Ciao!
Disponível na Amazon
Ah, meu Deus, até que enfim: um livro com tudo que eu gosto, na medida certa, delicioso de ler.
Deu até pena quando terminei.
Uma farsa de amor na Espanha – Elena Armas – Arqueiro
(The Spanish Love Deception – 2021)
Personagens: Catalina Martín Fernández e Aaron Blackford
Lina tinha uma emergência: precisava de um namorado para voltar à Espanha para o casamento da irmã, para se sentir bem em encarar o ex, que era irmão do noivo. O problema era que não tinha namorado. Até que surgiu a mais inusitada e inesperada das soluções: Aaron Blackford se ofereceu para ajudá-la. Seria perfeito, se não houvesse uma antipatia imensa entre eles. Como quem não tem cão caça com gato, para evitar uma encrenca, Lina seria capaz de aceitar a ajuda do desafeto?
“As coisas não prescrevem só porque o tempo passa, sabe.”
É até difícil falar sobre o livro, porque gostaria que vocês tivessem uma experiência semelhante à minha. Parti de uma expectativa construída em anos de leituras de romances onde desafetos são obrigados a se ajudar por causa de um evento “força maior” – ou seja, provar algo para a família e, por tabela, para si mesmo,
Lina morava e trabalhava em Nova York, em uma empresa que fornecia serviços de engenharia. Um mercado especialmente traiçoeiro com as mulheres, já que é dominado por homens. Alguns deles, com uma visão bem misógina sobre o papel das garotas na área.
Há um ano e oito meses ela lidava diariamente com o desafeto, Aaron. Quando ele chegou à empresa, ela tentou ser amigável, como era com todos da equipe e os companheiros de trabalho, mas descobriu da pior forma que ele não se interessava por isso. Desde então, preferiu mantê-lo à distância – na mesma proporção que Aaron ficou por perto, sempre fazendo algum comentário que testava a paciência e a educação dela.
Pois bem, foi essa criatura que se ofereceu para ajudá-la a sair de uma situação desesperadora: ir ao casamento da irmã com o irmão do ex dela, que a dispensara e estava noivo. E mostrar a ele e à própria família que tudo estava bem, que ela tinha seguido em frente e estava ótima.
Lina não entendeu por que Aaron se ofereceu para isso, já que ela nem pediu a ajuda dele especificamente. Em condições normais de temperatura e pressão, ele seria perfeito. Só que os dois não se bicavam, como conseguiriam fingir durante três dias para a família observadora, curiosa, invasiva dela?
“Você nunca precisou que alguém lutasse as suas batalhas, Catalina. É uma das coisas que mais respeito em você”
Ah, sim, você já viu essa história em diferentes outros lugares – livros, filmes, séries. Algumas referências inclusive são citadas no livro. O que torna Uma farsa de amor na Espanha tão legal? Na minha opinião, o jeito da autora contar a história cativa quem lê. A gente encontra o ponto de partida, mas não significa que consegue adivinhar como tudo vai acontecer – mesmo que a gente intua algumas coisas.
Os protagonistas não são planos. Possuem camadas e objetivos além da superfície. A autora vai nos entregando detalhes aqui e ali, permitindo que a gente se torne cúmplice dela assistindo ao desenrolar da trama de camarote, rindo, sofrendo e vibrando com as ações, reações e atitudes dos personagens.
“(…), para mim, sempre foi mais difícil encontrar meu lugar. De alguma forma, sempre me faltava ou sobrava algum detalhezinho, o que me obrigava a continuar procurando um espaço no qual eu pudesse me encaixar melhor. Sendo assim, passei a vida em busca de um lugar para chamar de lar”
Gostei que não é sofrido, embora tenha momentos de sofrimento dos personagens. Gostei que a Lina age como uma pessoa da própria idade, com dúvidas e angústias pertinentes. Gostei que ela é uma pessoa incrível, com dores, qualidades, defeitos e uma personalidade cativante. A gente torce por ela.
Eu me vi querendo que tudo funcionasse para ela perceber que não tinha por que ficar presa ao que houve no passado. Também me vi esbravejando com uma criatura muito cretina que faz questão de perturbá-la e pensei que não teria paciência nenhuma com alguns parentes dela.
“Como se o coração estivesse bombeando loucura pura pelo meu corpo”
Também curti que Aaron não é perfeito aos olhos de Lina – o que também conduz a nossa visão sobre ele –
e como ele vai ficando cada vez melhor sendo imperfeito para ela. Gostei como a gente enxerga detalhes que Lina não percebe, já que tinha a opinião comprometida sobre o caráter e o comportamento de Aaron em relação a ela.
Adorei que Aaron vai além da superfície do cara bonito, mal-humorado que se “diverte” em espezinhar a protagonista. E a gente se pergunta o que será que ele tem em mente para se oferecer para ajudar Lina? Porque ele não está fazendo isso de graça, né? Deve ter algum propósito. Mas será que tem?
Os dois desafetos se tornam uma boa equipe e rende episódios deliciosos de ler, como no leilão, na Copa do Casamento, entre outros. Eles têm química juntos. E a narração é daquelas que a gente lê e consegue ver a cena. Vai virar filme – a autora contou em entrevista durante a passagem pela Bienal de SP. Espero que tenham cuidado na adaptação, porque o que mais teve atualmente é licença literária no audiovisual que não tem nada a ver com a história original (sim, não engoli até hoje a decisão da Netflix de colocar Roma no lugar de Florença como cenário de Amor & Gelato – tanto que não vi o filme).
Voltando ao que interessa: Elena Armas não poderia ter estreado melhor. Leia Uma farsa de amor na Espanha. Vou torcer para que a sua experiência seja tão emocionante, cativante e vibrante como a minha foi.
– Links: site da autora; Skoob; mais dela no Literatura de Mulherzinha.
Arrivederci!!!
Betaps.: O próximo livro da autora tem uma ligação com a trama de Uma farsa de amor na Espanha – The American Roommate Experiment. Claro que quero ler, tá, Editora Arqueiro!