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Cap. 993 – Garota Online – Zoe Sugg

Ciao!!!


  

“Até onde um blog anônimo
pode mudar a sua vida?”
Gosto de livros que
conversam com a Beta (neste caso) de 15 anos e agora, na faixa dos 30. Polêmica
à parte (claro que falarei sobre isso), é um livro que a professora de Letras
(que eu quase fui) levaria para a sala de aula para discutir com os alunos
alguns temas comuns nas vidas deles.
Garota
Online – Zoe Sugg – Verus Editora
(Girl Online – 2014 –
Penguin Books)
Personagens: Penny Porter, a
Garota Online, amigos, família e Noah
Penny é uma adolescente
inglesa “de quase 16 anos”, com uma família normal, um melhor amigo estiloso e
que a compreende. Um dia (22 de novembro para ser exata), ela decidiu começar
um blog para desabafar toda aquela confusão de sentimentos da qual, muitas
vezes, não tinha ideia de como lidar. E ao se tornar a “Garota Online”
descobriu que muitas outras pessoas sentiam algo parecido e, agora, não estavam
mais sozinhas. No entanto, tudo vai mudar durante uma viagem à Nova York a
trabalho junto com os pais e conhece Noah. Quando os mundos real e virtual se
encontram, Penny terá que fazer escolhas que vão revelar quem é até para ela
mesma.
Comentários:
– Aos 15 “quase 16 anos”,
Penny tem uma família unida, que a ama. Os pais trabalham com organização de
casamentos e o irmão está na faculdade. Tem o melhor amigo, Elliott, com quem
se comunica através de um código de batidas na parede. E lida com crises de
pânico, resultado de um trauma, sobre as quais ela evita falar e por isso a
assombram. Além disso, a autoestima não está lá essas coisas, o que a torna um
desastre ambulante em momentos de estresse. Ela resolve criar o blog onde
assina com a identidade de “Garota Online”, desabafando sobre suas experiências
e encontrando ajuda e apoio onde não esperava.
– Todo adolescente tem a
sensação de que o mundo está contra ele. Afinal de contas, não importa como
seja, nunca é o que deveria ser: mais alto, mais baixo, mais gordo, mais magro,
mais atlético, mais inteligente, mais popular, mais descolado, mais criativo,
mais “vitrine”, mais referência, mais tudo o que você não é, mas tem certeza de
que deveria ser para ser reconhecido pelos demais por isso. Confuso? Mas aposto
que você (caso já tenha passado da fase) se lembrou de algum perrengue que
passou por achar que tinha que ser alguma ou todas essas coisas que citei
antes. Eu tinha um complexo de patinho feio que convivia com a minha
curiosidade compulsiva por estudar e dei uma sorte danada por ter jogado vôlei,
que me ensinou a trabalhar em equipe e a identificar quais pontos da minha
personalidade poderiam ser usados, domados ou melhorados. A irritante mania de
perfeição – daquele tipo que você nunca está satisfeito com nada – a terapia
anos depois ajudou a transformar em “ok, vamos lidar com isso: é possível?
Então vai. Não é possível? Não se desespere. Há um mundo muito maior que isso”.
– Bom né? Mas aos 15 anos (e
em alguns momentos, inclusive, atualmente) eu não tinha essa visão toda. Também
achava que tinha todo o drama e tragédia shakespeareano me rondando e que não
podia contar com ninguém da família, mas tinha o apoio dos meus poucos amigos
(apesar de uma sensação estranha de buscar um lugar de pertencimento e não
encontrar). Sim, escorpianos no modo dramático são assim. No entanto, 99% das
pessoas passam por algo semelhante.
– O que o livro faz é
lembrar que não estamos sozinhos na alegria, na tristeza, na saúde e na doença.
Ainda bem que Penny possui uma família saudável e pais que estão ali, mesmo que
a filha queira poupá-los por amor ou vergonha de revelar que se sente um
desastre ambulante. Há Tom, o irmão que está em outra etapa da vida, mas a ama
e demonstra isso. Com esta base, a história passa por temas como
autodescobrimento, bullying,
descoberta do amor, dos verdadeiros amigos, da necessidade de ser reconhecido
como um igual, respeitado e admirado pelos pares – porque a gente se enxerga
melhor pelos olhos dos outros. Quando o reflexo ali não é bom, a gente afunda.
Quando a imagem é melhor que o que pensamos, percebemos que temos brilho único.
E na história de Penny há um detalhe que não houve na minha vida real: meus
diários foram escritos à mão em cadernos com e sem cadeados. Não foram para um
blog – apesar de que o Literatura de Mulherzinha em alguns casos funciona como
sessão de terapia e exorcismo pessoal – e muito menos para as redes sociais
(sério, agradeçam por isso. Podem acreditar. Era uma caso clássico de “Ninguém
merece”).
– A aceitação que Penny
sente falta na vida real, encontra no mundo virtual, escondida atrás da anônima
“Garota Online” que fala sobre seus medos, traumas, inseguranças, trapalhadas,
vergonha. E ao tratar de temas tão próximos de qualquer um, cria uma relação
onde ela conforta as pessoas sem saber e é confortada de volta. O combo
internet/redes sociais permite que você esteja próximo de quem não conhece e,
ao mesmo tempo, seja julgado por isso. Sim, na vida real, isso também acontece.
Há momentos que não sabemos nem quem somos de verdade, imagina o outro. Quanta
gente não leva anos para descobrir que “as coisas não eram bem assim” e se
surpreender (para bem e para mal) com algumas pessoas quando menos se espera. É
uma relação de duas caras que Penny terá que enfrentar. Porque o conforto e o
apoio estão onde ela poderia não estar contando.
– Por isso, Noah é
importante. Ao conhecê-lo durante a viagem a trabalho dos pais à Nova York, em
um momento não muito legal. Longe da pressão, distante de quem a conhecia, em
um lugar que, por favor, todo mundo tem uma imagem mental da Big Apple,
cortesia de todos os filmes e seriados a que assistimos na vida, Penny se
solta. Ao encontrar este jovem desconhecido, estilo Johnny Depp, que parecia
entendê-la de forma inacreditável, Penny começa a se sentir confortável em ser
quem realmente é. Porque passou a se ver através da forma como Noah a enxergava
e a fazia sentir. E isso era bom. Mesmo em seus piores momentos. Representa a
descoberta de que o mundo é muito maior que ela achava.
– É fofinho, é agradável, é
gostoso de ler. É o livro que conversa com os adolescentes em descobertas. E
que remete às boas e más lembranças de passar por esta fase onde estamos
iniciando a construção de nós mesmos. Por isso que eu falei que se fosse a
professora de Letras que poderia ter sido levaria para a sala de aula. Ainda
cita Beatles e Let it go. Curti!

– Ah, claro, houve uma
polêmica envolvendo o livro: de que a autora teve a ajuda de uma
“escritora-fantasma”, Siobhan Curran (leia sobre isso aqui;
aqui; aqui,
aqui e aqui).
Não faltaram críticas para o fato de ela – uma vlogger famosa na Inglaterra – e
da editora só assumirem depois que vazou a informação, afirmando que sim teve
ajuda no livro de estreia, mas que a história e os personagens são de Zoe. Óbvio
que teria sido muito mais bacana (ou digno) que ela tivesse admitido desde o
início, além das três linhas de agradecimento. E agradeço ao talento da ghost
writer em contar esta história. Até comentei com amigas que gostaria que um profissional
do gênero tivesse atuado em outros livros. Eu teria sofrido menos…
Bacci!!!

Beta

2 Comentários

  1. Sil de Polaris

    Ah, eu curtiria bastante esse livro se ele tivesse existido em minha adolescência, quando ou eu chorava muito, ou eu esbravejava muito, ou eu ficava muito quieta encorujada em um canto, lendo ou pensando, de casa pra escola e de escola pra casa. Uma adolescente sossegada extremamente, a não ser quando meus hormônios entravam em ação de transformação. Foi mais espinhoso que prazeroso para mim.

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