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Cap. 1007 – Razão e Sentimento – Jane Austen

Ciao!!!

Depois de muitos séculos, finalmente consegui ler
meu segundo livro da Jane Austen (sim, muita falta de vergonha na cara,
assumo). Em minha defesa, devo dizer – e vocês vão concordar comigo – que tem
coisa que você não apressa; aproveita quando surge o tempo certo para ler e
desfrutar.

Tanto que já o tinha em mente quando pensei na
votação históricos para o #LdM10anos. Imaginei que daria uma disputa intensa
com a Judith McNaughty e, talvez, com a Patricia Cabot correndo por fora.
E correu assim no início. Depois, vocês viram quem levou
a melhor.
Só para constar, obrigada, Luiza, pelo presente de
amigo oculto! Demorou um pouco mais que previa, mas chegou ao Literatura de
Mulherzinha.
Razão
e Sentimento – Jane Austen
– Saraiva
de Bolso
(Sense and sensibility – 2011)
Personagens: Elinor e Marianne Dashwood
As mulheres do segundo casamento do sr. Dashwood tiveram
muitas mudanças quando ele morreu. O herdeiro, filho do primeiro casamento,
tomou posse do que lhe era de direito e elas se mudaram para um chalé em Barton
Park. Novo estilo de vida, novos conhecidos e possíveis amores. Tudo é narrado
sob a ótica de duas das três irmãs Dashwood, Elinor, a sensata e racional, e a
passional e sentimental Marianne. Uma narrativa do cotidiano da sociedade do
interior da Inglaterra no século 18, mostrando as diferentes formas das pessoas
se relacionarem, seja pelo afeto, pela aparência ou pela suposição (certa ou
não) de riqueza delas.
Comentários:
– O que eu mais amo nos livros da Jane Austen (ok,
li Razão e Sentimento e Orgulho e Preconceito):
a narrativa crítica dos personagens. Ela não perdoa ninguém, nem os
protagonistas, aponta suas virtudes e seus defeitos. Isso os torna próximos de gente
real, com as quais quem lê pode se identificar ou reconhecer outras pessoas. Afinal
de contas, muito difícil encontrar aquelas almas boas e idealizadas beirando a
perfeição que existem em outras histórias. Outra coisa que amo: a narrativa aparentemente
lenta. Parece que nada está acontecendo. E de repente, tudo explode com uma
intensidade que você se dá conta de tudo que foi construído até então para
chegar àquele momento. A terceira coisa que amo: todo livro tem sempre um homem
pelo qual a gente se apaixona. Mas isso éassunto para daqui a pouco.
– Quando a história começa, somos informados da
mudança de vida para as mulheres Dashwood. Elinor, 19 anos, Marianne, 16, e a
caçula, Margaret, 13, moravam com a mãe em Sussex, em Norland Park, casa do tio
do sr. Dashwood. No primeiro casamento, ele teve um filho, que herdaria tudo e
a quem incumbiu de prover as irmãs por parte de pai e a madrasta na falta dele.
E quando isso ocorreu, não foi da forma como o pai poderia imaginar. Influenciado
pela esposa (uma egoísta, vaidosa, fútil e arrogante. Mas vou parar por aqui,
para deixar que vocês tenham opções de adjetivos para ela quando forem ler), Fanny,
ofereceu a ela o mínimo possível – e levante as mãos para o céu e agradeça! Reduzidas
à condição de visitas “com prazo de validade” na casa onde moravam e tinham tão
boas lembranças, entre as circunstâncias que impediram a mudança imediata
estava a crescente aproximação de Edward Ferrars, irmão da mala Fanny, e
Elinor.
– No entanto, a permanência em Sussex se torna
insustentável e elas se mudam para Devonshire. Elinor compreende, Marianne
sofre e a mãe e a irmã estão dispostas a enfrentar o desafio. A partir do
momento em que começam a travar relações com os moradores da região, a
disposição de Marianne muda ao conhecer o encantador e charmoso sr. Willoughby.
Ele reunia, com louvoures, todas as qualidades que ela esperava e idealizava em
um homem. E seus sentimentos eram correspondidos e incentivados pelo jovem. Começou
a ser dado como certo pelo grupo de conhecidos de que um compromisso seria
assumido por ambos em breve. O que deixou o coronel Brandon com o coração
partido. Afinal de contas, apesar da diferença de idade (Marianne
ostensivamente o considerou “velho demais”, só porque ele cometeu o crime de
ter mais de 30 anos), ele se encantou à primeira vista por ela.
– Por convite de uma conhecida, a sra. Jennings, as irmãs
Dashwood mais velhas vão passar uma temporada em Londres. Elas conhecem mais
pessoas, inclusive as encantadoras, charmosas e bajuladoras irmãs Steele (Lucy
é uma vaca, que me perdoem as bovinas. É que não posso manifestar aqui o que
pensei diante da total inadequação das palavras que representariam com
perfeição a minha repulsa por ela). E através destes novos contatos, aquilo que
Elinor e Marianne (secretamente ou não) imaginavam como certo em suas vidas se
revelou incerto ou inexistente. Cada uma reage à sua maneira, desde o
sofrimento sem fim de Marianne à resignação quase santificada de Elinor. Se todos
percebem o que houve com uma, nem imaginam o tamanho da dor da outra. É através
deste contraponto que Jane Austen nos propõe pensar sobre como reagimos ao que
a vida nos apresenta. Particularmente, apesar de entender Marianne, me sinto
mais próxima de Elinor, mesmo não concordando com a enorme capacidade de
abnegação dela em lidar com a maldade que lhe é feita por uma garota muito
vaidosa, egocêntrica e cretina (a educação de Elinor é digna de aplauso. Sério.
Eu não teria 0,0000000000001 da paciência que ela teve – e pode incluir neste
balaio a infindável capacidade de lidar com a irmã, que vivia numa bolha onde
só importava ela e o amado, mais ninguém). Ao longo da jornada, vamos ver o resultado
do sofrimento e da decepção: o quanto de amadurecimento pode trazer à Marianne
e o quanto Elinor pode ver suas esperanças, mesmo as mais impossíveis, correspondidas.
– Sobre os homens que importam no livro. Houve um
breve momento do livro em que fiquei com raiva de Edward, até entender que
estava sendo injusta com uma pessoa que estava incapacitada de ser dono do
próprio destino. Talvez ele pudesse ter lutado contra isso antes. No entanto,
considerando o temperamento afável e excessivamente tímido que ele demonstrou,
é compreensível perceber o quanto ele tentou articular conflitos que se
tornaram insustentáveis. E o coronel Brandon. Por favor, onde tem um para eu
casar? Lá no início quando li a parte onde ele foi “desconsiderado” por Marianne,
deu vontade de entrar no livro ao estilo Mortal Kombat e acabar com ela. Mas a própria
vida se encarregou de podar com gosto a prepotência adolescente dela. Afinal de
contas, seja na vida real ou na ficção, está difícil achar homens como ele,
confiáveis, comprometidos, maduros, que cuidam e respeitam. É um daqueles
personagens pelo qual você se apaixona no “olá” e quer que seja feliz a todo
custo no final. E me perdoem por não falar de Willoughby, porque acho melhor
que vocês tirem suas conclusões sobre ele. As minhas não foram legais. E é só o
que vou dizer.
– E junto com isso, temos um relato da sociedade. Como
é possível encontrar de gente mesquinha, que valoriza status e aparência, e
ainda as relações estabelecidas pelo interesse de um em subir socialmente e do
outro em ser bajulado. E ainda como boas pessoas podem criar confusão ao passar
adiante informações que pressupõem ser verdadeiras e completas. Também como as más
pessoas podem aparecer disfarçadas de “fofas” e causar estragos variados, desde
as pretensas “rivais” até aqueles a quem bajulava. Como pessoas vaidosas se
divertem alimentando afetos apenas para brincar com sentimentos alheios. De
como há pessoas que acham com direito a pressionar outras a serem como elas
querem, não como poderiam ser realmente felizes. De como, ao nos basearmos em
convicções pessoais intensas e pouco abertas às outras opiniões, atraímos e
causamos sofrimento. Do quanto, por achar que suportamos tudo, temos nossos
sentimentos ignorados, inclusive por nós mesmos. E se você está achando que
isso só ocorria na Inglaterra do século 18, para um minuto e pense em situações
onde tudo que descrevi caberia na sua vida. Eis porque muitas pessoas amam e
vão continuar amando Jane Austen séculos depois: ela escreveu sobre gente não
importa o ano. Uma obra atemporal que conversa, emociona e cativa o público. Algo
que muitos tentam, mas poucos são habilidosos para conseguir.
PS1.: Você, como eu, deve ter ouvido falar do título
deste livro como “Razão e Sensibilidade”. Acredito que foi uma decisão do
tradutor da versão que ganhei, Ivo Barroso.
PS2.: Você já deve ter ouvido falar – ou visto – o filme inspirado no livro.
Estrelado pela (diva, amada, maravilhosa) Emma Thompson, como Elinor; Kate Winslet,
como Marianne; Hugh Grant como Edward e Alan Rickman como o Coronel Brandon.
Pois é, eu ouvi falar no filme, mas ainda não o vi. Não sei por quê. Mas, agora
que li o livro, pretendo corrigir o quanto antes. E para as que amam, também há
(ÓBVIO) a minissérie da BBC.

E para que você não pense que sou uma alienada
total, recomendo “O clube de leitura de Jane Austen”,
onde um grupo se reúne para ler todos os livros da autora e conversar sobre
eles em encontros mensais. Eles destacam as relações dos textos com as próprias
vidas, com a atualidade e como se relacionam uns com os outros. Gostei muito.
#ficaadica
Bacci!!!

Beta

3 Comentários

  1. Sil de Polaris

    "Razão e Sentimento" foi meu terceiro romance preferido escrito por Jane Austen. Meus personagens preferidos são Coronel Brandon e Elinor Dashwood, que são maravilhosos em si mesmos, principalmente sendo interpretados por Alan Rickman e Emma Thompson. Um romance lindíssimo, com personagens riquíssimos (alguns você quer matar !). Eu incentivo você a ver esse filme primoroso ! Sem mais ! ^_^

  2. Ly Cintra

    Que resenha deliciosa Beta, tenho Razão e Sensibilidade há pelo menos 5 anos e ainda não li. Agora, por meio dos seus olhos, fiquei com vontade de retirá-lo da estante novamente.

  3. renanthesecond2

    Beta, gosto muito desse livro, mas no que se refere às adaptações prefiro David Morrissey como o coronel Brandon. E o que acho mais chocante é perceber que, em alguns fóruns na Internet, ainda têm fãs do livro que preferem Willoughby, mesmo com tudo o que ele fez. Só queria saber se elas gostariam de se casar com ele.

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