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A Razão do Amor – Ali Hazelwood – Cap. 1896

Ciao!

Disponível na Amazon

Cada vez que leio um livro da Ali Hazelwood, tenho lembranças de como o ambiente acadêmico é problemático. E gosto que ela não só aponta como usa como o vilão em meio a uma comédia romântica.

A razão do Amor – Ali Hazelwood – Arqueiro
(Love on the brain – 2022)
Personagens: Bee Königswasser e Levi Ward

Bee tinha recebido a chance da vida: foi escolhida para liderar um projeto de neurociência na Nasa. Além de realizar um sonho, estar no Blink era um passo importante na carreira dela. No entanto, nada é de graça na vida, e ela terá que dividir a coordenação com Levi Ward, um desafeto dos tempos de doutorado. E o pesadelo só piora com a certeza de que o que poderia se complicar no Blink iria se complicar. Mesmo com a inspiração em Marie Curie, Bee vai precisar lutar muito para poder mostrar todo o talento dela.

“A ciência não deixa você na mão”

Com um passado instável, fica óbvio que Bee quer segurança e estabilidade. E isso, definitivamente, a ciência pode oferecer: o questionamento que inspira a busca por respostas. Por isso, ao contrário de Reike, a gêmea espírito livre, ela se estabeleceu nos Estados Unidos, mergulhou nos estudos, se destacou.

E tudo isso a levou para trabalhar em um projeto da Nasa, o Blink, onde a neurociência seria fundamental para melhorar a qualidade de vida e do trabalho dos astronautas embarcados nas missões espaciais.

Como nada é perfeito, ela coordenaria os trabalhos em conjunto com Levi Ward, que nunca disfarçou a antipatia e desprezo profundos por ela na época do doutorado. E a nova relação profissional já começa dando errado, só aumentando a certeza dela de que teria que bater pé e agir para ser respeitada.

Aliados contra o boicote

Mesmo considerando Levi o principal suspeito do boicote, os dois se unem para descobrir que o problema é bem mais no alto. Envolve disputas entre instâncias e lideranças acima deles, o que os transforma em peões sem controle do resultado do próprio trabalho. Portanto, pra conseguir vencer, é necessário saber jogar contra eles.

Em outra frente, precisam quebrar a cabeça para conseguir o objetivo do Blink. A vida ficaria melhor se os engenheiros respeitassem as neurocientistas – Bee foi acompanhada pela estagiária, Rocío. E elas vão precisar abrir caminho também nesta vertente, por que como trabalhar com equipe com quem não te respeita? Possível é, só torna tudo mais complicado – gera desgaste de tempo e de energia.

(E infelizmente não preciso de nenhum romance para me ensinar isso. A vida ensinou)

Só que como diz o famoso esquete de humor: “A vida é uma caixinha de surpresas”. Com reviravoltas no pessoal e no profissional, Bee vai do céu ao mais profundo inferno nesta jornada. E assim como em A hipótese do amor, as garotas entendem parte do que causa o sofrimento dela.

Mais além disso, qualquer um que conviva em ambiente onde há pessoas falsas e destrutivas entende o tamanho do mal contra o projeto e contra Bee – e também contra Levi. Eu me lembrei de uma vez que ouvi um conselho que me mandava refletir sobre a fábula da cobra e do vagalume. A lição de lá se aplica para cá também.

O que Marie faria?

Capa original

Ah, é só uma comédia romântica. Um livro água com açúcar. Sim, mas escrito por Ali Hazelwood que conhece o ambiente acadêmico e não precisou imaginar os percalços que as protagonistas enfrentam.

Assédio sexual e moral. Ter as palavras ignoradas até que sejam chanceladas por um homem – mesmo que a especialista no tema seja ela e não ele. Aguentar as piadinhas misóginas com graça para não ser tachada de agressiva e histérica. Ter que jogar o jogo deles para ter vida longa na academia. E detalhe: sem poder reclamar, afinal de contas, não quis entrar em um ambiente que não próprio para mulheres? Agora aguenta.

Marie Curie enfrentou tudo isso. Não foi fácil. Com muita persistência, seguiu em frente e quem pensar em contestá-la vai ter que engolir dois prêmios Nobel em áreas diferentes.

Mas, não estamos falando do início do século 20, mas de atualmente. Vá a uma aba de pesquisas e busque por escândalos em centros de ensino e pesquisas. Vai encontrar – e o pior, nada velho. Sempre algo recente. E, claro, infelizmente, extensivo a outras áreas de trabalho. É um problema crônico da nossa sociedade. E toda vez que alguém discute, vem a crítica do “mimimi” e da militância para desmerecer uma pauta séria. A discussão levaria a ambiente mais saudáveis para homens, mulheres, LGBTQIA+.

Enfim, não vai ser uma resenha sobre um livro que vai mudar isso, mas precisava marcar minha posição. Afinal de contas, quem bate tem a memória conveniente; mas quem apanha não esquece – as cicatrizes, mesmo invisíveis, não deixam.

E se você ainda não leu A Razão do Amor

Leia. Ele consegue equilibrar temas sérios e diversão, a comédia romântica e a jornada dos personagens sem deixar o pique cair. Os títulos fazendo referência ao cérebro. Gosto de ver os holofotes para os “nerds”, rompendo aquele estereótipo coadjuvante/saco de pancada/vítima de bullying que sempre apareceu nos filmes.

Aqui eles são protagonistas – portanto a gente vê o lado brilhante ao mesmo tempo que percebe a insegurança, o medo e as falhas que vão aparecer no caminho. São pessoas como quaisquer outras com interesses variados. Independente de roupas, cor de cabelo, estilo, área de estudo. Podem ser legais ou cretinos. Ou seja, seres humanos em luz e sombras.

E acima de tudo, NECESSITO ler uma biografia decente sobre Marie Curie. Claro que uma mulher, cientista, no início do século 20 que conquistou dois prêmios Nobel é digna de nota. Mas a forma como ela é a inspiração de Bee ao longo do livro me fez querer saber mais sobre ela. Mais que uma pesquisada no Google pode resolver. Se tiverem sugestões, eu estou aceitando.

– Links: site da autora; Skoob; mais dela no Literatura de Mulherzinha.

Arrivederci!!!

Beta

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