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Cap. 1035 – Beleza Perdida – Amy Harmon

Ciao!!!

Como escorpiana sou naturalmente desconfiada. Então quando
vejo algo em excesso fico me perguntando: “será que é tudo isso mesmo?” Aí o
famoso ascendente geminiano desafia: “vamos ver se é?”. Em alguns casos, os
elogios não se justificaram na minha análise. Em outras, eles são até poucos.
Este livro merece cada uma das boas coisas que você
provavelmente vai ouvir sobre ele.
Beleza
Perdida – Amy Harmon
– Verus
(Making faces – 2013)
Personagens: Ambrose Young e Fern Taylor
Os jovens de Hannah Lake eram como vários outros pelos
Estados Unidos, com suas esperanças, desejos, vaidades, aquilo que os tornava
especiais ou apagados dentro do grupo. Os atletas da luta livre eram a
esperança de destaque da escola no campeonato. Mas o mundo, e os sonhos, pareceram
perder o sentido após o 11 de setembro, que eles viram, chocados, pela
televisão. Em meio à incerteza, destinos são traçados, decisões são tomadas e
as consequências são irreparáveis. Uma história sobre amor, sobre amizade,
sobre família, sobre lealdade, sobre persistência, sobre perdas, sobre
recomeços, sobre beleza, sobre ter ou não fé em si mesmo e em alguma força
superior. Sobre vida e sobre morte.
Comentários:
– É um livro de uma beleza incrível. Ele consegue
tratar de temas pesados e tristes, mas o faz de uma forma tão singela e
simples, sem ser simplório, que a leitura flui e você fica com pena de ser
interrompido e contando os minutos para retomar (sim, foi o que aconteceu
comigo). Ele pega os estereótipos que a gente sempre associa aos “high schools”
e os humaniza. O atleta imbatível duvida de si mesmo. Os amigos estão juntos em
todas as aventuras, mesmo quando nem todos querem ir. O futuro se revela
assustador pela indefinição se eles vão conseguir. A menina bonita precisa da afirmação
constante da beleza através dos admiradores. Há casos em que a beleza não se
sustenta sem conteúdo ou além do que a própria pessoa vê no espelho quando ela
deixa de existir. A jovem que está sempre à margem gostaria de ser enxergada
pelos demais. O menino deficiente físico se revela a alma do time.
– É desta forma que a autora nos apresenta Fern, a
jovem ruiva romântica, amável e inteligente que quase ninguém nota, que se
sente feia porque ouviu uma pessoa que amava dizendo que ela não era bonita
como a amiga Rita, o grande amor do primo de Fern, Bailey, que sofre de
síndrome de Duchenne e sabe que o tempo para ele corre diferente dos demais. Se
o corpo deixasse, Bailey seria um lutador, porque o pai é o técnico da equipe
de luta livre da escola, onde estão, entre outros, o bondoso Paulie, o correto
e disciplinado Grant, o brincalhão (às vezes, sem limite) Beans e o determinado
Jesse que no fundo sonhava em ser melhor que Ambrose. Ambrose, com seus cabelos
compridos, beleza de modelo de comercial de cuecas, força, altura e
elasticidade descomunais para quem pratica a modalidade, era o “Hércules”, o cara
da escola. Ele era quem os rapazes invejavam ou queriam ser e com quem as
garotas queriam estar. Inclusive Rita, que começou a se corresponder mandando bilhetes
para ele, que não sabia, mas eram escritos por Fern.
Ele nos
esculpe para Seu prazer, por uma razão que não posso ver?
Se Deus faz
todos os rostos, Ele riu quando me fez?
– O mundo vai muito além das aparências, mas nem
sempre temos a sensibilidade ou a maturidade para perceber isso. É necessária
uma tragédia nacional, que desencadeia uma dor local, para tudo mudar. Com o 11
de setembro e a confusão sobre o próprio futuro (e o peso que pairava de ser
imbatível), Ambrose decide se alistar no Exército para ir lutar no exterior. E os
amigos vão juntos. Como o resumo da contracapa antecipa, apenas Ambrose,
ferido, desfigurado, volta.
– A autora não corre com a trama. Ela nos apresenta
os personagens, nos mostra os laços entre eles para estabelecer a importância e
o impacto da morte de quatro jovens em uma guerra tão longe de casa. E da culpa
que consome o único sobrevivente, cujas cicatrizes físicas não são nem sombra
do estrago emocional. A autora reflete sobre perda, sobre a morte, sobre coragem,
sobre como algumas coisas, por mais que a gente queira, não encontra nem
resposta e, talvez, nem consolo. E a partir do momento que as coisas deixam de
ser como sempre foram, mudam também os critérios de análise. O que é beleza? O que
é saúde? O que é felicidade? O que é vida? O que é morte? Será que algum dia a
dor vai passar, vai se transformar em algo suportável ou motivador ao invés
desta força sufocante? Como é deixar de ser o belo e se tornar o monstro? Como é
perceber que a jovem que pouco notou agora era a única que tinha coragem de
insistir em tentar falar com ele, após um reencontro acidental? Mas será que
era amor ou era pena, já que ela estava acostumada a cuidar e proteger?
Não acho que
obtemos respostas para todas as perguntas nem chegamos a conhecer todos os
porquês. Mas acredito que vamos olhar para trás no fim da vida, se fizermos o
nosso melhor, e vamos ver que as coisas que imploramos a Deus qe tirasse de
nós, as coisas pelas quais O amaldiçoamos, as coisas que nos fizeramvirar as
costas para Ele ou para quaquer crença Nele, foram as maiores bênçãos, as
maiores oportunidades de crescimento
– Eu me vi em Fern em vários momentos. Desde a
síndrome de patinho feio até ao fato de ela ser leitora ávida de romances de
banca desde os 13 anos e de isso ser tratado como apenas mais um fato a
respeito dela (aliás, estou esperando um comentário sobre isso vindo da Rosana kkk), assim como gostar de escrever histórias que sempre refletem algo
que ela está vivendo. De ela mesmo ouvindo que se tornou bonita não consegue
acreditar porque a frase ouvida sem querer tantos anos antes condicionou a
visão que ela construiu dela mesma, não importa que os cabelos cresceram, o
aparelho foi tirado e o corpo se desenvolveu. Também me vi em Ambrose, que sentiu
medo diante da enorme expectativa que todos tinham dele. E depois sentiu
dúvidas, medos, remorsos e culpa diante do que se tornou e por ter sobrevivido.
Como recuperar os laços e reconstruí-los a partir disso, como encontrar um
sentido quando ele parece não existir mais. E me vi em Bailey, o garoto que
celebrava cada dia e cada ano que superava as expectativas ditadas pela evolução
da doença. Eu me vi nas dores que eles experimentaram, ainda mais por ter
passado recentemente por uma perda doída, em que este livro ajudou a tocar (porque
escorpianas teimosas deixam a dor de lado até estarem prontas para lidar com
ela. Às vezes por bem, às vezes por mal e, em muitas vezes, contra a vontade)
“A vitória
está na batalha”
– Como disse no início, desconfiei diante de tantos
elogios. Mas eles são merecidos. A autora soube tratar do tema de uma forma
capaz de capturar a atenção. Claro que não pode agradar a todos. Já tive outros
com propostas parecidas que me estressaram ou angustiaram. Posso ter gostado deste talvez pela autora ter acertado nas doses de
irreverência e alegria em meio à dor e tristeza. Talvez porque era uma história
que eu precisava, neste momento. No fundo apenas conjecturas, porque não existe
resposta certa. Mesmo assim agradeço pela paz que me trouxe, em sua
sensibilidade, dor e simplicidade. E provavelmente, voltarei a vê-lo na lista dos melhores do ano em dezembro.
Links: Goodreads autor e livro; site do autor.
Arrivederci!!!!
Beta

1 Comentário

  1. Sil de Polaris

    Peninha tantos terem morrido nesse atentado e nessa guerra, mas sua autora soube criar um revisitar interessante de bela e de fera (embora eu esteja para encontrar uma versão dessa história tão linda quanto seu original). Ela criou versões muito agradáveis e muito interessantes e muito simpáticas de sua bela e de sua fera. Eu fiquei muito bem cativada pelo seu herói ferido, com cicatrizes de corpo e de espírito, mas humano !!!

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