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Cap. 1512 – Diário de uma garota normal – Phoebe Gloeckner

Ciao!


Este
livro – que inspirou um filme – pode causar reações desconfortáveis em quem lê.
Foi o
meu caso e vou dizer o motivo.
Diário de uma garota normal – Phoebe Gloeckner – Faro Editorial
(The
diary of a teenage girl: an account in word and pictures – 2002)
Personagens: Minnie Goetze
O
diário narra uma parte da vida de Minnie, adolescente de 15 anos, a partir da
primavera de 1976 em São Francisco. Ela descobre a sexualidade, entra em
conflito consigo mesma, analisa seus relacionamentos com a mãe, a irmã, os
amigos e vai narrando a forma como enxerga o mundo. Ela demonstra o que se
sente com palavras e com desenhos. E assim nos leva para um passeio pelo que
sentiu e viveu.
Comentários:
– É um
livro desconfortável porque saiu da “casinha” da maioria das minhas leituras. Li
outros com temas pesados e tive reação semelhante: o estranhamento causado por
algo que não me identifico logo de cara. E a vida de Minnie é totalmente
díspare da experiência que tive seja adolescente ou agora.
– Por
fora, a gente imagina que Minnie seja uma garota normal – ou como ela mesma
diz, sem atrativos e sem beleza alguma. Mora com a mãe e com a irmã. Estuda como
bolsista em um colégio. Ela começa a narrar suas experiências como filha,
aluna, irmã… E a relação que desenvolve com um dos namorados da mãe, Monroe.
– A
narrativa que não romantiza e não perdoa nada desperta em quem lê uma vontade
irracional de julgar as atitudes dos personagens. Confesso que me vi diante
deste dilema várias vezes, que também ocorreu com #MadreHooligan, que leu antes
de mim. Ela me disse que não era um livro fácil, que os personagens pareciam
perdidos e tomavam atitudes que não deviam.
– Eu me
vi pensando que não conseguia julgar Minnie, porque, como disse, não tive que tomar
as decisões que ela tomou, seja por curiosidade, carência, busca de
autoafirmação, necessidade de se sentir viva e um ser humano. Não estivemos na
pele da personagem e temos que confiar nas palavras dela e entender como ela se
deixou abusar pelos outros e por si mesma na jornada narrada no diário. E você
estará dentro da mente dela seja nas palavras ou nos quadrinhos: ela fala tudo
com todas as letras. Em alguns momentos, quem lê percebe as entrelinhas antes
dela.
– No
entanto, considero que os adultos – dois deles, especialmente – deveriam ter agido
diferente – o comportamento omisso, permissivo, desinteressado causou
sofrimento para outras pessoas e para eles mesmos. Afinal de contas, ninguém
aqui vai conseguir ter ou recuperar o que não tem – a juventude, dinheiro,
beleza não virão pela autopiedade, pelas noites de álcool e drogas com os
amigos, pelos relacionamentos confusos e descompromissados. Vou optar em não
dar detalhes, para não influenciar na experiência de quem ainda vai ler. Só posso
dizer, não será fácil, nem idealizado, nem romântico.
– Livros
assim “desconfortáveis” ajudam a enxergar o mundo além do meu nariz ou da forma
como gostaria que ele fosse – e muitos outros me satisfazem nesse aspecto.
Livros assim lembram que todos carregam a própria cruz e que ela pode ficar
mais leve ou mais pesada pela forma como a gente a enfrenta. Minnie termina o
livro bem diferente da que inicia a jornada dizendo “Eu não me lembro de ter
nascido”. E quem lê se despede da história pensando que nós nunca sabemos o que
se esconde por trás do rótulo “normal” que damos aos outros. Às vezes, “normal”
passa longe.
Arrivederci!!!
Beta

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