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Eu sei por que o pássaro canta na gaiola – Maya Angelou – Cap. 1567

Ciao!

 
 
 
 

Atualmente, vemos muitos discursos e demonstrações de falta de empatia. Sempre foi – e parece ainda mais – difícil se colocar no lugar do outro.

Este livro é uma narrativa – não muito confortável – sobre como ser parte de uma raça e um grupo social colocado à margem da história.

Eu sei por que o pássaro canta na gaiola – Maya Angelou – Astral Cultural
(Iknow why the caged bird sings – 2018)
Personagens: Marguerite Ann Johnson

Maya Angelou conta as histórias da infância e adolescência, quando era uma criança de uma família desfeita, criada por uma avó religiosa no interior de Arkansas. Ela viveu ao lado do irmão, o que parecia ser uma vida comum para quem cresceu em um Estados Unidos oficialmente racista. 

É um relato que choca e nos faz pensar. Não estive na pele dela. Por mais histórias que cinema, contos, reportagens me mostraram, ainda fico estarrecida em pensar como não faltam exemplos do ser humano sendo qualquer coisa menos humano.

“Era horrível ser Negra e não ter controle sobre a minha vida. Era brutal ser jovem e já estar treinada para ficar sentada em silêncio ouvindo as acusações contra a minha cor sem chance de defesa.
Nós todos devíamos estar mortos”. 

São histórias de pessoas que foram julgadas pela cor da pele. Não importava o potencial, as virtudes, nada além do fato de que nasceram negros. Eles aprenderam a sobreviver neste mundo que os limitava, restringia e diminuía.

E no caso de Maya, ainda houve o abuso sexual. Nem vou entrar em detalhes. Mas uma outra frase dela, relatando um episódio anos depois, me marcou. 

“(…) mas as garotas tem que rir, afinal, e depois de ter me tornado mulher três anos antes, eu estava prestes a me tornar uma garota”.


Tem 
noção do peso disso? Dói saber que ela não teve escolha. Por isso que o relato dela ressoa em outras leitoras – aquelas que só imaginam (provavelmente sem chegar nem na sombra do que foi de verdade) e aquelas que passaram por situação semelhante (o prefácio é escrito por Oprah Winfrey – e se você não sabe nada sobre a vida da Oprah, pesquise).

A educação trouxe a ela incentivo para se relacionar com os livros – os livros traziam a imaginação, o conhecimento, algo além da fronteira imposta pela sociedade.

Mas até isso tem seu peso – entender as entrelinhas do discurso do “elemento estrangeiro” ao universo da comunidade dela – e que achava que estava sendo o máximo.

“Os alunos brancos teriam a chance de se tornar Galileus e Madames Curie e Edisons e Gauguin, e nossos garotos (as meninas nem estavam na conta) tentariam ser Jesses Owens e Joes Louis. 

Owens e o Bombardeiro Marrom eram grandes heróis no nosso mundo, mas que representante de escola do mundo branco de Little Rock tinha o direito de decidir que esses dois homens deveriam ser os nossos únicos heróis? Quem decidiu que, para Henry Reed se tornar cientista, ele tinha que trabalhar como George Washington Carver, como engraxate, para comprar uma porcaria de microscópio? Bailey seria pequeno demais para ser atleta. E que anjo de concreto branco grudado em qual cadeira decidiu que, se meu irmão quisesse ser advogado, ele teria que primeiro pagar uma pena pela cor de sua pele colhendo algodão e capinando campos de milho e estudando por correspondência à noite por vinte anos?

As palavras mortas do homem caíram como tijolos por todo o auditório, e muitas se acomodaram na minha barriga. Restringida pelos bons modos que aprendi a tanto custo, não pude olhar para trás, mas à minha esquerda e à minha direita, a orgulhosa turma de formandos de 1940 tinha baixado a cabeça”.

Ler Eu sei por que o pássaro canta na gaiola é uma experiência que aconselho a todos que queiram enxergar além do próprio jardim. Maya encarou as lembranças e a transformou em uma história que toca, pelas suas dores, imperfeições, sonhos, desilusões, desesperanças, humilhações, erros, acertos e fé de que algo poderia mudar.

No Dia Internacional da Mulher, ainda é necessário lembrar diariamente o quanto precisamos mudar para que não existam mais grades e as pessoas sejam humanas e tenham chances de se tornarem as melhores versões de si mesmas.

– Links: Goodreads livro e autorasite da autora; Skoob; matéria no El País e na Revista Galileumais dela no Literatura de Mulherzinha.


Arrivederci!!!


Beta

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