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Orgulho e Preconceito – Jane Austen – Cap. 1895

Ciao!

Disponível na Amazon

Esta é uma releitura. Há um bom tempo estava com este desejo e a nova edição deste clássico, lançada pela Faro Editorial, só me deu a desculpa de que eu precisava.

Afinal de contas, eu conheci este livro antes mesmo de conseguir ler ele!

Orgulho e Preconceito – Jane Austen – Faro Editorial
(2023)
Personagens: Elizabeth “Lizzie” Bennet e Fitzwilliam Darcy

Um grande momento na comunidade em Meryton: Netherfield Park foi alugada e se dizia que o novo proprietário era jovem, bonito e de fortuna. Tudo que a sra. Bennet, mãe de cinco garotas, queria ouvir. Era uma oportunidade para conseguir um marido para uma ou mais delas. E foi assim que começou uma história sobre péssimas primeiras impressões, julgamentos equivocados, um pedido de casamento sofrível e, mesmo assim, o amor ainda encontrou um caminho.

O livro que inspirou tantas obras

É simples: eu conheci Orgulho e Preconceito antes mesmo de ler o livro. O motivo: as adaptações dele inspiraram um livro que ficou muito famoso e eu li – O Diário de Bridget Jones. A autora era completamente apaixonada pelo Colin Firth, que interpretou o Senhor Darcy na famosa minissérie da BBC. Ao criar o diário, ela se inspirou na base da história: a antipatia imediata entre os protagonistas que, com o tempo e superando diversos contratempos e pré-julgamentos, se torna amor.

Aliás, o que não falta é adaptação, relançamento, releitura e outras obras derivadas do mote que Jane Austen escreveu e completou 210 anos de lançamento em 2023. É um dos romances mais conhecidos do mundo.

Já teve diferentes adaptações para o cinema – a minha favorita é a de 2005, com a Keira Knightley e o Matthew McFadden. Ela consegue ter vida própria e trazer, de forma bem amarrada, os principais pontos do livro: acredito que ter contado com o conhecimento da atriz, diretora e roteirista Emma Thompson para reescrever o roteiro fez muita diferença. A minissérie da BBC com o Colin Firth e a Jennifer Ehle como protagonistas também é muito boa – tem tempo para abordar vários detalhes.

Orgulho e Preconceito – filme de 2005 Reprodução: Universal Studios

Orgulho e Preconceito

O título faz referência aos dois defeitos que conduzem boa parte do caminho dos protagonistas. E se antes eu imaginava que era um defeito para cada um, agora compreendo como os dois sofrem dos mesmos males. Talvez por isso reagem de forma tão forte um ao outro: Darcy a considera tolerável. E Lizzie se sente ofendida. E este é o ponto de partida dos desencontros que descambam nos dois melhores capítulos do livro (e se bobear, entre os que eu já li): quando Darcy faz o pior pedido de casamento do mundo e leva uma invertida que o faz perder o rumo de casa. E logo na sequência, as explicações dele em uma carta destroem as convicções de Lizzie.

E de bônus: crítica social afiada

A narração da autora não se limita à força dos protagonistas, mas em nos aproximar de todo um contexto da Inglaterra no século XVIII. As mulheres não tinham direitos – eram preparadas para conseguir o melhor casamento.

Neste contexto pense no desespero da Sra. Bennet: tinha cinco filhas, nenhuma herdaria a pequena propriedade da família. Precisavam se casar com as melhores opções possíveis. Entenda a atitude de Charlotte Lucas – sem perspectivas de se casar com ninguém, porque era apenas uma garota comum, se conforma com a opção que consegue.

Charlotte nunca tivera grande consideração por homens ou pelo matrimônio, mas o casamento sempre fora seu objetivo; era a única provisão para moças bem-educadas com pouco dinheiro; e, por mais incerta que fosse em gerar felicidade, deveria ser para elas a proteção mais agradável contra a miséria. Essa proteção ela agora tinha obtido; e aos vinte e sete anos, sem nunca ter sido bonita, e sentia toda a sorte disso.

E a gente percebe que algumas coisas não mudaram. Primeira, o abismo entre as classes sociais. Seja lá em 1797, quando o livro foi escrito, e agora, a gente percebe que algumas criaturas pensam ser melhores por ter mais dinheiro. O esnobismo em julgar inferior tudo que não os agrada ou à classe deles não pertence.

Segunda, a forma como a sociedade controla o comportamento e o corpo das mulheres. As atitudes de Lydia respingam na reputação das irmãs. Se fosse um homem, não haveria problema. Mas as mulheres devem ser comportadas, posturadas, virginais, musicistas, expert em pinturas e trabalhos manuais.

Uma pressão que, por exemplo, causa sofrimento à Mary, a irmã do meio das Bennets, perdida ali entre as duas irmãs mais velhas que se alinham bem entre elas e as duas mais novas, onde Kitty se torna sombra de Lydia até o ato supremo da irresponsabilidade dela fazer os pais ficarem mais atentos à caçula.

“O que você disse sobre mim que eu não merecia?”

Geralmente eu gosto de livros com diálogos. E Orgulho e Preconceito é bem narrativo e descritivo, dos locais, das sensações, das dúvidas e sentimentos dos personagens. A gente viaja pelas paisagens, imagina as casas, os cenários, como seriam os ambientes em que cada personagem está em determinado momento.

E a gente percebe que realmente, de forma orgânica e natural, os protagonistas – e alguns coadjuvantes – mudaram da primeira à última página. É um livro sobre jornada de amadurecimento. Elizabeth e Darcy percebem o quanto estavam equivocados um sobre o outro. Eles percebem que poderiam ser melhores que isso, por eles mesmos e pelos outros. Jane consegue permanecer doce e amável, mas sabendo que nem todas as pessoas são legais como ela é.

Outros permanecem como são: Lydia sempre será fútil e irresponsável; Wickham nunca deixará de ser um canalha; Collins, um irritante puxa-saco tão esnobe quanto a benfeitora.

Creio que o que mais encanta em Orgulho e Preconceito é a nossa capacidade de se identificar com as situações: desde a pressão social; os estereótipos colados em nós, querendo ou não; os julgamentos precipitados; a defesa de uma irmã ou parente querido; os erros e acertos; a fofoca que corre solta por Meryton e pela Inglaterra – naquela época, por carta; hoje por whatsapp. A mãe que se desespera para que as filhas tenham o melhor futuro. E conhecer um homem que não vale nada – e saber que é cilada. O tempo passa e estes perfis permanecem. E aí quando a gente lê, percebe e se identifica – com quem gostaríamos de ser ou com quem não gostaríamos de encontrar.

É um livro muito bonito – pela forma como foi escrito, pelo conteúdo que atravessa o tempo e pelas ligações afetivas que desperta em quem lê. E merecia uma edição à altura. Posso garantir que a edição da Faro Editorial, com o predomínio da cor azul está maravilhosa. Confesso que não seria uma cor que eu imediatamente associaria ao livro, mas funcionou. Então se você ainda não leu, pode procurar.

– Links: site da editora; Skoob; mais dela no Literatura de Mulherzinha.

Arrivederci!!!

Beta

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