aí você não tem desculpa para não tentar conseguir o que quer.” (p.175)
– E o David Levithan soube misturar tudo sem exagerar na dose e sem forçar a realidade que (em boa parte) ele criou. Não tem como você não achar que estes personagens não sejam verdadeiros. Aliás, alguns eu gostaria de conhecer. Adoraria aprender a fotografar com Noah e provavelmente teria crises de risos sem fim com Infinite Darlene e não me importaria de estar por perto se Tony precisasse. Usando sabiamente o talento de fazer poesia em forma de prosa (como mencionei em Todo Dia),
– David Levithan cria trechos tão lindos (dei pulos com o capítulo inteiro só de diálogos. Amei da primeira à última linha) que não encontro outra forma para explicar a não ser pedindo a você que imagine o mais belo poema escrito na mais bonita prosa. E o melhor, não é bonito e vazio. Ele fala de e sobre sentimentos da forma mais contundente possível: com uma simplicidade que desarma os céticos, encanta e te coloca apaixonada pela história. A tal ponto de eu saber que não conseguiria dormir se não terminasse o livro. Foi ótimo. Ainda descobri um conto de dia dos namorados que vem no final. Só tornou o livro perfeito. Dormi feliz. Sabendo que este livro estará na minha lista de melhores do ano e não duvido que seja no alto da lista…
Quando um primeiro encontro dá certo, é assim: Você sente a emoção de abrir a primeira página de um livro.
E sabe, instintivamente, que vai ser um livro bem longo
Links: Goodreads livro e autor; site oficial (texto dele para a revista Out); outros livros de David Levithan no Literatura de Mulherzinha.
E se bater a curiosidade, esta é a música que inspirou a criação de Tony, cantada por Patty Griffin (e vocês vão notar nos comentários que várias pessoas chegaram neste vídeo após ler o livro)
Arrivederci!!!

Beta 

 
ps.: E vocês viram certo: este livro foi escrito há 11 anos. Mais de uma década que houve algum progresso na discussão sobre relacionamentos de pessoas do mesmo sexo. Soube de locais onde este livro foi proibido por tocar no assunto. O livro é lindo. E fala sobre amor. Quem não ler, está perdendo a chance de uma história tocante, emotiva e muito bem escrita.

1 Comentário

  1. Sil de Polaris

    Ah, eu fiquei encantada por dois personagens sem ter lido esse livro: Infinite Darlene, com sua personalidade multifacetada de quarterback e rainha de baile, e Joni, pela lembrança que trouxe para mim de uma amiga que abandonou e esqueceu seus amigos por conta de um sujeito que abandonou-a e esqueceu-a depois de enganá-la por muitos anos. Oh, não, homem algum valeria sacrificar uma amizade !

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